PSOL não é o melhor caminho

O post "Meu sonho, agora, está no PSOL" suscitou o comentário abaixo, da lavra do jornalista Jota Ninos:

Caro Everaldo Portela,

Eu também me desiludi com o PT e já me desfiliei do partido, mas não acho o PSOL o melhor caminho.

Respeito sua decisão por ter convivido os momentos intensos dentro e fora do partido e corroboro com o que disse Anselmo Colares, pois sua mudança não é como as que estamos acostumados a ver, inda mais pela postura de abrir mão de uma candidatura a prefeito.

Espero que você consiga levar sua voz pelo menos ao parlamento mirim, e aí sim homenagear seu pai e provar que pode ser um parlamentar melhor que ele ou que sua tia, Beth Lima.

Sei dos sofrimentos que você teve ao enfrentar seu homônimo, seja quando assessorava a ex-vereadora Socorro Pena (antes desta ser cooptada pelo outro Everaldo), seja quando assessorou o inconseqüente vereador Marco Aurélio, que traiu a confiança daqueles jovens que o elegeram, à frente você como baluarte daquela candidatura de esperança.

Que o (p)sol ilumine o seu caminho... e que não queime a nossa língua.

Comentários

Anônimo disse…
J. Ninos

N�o basta dizer que o PSOL n�o � o melhor caminho, tem que apontar ent�o, qual o melhor. Ir pra onde?

Nazareno Lima
Jota Ninos disse…
Caro Nazareno,

Para dizer a verdade eu não sei qual é esse caminho.

Ainda comungo com o ideários de esquerda com tendência ao centro e principalmente com um viés humanista, e se possível pragmático. Isso às vezes me aproximaria de uma filosofia social democrata, mas sem a plumagem tucana que há muito está mais para o liberalismo thatcheriano ou do "movimento dasluniano" brasileiro conhecido como "Cansei" (cansaram das piscinas e das jóias...).

Sou como muitos órfãos da filosofia petista que se encontram numa encruzilhada à espera de uma nova proposta de organização partidária que mantenha os ideais socialistas, mas sem os sectarismos de facções que não apresentam propostas claras de poder e que se aproximam da completa anarquia.

O PT sempre foi formado por várias facções, umas mais conseqüentes outras não. Passei pelas duas. O problema é que aquelas que evoluíram do sectarismo dogmátimo para um projeto de poder acabaram comandando a cúpula e, como no caso de José Dirceu (e de Everaldo Martins, na esfera local) acreditaram que para manter o partido no poder vale usar das mesmas armas que a direita sempre usou: a cooptação aliados através de cargos, recompensas financeiras ou acordos espúrios. Isso os aproxima, literalmente do PMD "colchade retalho", ou seja, o poder pelo poder simplesmente.

Quando eu digo que o PSOL não é o melhor caminho é porque critico partidos ou facções de esquerda que ainda têm um discurso sectário baseado em dogmas leninistas-marxistas ultrapassados. Partidos como o PSOL, PSTU, PCO e PCB, vivem ainda no tempo em que defender revolução armada e o fim das chamadas elites, era o único projeto de partido.

São grupelhos que usam de uma pregação fundamentalista sem sentido e que não encontram eco na sociedade e acabam contribuindo com o discurso de seus opostos extremos, os Democratas e outros partidos de linguagem neoliberal.

Minha angústia está exatamente em não encontrar em partidos ditos de esquerda, pelo menos o "charme" que o PT teve desde sua fundação. O PC do B é o que mais se aproxima disso, mas lhe falta consistência e determinação para ser mais que um mero partido-satélite do PT; O PSB e o PDT depois que perderam suas maiores lideranças (Arraes e Brizola), vêm se descaracterizando como partidos de esquerda. E o PPS então, há muito tempo é um aliado da direita mais raivosa, enquanto o PV não é nem sombra do que são os partidos verdes europeus.

