Pensata

O tempo não pára

Eduardo Dourado (*)


"Através da interpretação, a compreensão;
através da compreensão, a apreciação,
e através da apreciação, a proteção".

Freeman Tilden.



Comunicação é mediação. Comunicar é estabelecer uma relação, uma ponte mental entre transmissor e receptor de mensagens, informações, sentidos, emoções, representações.

Essa é, também, a essência do ato de interpretar o patrimônio ao informar, difundir conhecimento, revelar significados, contar histórias e ampliar consciências para entender a alma do lugar.

Para melhor contextualização dos conceitos, aqui expostos, o termo patrimônio ao qual me refiro, tem que ser entendido num sentido mais amplo, como um "legado cultural", que se estende para além de obras de arte como a pintura, a escultura e arquitetura.

A dança, a literatura, o teatro, a música, o conhecimento, as experiências passadas, apesar de imateriais, também são considerados como patrimônio cultural e artístico. Por conter "um valor simbólico no contexto da sociedade em que ocorrem, devem ser tratados e registrados como bens patrimoniais".

Nesse sentido, a criação de um Museu da Imagem e do Som seria um importante instrumento para política de documentação e divulgação da cultura e da história santarena contemporânea, com pesquisas permanentes visando constantes atualizações histórica e cultural.

Essa talvez seja a maior preocupação que deve nortear qualquer museu: não só guardar coleções materiais, mas também registrar importantes experiências e conhecimentos.

Inicialmente seria a pesquisa e posterior catalogação do material já existente, textualizados e fotografados, depois o áudio e vídeo.


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O Museu da Imagem e do Som pode deixar registrado depoimentos de protagonistas da nossa história...

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Será que alguém tem algum material gravado com a voz de Expedito Toscano? Do Machadinho, o cavaquinho do Laudelino, o piano do Isoca, a flauta de mestre Luciano, o sax do "seu" Bazinho, do Nen, o sopro do Nicanor. Se houver, qual a tecnologia usada? Com certeza será ainda em fita cassete, um material que se não estiver bem guardado se perderá com o tempo.

Hoje, com a tecnologia da digitalização, um novo patamar de uma sofisticada técnica digital pode dar ao material gravado uma nova consistência.

O Museu da Imagem e do Som pode deixar registrado depoimentos de protagonistas da nossa história, tendo como principal objetivo incrementar o conhecimento, colocando a disposição do público as vozes e sons do passado, a história oral e, posteriormente, em vídeo, pois igual compromissos existirão com a fecundação de novos projetos, de hoje e de amanhã. O tempo não pára.

A documentação oral, videográfica e fotográfica iriam alimentar o acervo do museu nas áreas a que se dedicariam, procurando criar articulações entre as várias linguagens, permitindo a nossa juventude uma compreensão dinâmica e abrangente da nossa história e do processo cultural santareno.

Alguns anos atrás, conversando com a filha do grande poeta santareno Rui Barata, em um dos melhores bares do Brasil, o Cosa Nostra, ela falou que sua mãe tinha muito material, música, poesias, escritos para Santarém, mas não tinha uma instituição para que fosse doado esse material. Quem sabe um "Museu da Imagem e do Som Rui Barata" possa recebê-los.

"É preciso começar a perder a memória para perceber que
é justamente esta memória que faz toda a nossa vida.
Uma vida sem memória não seria uma vida, assim como
uma inteligência sem possibilidades de se exprimir não
seria uma inteligência. Nossa memória é nossa
coerência, nossa razão, nossa ação, nosso sentimento.
Sem ela não somos nada."

(trecho do documentário Memória de Roberto Henkin e Jorge Furtado)

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* É publicitário e produtor de vídeo.

Comentários

Anônimo disse…
Eduardo,aceite meus parabéns pela oportuna e feliz sugestão.Até a homenagem ao Ruy,que tive a honra de conhecer,são apropriadas.
Gostaria de acrescentar à sua idéia uma proposição.

1. Maria desapropriaria uma boa área próxima do centro.

2. Construiria uma bela escola nesse local,denominando-lhe...Frei Ambrósio.

3.Demoliria a atual escola.

4.Construiría a Fundação Ruy Barata,que manteria o Museu da Imagem e do Som,um Centro Regional de Convenções e Cultura,além do mais formidável mirante de todo o Amazonas.

5.Desapropriaria também os dois terrenos da Siqueira,de propriedade do Celso e do Paulo Lisboa.

6.Neles construiría uma "escadaria",unida em cima ao Centro Cultural e de Convenções e em baixo ao espaço da praça em frente,à orla e ao trapiche que está sendo (ou vai ser)reformado.

7.Montaria uma concha acústica móvel,que pudesse ser utilizada no final da escadaria ou em cima do trapiche.
Santarém teria o maior e mais bonito espaço cultural a céu aerto do Norte,e eu conheço todos.

Na mão de gente como Nei,seu guru,Ary e tantos outros ótimos profissionais que tem aí,seria uma espetacular ação de governo.

Ceramente haverá problemas - fluxo de veículos,resistencia do maciço,financiamento,entre outros.
Mas será que não valeria a pena?

Grande abraço.