
Antenor Giovanini (foto), 58 anos, vive amanhã o seu último dia de trabalho na Cargill, onde ingressou em novembro de 1969.
- São exatamente 37 anos, 5 meses e 21 dias de empresa - disse ele ao blog. Seu desejo era trabalhar até completar 40 anos na multinacional, mas não houve acordo.
Nascido em São Paulo, o pai da mocoronguinha Giovana decidiu adotar Santarém como sua terra. E aqui pretende morar.
Sobre a lição que leva na Cargill depois de quase quatro décadas, ele cita:
- Não desistir dos objetivos, acreditar nos sonhos, ser persistente, ter linha de conduta em todas as etapas de qualquer negociação, ter disciplina de trabalho e de ação. Fazer do trabalho algo gratificante e não estafante.
Comentários
Para ele, objetivo técnico deriva também de conceituação própria defendida com alta sensibilidade.
Trabalha pensando, correndo, produzindo, mas sempre sentido...
Desejo-lhe mais e mais sucesso!
Roberto Vinholte
Deveria ir embora a empresa Cargill inteira, tirando do nosso cenário essa pirâmide de aluminio horrivel que enfeia a frente da cidade. Não adianta a cara de boi sonso que quebra a cancela da porteira como se fosse bonzinho.
De qualquer forma, ficar ou não ficar em Santarém é outro assunto. Nossa cidade tem tradição de ser receptiva, quando interessa principalmente à elite econômica tradicional local.
Serviu bem? Serviu mal? Difícil de responder. É fato que, durante sua gestão, a imagem da Empresa que serviu, em Santarém, no Brasil e no Mundo ficou manchada.
Faz parte da vida de todos nós executarmos funções em qualquer âmbito de nossa vida, e dependendo do tipo de função executada, as responsabilidades são maiores ou menores, nunca são totais.
Qualquer que seja o lugar que ocupamos na sociedade, nem sempre o que executamos é justo, porém executamos.
Acusar Giovanini de exercer funções não faz justiça a sua pessoa. É como acusar um soldado de ter deflagrado a guerra pelo fato de estar matando seu oponente.
Estou falando de mandados e graduados, não dos mandatários.
Lembre-se que, quem deflagra as guerras (os mandatários) geralmente nunca viu uma arma, e nunca arriscou nada de si mesmo.
O Filosofo
P.S.
Jeso,
Sugiro que contrate o Roberto Vinholte para ser mestre de cerimônia do seu Blog. Sabe homenagear todo mundo como ninguém. Ou será que quer se dar bem com todo mundo?
Só espero que o ex-cargillino não continue seus sonhos agora vendendo as "chiquinhas bananas" e continue a ter "disciplina de ação" inconfessável.
Qual é o principal objetivo da sua viagem à Argentina?
O principal, aqui em Buenos Aires, é estabelecer redes entre os trabalhadores da Cargill do Brasil e da Argentina. Isso reforçará enormemente um movimento internacional que, esperamos, faça com que a empresa atue de forma racional, retome as negociações e cumpra os acordos estabelecidos. Esta idéia já foi analisada em um seminário internacional realizado em São Paulo no ano passado, no qual participaram as organizações filiadas da UITA no Brasil que representam os trabalhadores da Cargill e uma delegação da União Argentina de Trabalhadores Rurais e Estivadores (UATRE).
O que buscamos agora é aprofundar uma aliança específica com a UATRE e os sindicatos da alimentação da Argentina. Devemos otimizar os níveis de coordenação – na reflexão e na luta – dos trabalhadores e trabalhadoras em toda a cadeia agroalimentar, onde atua uma mesma companhia transnacional. A metodologia a ser desenvolvida deve trabalhar cada ponto da cadeia, já que a Cargill é uma empresa muito diversificada quanto aos produtos, que vai desde soja à cana-de-açúcar e produção avícola.
Neste sentido, a aliança com a UATRE nos permitirá organizar e coordenar o setor desde a produção primária destes insumos, dos quais a Cargill produz muito na Argentina e também os processa. No Brasil, também trabalhamos com a indústria e com os assalariados rurais ao mesmo tempo, quer dizer, cobrimos todos os elos da cadeia.
Esta união se dará só entre o Brasil e a Argentina?
Esta é uma rede que está iniciando aqui e acreditamos que se estenderá a outros lugares, já que temos falado com sindicatos de muitos países, inclusive dos Estados Unidos. Estamos em uma etapa de recompilação de dados e de saber como funciona a nível mundial esta engrenagem gigantesca chamada Cargill. Queremos saber quais são as condições de trabalho desta multinacional em outros países e se só no Brasil se comporta dessa forma. Toda a informação que possamos obter na Argentina será muito valiosa para nossa luta.
