Lula versus FHC

No blog do jornalista Mino Carta:

Fernando Henrique Cardoso acaba de se manifestar, à margem da grande reunião tucana, da qual Aécio Neves preferiu manter afastado o senador Azeredo, por razões além de óbvias. FHC disse que Lula é um iletrado inculto que não sabe usar a língua portuguesa. E que ele, do alto de sua sabedoria e traquejo de ex-presidente, se esforçará para prestar a sua imprescindível colaboração à eleição em 2010, de alguém capaz de dominar o vernáculo.

A crítica do príncipe dos sociólogos a Lula é, no mínimo, grosseira e preconceituosa. Uma análise baseada na verdade factual dirá que Lula se tornou orador convincente e que sua lida com o vernáculo supera o aceitável. E haveria de ser devidamente considerado outro aspecto da oratória do presidente-metalúrgico: ele tem o charme, certo encanto natural, de que carece FHC.

E nem se diga que este é mestre da língua. De hábito, da tribuna, exibe retórica chã, comedidos vôos pelo riquíssimo vocabulário português e um poder soporífero raramente navegado. Aliás, insisto em uma pergunta aos prezados companheiros de navegação: quais e quantos livros de FHC vocês já leram até hoje?

Comentários

Anônimo disse…
ótimo! ao republicar este texto, o Jeso admite explicitamente que não faz parte do PIG. ;) rsrsrrs --->> link: http://tinyurl.com/3x98a7
Jeso Carneiro disse…
PIG não, Alê, por favor! Desse clube quero distância... quilométrica...rs...rs
Andre Paxiuba disse…
Muitas pessoas são bastante educadas para não falar errado, porém não se preocupam em fazê-lo com a cabeça oca.
Falar errado tem suas desculpas; o que não se pode perdoar é vender as empresas brasileiras Pais, vender o pais ao capitalismo sevalgem americano, tem em suas fileiras os maiores assaltadores dos cofres publicos brasileiros e ser preconceituso.
FHC demonstra com isso que realmente perdeu o faro da politica, é que estar gágá.
Anônimo disse…
Do blog do Reinaldo Azevedo:

Ainda FHC, Lula, os educados e os tontons-macoutes do petismo
Lula nem precisa devolver a FHC a crítica que este lhe fez no congresso do PSDB — aquela história de dizer que os tucanos são gente que “trabalha e estuda, que estuda e trabalha”. Os tontons-macoutes do petismo na imprensa já o fizeram — e, como não poderia deixar de ser, pelo viés da luta de classes. Assim, o atual presidente e o ex pertenceriam a classes sociais distintas, e o tucano, então, expressou só uma forma de preconceito. Segundo a professora petista Maria Victória Benevides, tudo não passou de “inveja”. Os peões do partido ainda não decidiram se contra-atacam com o Lula vitorioso ou com o Lula vítima. FHC, ademais, escorregou no “melhor educados”, forma admitida por alguns (eu não admito), em vez de “mais bem educados”. Talvez essa lição pegue — e quem sabe os jornais, que estão obrigados a seguir a norma culta, parem de errar.

O debate no Brasil é miserável, sim. Mas não por causa de FHC. Entre 1995, seu primeiro ano de mandato, e 2002, o último, ninguém apanhou no Brasil mais do que ele, especialmente de certas correntes universitárias que iam de um niilismo pseudo-ilustrado — o filósofo Paulo Arantes, que prefere a morte a ser claro — ao petismo mais instrumental, cujo objetivo era desmoralizar o governo junto aos chamados setores formadores de opinião, oferecendo, no lugar, um certo socialismo libertário: alguns o fizeram com nenhuma bibliografia, como Emir Sader; outros, como Marilena Chaui, com o concurso de algumas notas de rodapé. De qualquer modo, a ordem era fazer tábula rasa de toda e qualquer medida do governo.

Tenho aqui toda a coleção Zero à Esquerda. Lida e anotada. Por onde andará, por exemplo, José Luis Fiori, sempre convocado a prever o apocalipse e o desastre do país por causa do Plano Real? As conquistas agora, de Lula, que tanta "inveja" causariam a FHC, vejam vocês, são conseqüência de tudo aquilo que Fiori, Arantes, Chaui, Maria da Conceição Tavares e Sader, entre outros, sustentaram que não daria certo. E com ampla cobertura da mídia isenta e crítica. Ainda bem. Seu papel e mesmo promover o debate.

Sim, tenho meus pontos de vista. Bato pesado se acho necessário. E apanho idem. Mas não sou desonesto intelectualmente. O apocalipse que seria provocado pelo Plano Real falhou. Que não se reconheça a importância de FHC no processo de eliminação da inflação na economia brasileira — e, para dar o salto de qualidade, o país não precisou mergulhar na anomia, como aconteceu na Argentina — e no ordenamento institucional que resultaram em bons frutos para Lula é, sim, matéria que diz respeito à moral — ou, mais propriamente, à imoralidade.

Aos poucos, nos dias vindouros, publicarei aqui trechos das previsões apocalípticas que então se faziam. E como FHC apanhava bonito! E o mais curioso é que apanhava justamente por ser um “intelectual”, que tinha, de fato, para lembrar expressão de um amigo seu, “certa herança marxista”. No front um pouco mais elitizado da crítica, era tratado como traidor; Lula, ele mesmo, fazia troça do então presidente por conta de sua formação universitária. A FHC se atribui, de modo canalha, uma frase que nunca disse porque não teria necessidade de dizê-lo: “Esqueçam o que eu escrevi”. Esquecer por quê?