Meu ceticismo beira um niilismo nietzscheano, mas preciso ainda me aprofundar nos ensinamentos do Nietzche (que estou relendo) para, quem sabe, poder me reencontrar (ou me perder de vêz...).

Até lá, fico te devendo uma resposta mais completa. De antemão acho que é necessário que discutamos todas as filosofias que existam através de fóruns virtuais como esse blog ou de encontros presenciais em que se possa discutir a inserção política e ações de cidadania consistentes, sem o ranço da pura partidarização eleitoreira e consolidação de candidaturas, muito embora o parlamento seja ainda um caminho a seguir (ainda que dificil de domar, como qualquer sistema organizado).

E apesar de não acreditar no PSOL ou outros partidos da mesma linha, defendo o direito de todos opinarem sobre tudo, o que certamente muitas dessas facções nunca vão saber fazer. O mais certo é que eu seja apedrejado ou chamado de "pequeno-burguês decadente" e nunca de democrata (na acepção da palavra grega e não na demoníaca concepção pós-PFL, diga-se de passagem...).

Consegui explicar algo ou só confundi mais, Nazareno?
Anônimo disse…
quem sabe o PPS seria o melhor caminho? ainda mais agora que há beldades como Gretchen e Sabrina Sato entre as futuras candidatas a vereadoras de SP sob esta legenda.
Anônimo disse…
Uma correção: onde se lê 'literalmente do PMD "colchade retalho"', leia-se 'literalmente do PMDB "colcha de retalho"'

Jota Ninos
Anônimo disse…
Caro J. Ninos,

Você não confunde, discute, isso é legal.

Não tenho o dom do Jornalista talentoso que você é, por isso vou ser sucinto.

O problema do Brasil é ético, nos partidos políticos, no Executivo, Legislativo e Judiciário (acabamos de assistir o acinte do Ministro Marco Aurélio (collor) Mello, dizer que o meliante Salvatore Cacciola tinha o direito de fugir e que o soltaria de novo)
O PT exauriu-se como partido ético, em todos as suas facções, o PSDB nunca foi Social-Democrata, confirmou sua tendência conservadora a partir do dia 01.01.95 , quando aliou-se aos golpistas e corruptos PFListas.
Não considero o PMDB um partido, é uma frente, dominado por uma corja liderado por, Quercia’s, Sarney’s, Barbalhos, e agora o tal Renan(resíduo collorido). O velho PC do
B, não sabe onde é que fica, o PPS, PSB E PDT, prostituíram-se.
O PSOL, apresenta-se sim como um caminho alternativo para agasalhar nossos votos e não enxergo em seu programa nenhuma pregação a luta armada.
Vou continuar utópico, votando no PSOL e esperançoso de que através dele e outras forças progressistas possamos construir um sociedade decente.
Para isso precisamos de gente como você, formador de opinião lúcido, que ajudará com sua inteligência a construir sim, uma nova sociedade


Saudações tricolores,


Nazareno Lima
Jota Ninos disse…
Nazareno,

Sua análise foi aproximada à que eu fiz anteriormente. Concordamos em diversos pontos, mas principalmente na necessidade de discutirmos as questões ideológico-partidárias em alto nível, sem ataques pessoais. Isse é salutar e vejo que apesar de simpatizante do PSOL você ainda não foi contaminado pelo discurso raivoso de muitas de suas lideranças.

É desse bom senso que partidos como esse precisam, entretanto todas as estruturas partidárias têm sempre alguém que representa o bom senso, mas isso nem sempre significa que o partido os ouça. Muito pelo contrário, os que tem bom senso acabam sendo isolados e um dia se frustram e largam tudo (como eu) ou acabam se resignando com os desmandos de seus "líderes" (como Inácio Corrêa, atual secretário de Governo de Maria do Carmo que sempre foi considerado a voz do bom senso no PT, mas acabou se deixando seduzir pelo autoritarismo everaldiano, ou melhor martiniano, para não ferir os outros Everaldos que foram ou que são do PT).

