A morte é uma grande viagem

Foto: Erik L. Jennings Simões
Baleia do Tapajós

por Erik L. Jennings Simões (*)

Uma semana depois de aparecer, ela morreu. Mostrou que a morte não passa de uma grande viagem. Fez sua própria: do Atlântico ao Tapajós.

Por algum tempo, com sal e limo nas costas, brincou com nossa tristeza e alegria, quando ia no fundo e boiava em outro lugar do rio. Deixou-nos dúvidas, certezas e esperanças.

Dúvidas para a ciência, para doutor, cabôco, mulher e curumim. Dúvidas para boto, jacaré e avium.

Certeza de que a vida, às vezes, é forte, grande e desafia distâncias e o pouco do já estabelecido conhecimento que temos. Certeza que, nem que seja próximo ao final, podemos adoçar a vida. Certeza que a morte, a viagem, é apenas mais uma oportunidade de integração com a natureza e com o próximo.

Esperança que outras baleias possam vir e ficar mais um pouco por aqui. Esperança que os humanos, possam ser mais humanos com outros animais, com eles próprios e com a natureza que os rodeia.

Esperança que possamos compreender que o homem não é mais importante que outro ser vivo, e que nem um outro ser vivo é mais importante que o homem. O mais importante é que habitamos a mesma casa. Fazemos a mesma viagem.

O mais importante é não termos dúvidas do rumo, mas a esperança e a certeza que cada um de nós, de alguma forma, escolhe o seu o próprio rio ou lugar para descansar e morrer.

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* Santareno, é médico neurocirurgião.

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