E nunca se apontou “preconceito” nenhum. Porque, no fim das contas, um iletrado ironizar um letrado se confunde com ato de resistência; já o contrário só pode ser manifestação de prepotência. Mesmo quando o iletrado atribui as virtudes de seu governo a um defeito — a sua pouca formação — e não a uma qualidade: a prudência. Sim. Lula foi prudente ao ouvir, por exemplo, Antonio Palocci em vez de Aloizio Mercadante. E isso foi uma qualidade. E Palocci foi prudente ao ouvir, por exemplo, o brilhante Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica, em vez de Guido Mantega. E isso também foi positivo. Mas nada disso Lula fez com a sua ignorância. Isso, ele fez com a sua sabedoria.

José Múcio, atual ministro das Relações Internacionais e político da base governista quando FHC era presidente, lembrou o que chamou de “sistema americano”, segundo o qual o ex-presidente não deveria falar. Homem sábio esse Múcio. Esqueceu-se, no entanto, que jamais se viu um mandatário americano atribuir a um ex as dificuldades que atravessa. Aliás, nem o malhado Bush — pesquisem para comprovar o que digo — se atreve a personalizar atos de governo. Para coisas boas ou ruins, o sujeito da frase é sempre “a América”. E Lula? Vive de demonizar o passado. Tentem encontrar um miserável reconhecimento que seja a seu antecessor. Nada! Vá lá. É quem é. Mas o que dizer de uma professora paga com dinheiro do estado, Maria Victória, a apontar a “inveja” do ex? Inveja, agora, virou categoria política. O debate ideológico é coisa de salão de cabeleireiro. FHC está apanhando porque se nega a apanhar calado. É um acinte.

E vejam como são as coisas: eu, porque escrevo isso, serei tachado pelos petistas de “fernandista”, “tucano” ou sei lá o quê. Como de hábito — e como se eu desse bola... Mas quem escreve o contrário, evidentemente, não é nem “lulista” nem “petista”. É neutro. Estamos diante de uma nova categoria do pensamento acadêmico e até da prática jornalística: a chamada neutralidade a favor (do governo) e contra os partidos da oposição: estes, quando não são preconceituosos, são golpistas.

Mangar de FHC porque a norma culta diz ser preferível o “mais bem” ao “melhor” antes de um particípio empregado como adjetivo é dar ao intelectual prepotente uma lição; pegar no pé de Lula por conta de suas batatadas diárias é preconceito; quando FHC, no passado, fez a aliança com o PFL, estava traindo a sua trajetória intelectual; ter Lula, como aliada, a escória do que antes se chamava “direita” é ato de realismo político. Os petistas lançam no mercado político — como os jornais noticiaram à farta — o balão de ensaio do terceiro mandato, mas quem apanha é a “oposição”, com seus supostos pendores “venezuelanos”.

Muitos leitores mais conservadores do que eu reclamam quando aplaudo FHC. E aplaudo mesmo. Tenho certa confiança — algum otimismo é preciso — de que o pensamento ainda não morreu no país. O tempo se encarregará de deixar registrado que, numa América Latina que mergulhou no caos ou no populismo no tempo em que ele foi presidente, o Brasil só avançou institucionalmente. E é aquele avanço que impede que a situação política no país degenere para alguma forma autoritária de “democracia” dita “popular”. Parte da imprensa, infelizmente, se rendeu à versão cabocla do Tirano de Siracusa. Criticar FHC era mister da academia e do jornalismo. Criticar Lula é sabotagem e preconceito de classe.

Não para a Mídia do Contragolpe.

Por Reinaldo Azevedo | 05:24 | comentários (73)
Anônimo disse…
O que é certo e errado na Língua Portuguesa?
Não, não quero fazer qualquer tipo de defesa intransigente do "importante é comunicar" (mesmo porque não concondo com isso), mas a atitude de FHC é de um preconceito absurdo.
O uso que se faz da língua é resultado de uma série de experiências que não se limitam à escola, à universidade, à cátedra...
É evidente que Lula tem limitações lingüística, mas é clara também sua capacidade de comunicar-se com coerência (mesmo diante de clichês, "muletas" e neologismos esquisitos).
Não quero defender ideologias, apenas o direito de a língua ser usada prazerosamente, sem imposições, retaliações ou preconceitos.
Anônimo disse…
Quem é mesmo FHC? o QUE ele foi na vida? Ele ainda existe?
Anônimo disse…
Senhor Reinaldo Azevêdo, para começar, parabéns pela lucidez de seu texto, que muito bem faz jus ao aforismo "para criticar é preciso conhecer". Bem se vê que uma crítica lúcida deve ser feita por quem conhece as entranhas do pensamento político deste país. Com relação à "crise" que se instaura cada vez que o FHC diz uma coisa minimamente inteligente, a contrastar com o nanismo intelectual do Presidente Lula, digo que este é o País da ditaruda do hipossuficiente! Quando um imbecil fala, o acadêmico deve murchar a orelha! O Lula, que sabe muito bem fazer uso de seus muitos tentáculos, não desconhece apenas o idioma pátrio, mas, sobretudo, a cultura e a tradição de nosso povo. É um homem sem memória, um pseudo-esquerdista que opera em um governo ambidestro (fala com a esquerda tão bem quanto joga com a direita). Quanto à fala do prof. Romi Eduardo, não fica bem para o senhor, que conhece a necessidade de manter a cultura, a literatura e a tradição através do idioma pátrio - que o senhor, aliás, domina muito bem- defender a "iletrice" do Lula. O que vai dizer a seus alunos quando lhe perguntarem se qualquer forma de comunicação é válida nas redações de vestibular? E como eles lerão Camões, Garret, Machado de Assis...nesse espírito do tudo vale pela comunicação? Retaliar ao Lula por ser a besta-mor do intelecto político brasileiro é retaliar a nós mesmos, por termos eleito Presidente do maior país da América Latina um molóide quase acéfalo.