Para enfrentar um monstro assim, devemos saber de onde vem, que hábitos tem, o que come. Estamos nesta fase agora.
Como andam as negociações com a Cargill no Brasil?
Neste momento, as negociações entre a Cargill e os sindicatos estão suspensas, apesar de que levamos dois anos de luta tratando de abrir espaços para o diálogo e buscando soluções para melhorar as condições trabalhistas nesta transnacional. A Cargill é uma empresa que não respeita em nada os sindicatos, nem melhora as condições de trabalho e salubridade dos trabalhadores. Chegou inclusive a proibir que os operários contribuam voluntariamente com os seus sindicatos, tratando de deixá-los sem nenhuma defesa frente aos tratos abusivos da empresa. Acredito que a Cargill deixou bem claro sua política anti-sindical, retroagindo na relação com os trabalhadores às primeiras épocas da revolução industrial, ao convertê-los em reféns e escravos da empresa.
Que metodologia de trabalho utilizam nas fábricas?
A Cargill é sem sombra de dúvida a pior empresa no setor avícola que temos no Brasil. Sua política é de sistemática violação aos direitos dos trabalhadores e isso se demonstra quando não permite a entrada da assistência médica nas fábricas, especialmente nas de produção de frangos. Os operários são tratados por médicos dentro da empresa e ,às vezes, saem de ambulâncias de dentro das fábricas.
É possível comprovar os prejuízos físicos causados aos trabalhadores e trabalhadoras?
Sim, porque o "pior" é que a empresa tem cada vez maior produção, com o que incrementa o ritmo de trabalho até ficar insuportável. Isto está causando sérios danos aos trabalhadores e lesões por esforços repetitivos, tal como sucede nas máquinas de produção em série. Isto é o pior de tudo porque incapacita o trabalhador e a trabalhadora pelo resto de suas vidas. Mas também se pode ver na saída do horário de trabalho, trabalhadores com os braços e as mãos marcadas e feridas. Este é um dos horrores, praticado a portas fechadas que comete esta multinacional norte-americana, a fim de que a sociedade brasileira não saiba sobre as péssimas condições de trabalho a que submete os seus empregados.
É verdade que a Cargill pretende ideologizar o conflito?
O que acontece é que a Cargill pertence a uma família retrógrada. Para eles, toda relação capital-trabalho é um problema político. Por isso deram sua versão: "O que acontece no Brasil é um problema ideológico: socialistas contra capitalistas". Então, os sindicalistas são tratados como na Guerra Fria, como um obstáculo para a produção. Em minha opinião estão loucos. São gente que vê os operários como inimigos. É uma contradição incrível, já que é a empresa mais moderna quanto a satélites, controles remotos digitais e tecnologia; contudo, tem séculos de atraso em outros temas, como no trato com seus próprios funcionários.
Qual é a posição do governo brasileiro?
O Ministério da Justiça tem uma imagem da Cargill, e de vez em quando a castiga. Mas nós queremos uma posição mais dura do governo, nas decisões que mais doem na empresa, como os benefícios fiscais ou de exportação. Nossa posição é que o governo deve outorgar-los, mas na medida em que haja uma contrapartida da empresa para seus trabalhadores. Da mesma forma, não estamos falando de uma empresa normal, de mercado, que atua segundo as regras de um país democrático. Não se pode tratar esta empresa escravista igual a tantas outras que cumprem com seus deveres sociais. A Cargill tem problemas em todos os setores onde atua: café, chocolate, abonos, produtos químicos, soja, cana-de-açúcar, sementes. Atualmente, um de seus portos privados chegou a ser fechado por problemas ambientais. Mas a prioridade que temos é a campanha nacional contra a indústria de frangos, cujo símbolo perfeito da maldade, da crueldade, de trato escravista, de política anti-sindical, está representado claramente pela Cargill.
O que tem sido feito para denunciar as práticas da Cargill?
Não ficamos de braços cruzados e temos buscado apoio e relações internacionais para que os consumidores europeus conheçam a situação de como são feitos os produtos da Cargill. Além disso, temos conseguido fazer alianças com grupos de defesa do consumidor e também com redes sindicais do Velho Continente.
Em Buenos Aires, Geraldo Iglesias e Javier Amorín
Traduzido por Vanessa Prates
FONTE-www.cut.org.br