Poesia

À mulher do poeta

É quase meia-noite
Ouço tua voz soar
Cantando meu pior hino
Num canto qualquer do bar

Nas tuas mãos um vinho
As melodias são pobres
Mulher de poeta louca
Adulterando os acordes

Feito um porto de palavras
Teu corpo é dos sussurros
Dos sons do casual silêncio
Quando te amo e me iludo

Há se tu morreres por nada
Sem nenhuma causa
Sem nenhuma paixão
Com as minhas poucas pensatas
Com o meu vadio violão

Há esses rios que me afoguem
Quando tua ausência chegar
Sem nenhuma complacência
Me encurralando nesse bar

----------------------

De Nelson Vinencci, cantor, compositor e poeta tapajônico.

Comentários

Anônimo disse…
Inevitável: essa poesia de Nelson Vinencci nos remete à "atmosfera dark" criada pelos poetas românticos da 2a. geração, a do "Mal do Século". Ao lê-la lembrei de imediato de Byron e seu similar nacional, Álvares de Azevedo. A simplicidade dos versos é outro ponto que me chamou atenção. O "eu-poético" se encaixa como uma luva na ambientação do cenário criado pelo poeta. Simplicidade não como sinônimo de superficialidade, de "raso". Nada mais filosófico e profundo que os versos
"Feito um porto de palavras
Teu corpo é dos sussurros
Dos sons do casual silêncio
Quando te amo e me iludo".

Parabéns!

Melo Merquior