"Points" e moradia digna

Do jornalista Manuel Dutra, sobre a nota Em defesa dos "points" , da leitora Kátia da Silva Portela, residente em Brasília.

Jeso, agradeço a discordância de Kátia da Silva Portela sobre as minhas posições expostas no texto “Atrações turísticas? Turismo é outra coisa”, publicado neste blog. Quero apenas repetir a frase que está no meu artigo e que foi repetido por Kátia, em sua educada e culta réplica: "uma política de fomento ao turismo não se faz dessa maneira, com criação de 'points' extremamente caros e sofisticados, cheios de serelefes que encantam as elites locais e não atraem turistas". E acrescenta Kátia, logo a seguir: “Engana-se o professor”.

Não, Kátia, eu não me engano, porque se você fizer a análise hermenêutica (palavra bem ao gosto de muitos advogados, espero que não dos seus professores de Direito, em Brasília), você vai perceber que há pontos de concordância entre o que eu escrevi e o a sua contestação (outra palavra forense!).

A essência do que eu escrevi, você perceberá numa releitura do meu texto, é que uma política pública de fomento ao turismo não pode se basear na construção de “points”. Mas não condeno de modo absoluto essas atrações esparsas, disseminadas dentro de uma cidade que, por si, não atrai visitantes, tantos são os seus problemas básicos que infernizam os seus habitantes e, portanto, incapazes de atrair quem busca ver coisas agradáveis.

No meu texto eu digo que os “points” de Belém são bonitos, mas incapazes de ser apontados como chamarizes de correntes turísticas. Uma política pública, ação entre governo e sociedade, é algo mais profundo e, por isso mesmo, possível de se realizar.

A concentração de uma “política” de fomento ao turismo pela construção de “atrações” é o mesmo que manter uma jóia bela e rara depositada dentro de uma casa onde inexistem condições de moradia digna. Só vai entrar lá quem tiver um interesse muito especial. É com esta casa, com as nossas cidades, que me preocupo em primeiro lugar.

Não faz sentido, por exemplo, colocar belos móveis e outros utensílios caros e sofisticados dentro de uma casa onde não há higiene, as paredes estão mal pintadas e não dispõe de esgotamento sanitário. Quem vai entrar lá?

Obrigado pela sua discordância.

Comentários

Anônimo disse…
Kátia vc pode estar certa masainda concordo em usar a biodiversidadeamazonica como maior atrativo, Essa atitude nos levaria a preservação dos poucos "sites" como o Maica, Ponta Negra, Jari que ainda nos restam, embora já um tanto detonados.