A verdade é que ninguém é dono da verdade. Você pode ter até razão em relação ao PSOL, mas minha experiência dentro do PT convivendo de perto com facções de extrema-esquerda (muitas delas ainda trabalhando dentro do PT), me leva a reafirmar: esses grupos não apresentam propostas de um Brasil novo, democrático e comprometido com o cidadão, apenas ensaiam protestos incluíndo temas que estão longe do alcance do cidadão comum como por exemplo, ser contra a ALCA, ser solidário à palestinos e outros povos, adorar lideranças como Fidel ou Chávez, e por aí afora. Não que estes temas sejam proibidos, mas colocar em pauta discussões que estão longe do dia-à-dia do brasileiro demonstra uma imaturidade e uma falta de discurso mais consistente.

A turma do PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado fazia parte do PT até há alguns anos como tendência de extrema esquerda (a conhecida Convergência Socialista), assim como o pessoal do PSOL que passou a ocupar o espaço deixado pelos integrantes do PSTU. O discurso de ambos se afina entre si e com o de outros grupos extremistas de esquerda que já citei anteriormente (PCO - Partido da Causa Operária e o PCB - Partido Comunista Brasileiro).

O PSOL, como você diz, não tem em seu estatuto nada que fale sobre revolução armada e nem seria tão idiota em colocar essas questões num documento oficial. Mas eu te garanto que todos os grupos extremistas, de direita e de esquerda, têm como filosofia a força bruta e a política "arrasa-quarteirão" como solução a todos os problemas do mundo.

Historicamente sabe-se que as grandes mudanças no mundo aconteceram com guerras e revoluções. O problema é quem é que lidera o movimento de reconstrução de um país depois que a guerra civil acaba. As revoluções na França, na Rússi, na China e em Cuba são exemplos do que vem depois de uma batalha se os líderes tem propensão à tirania, ao caudilhismo. Muitas ditaduras, de Hitler à Fidel, se construíram em cima de discursos "pela liberdade do povo". É isso que eu temo com partidos que baseiam seus programas em pura "ideologia de almanaque" e recrutam jovens no alvorecer da rebeldia para serem "contra tudo".

O PT foi um partido revolucionário no sentido estrito da palavra exatamente porque sua proposta não se limitava a propor a derrocada dos poderosos. Logicamente que isto estava no discurso de animação dos encontros e manifestações, mas o estatuto do partido defendia, em seu início, a construção de um partido de massas através dos núcleos de base que levavam o debate político-partidário aos bairros e comunidades, aproveitando inclusive a estrutura já existente das CEB´s - Comunidade Eclesiais de Base, da igreja católica. Eu participei desse processo e vi muitas pessoas que viviam enfurnadas em suas casas descobrirem a necessidade de participar das lutas do movimento popular e do partido. Era o tempo da militância descompromissada, que acreditava num ideal, não numa remuneração.

Com o tempo, o PT foi se tornando um partido de quadros, evoluindo para a tomada do poder pelo Lula, mas aí se perdeu e deu no que deu. Hoje não existem mais núcleos de base e os "petistas" que levantam bandeiras pelas ruas só o fazem em troca de algum dinheiro.

Os partidos de extrema esquerda, pelo que sei, não demonstram qualquer intenção em tentar fazer um trabalho de conscientização popular como esse que o PT fazia. Suas reuniões são no mínimo para inflamar jovens rebeldes a vestirem camisas pretas com frases de efeito e levar bandeiras vermelhas para qualquer manifestação popular, se possível atiçar a polícia para levar umas bordoadas e depois ganhar espaço na imprensa dizendo que "o povo foi reprimido pela truculência policial!" Como acreditar em grupos que continuam com as mesmas práticas usadas pela esquerda desde o movimento de 1968 na França?

Porque esses grupos não fazem um movimento mais consistente em cima de problemas reais, como por exemplo a falta d´água na cidade? Há 30 anos que o problema existe, mas nem estes partidos e nem o PT da década de 1980 conseguiram construir um movimento popular consistente contra esse absurdo! Ao invés disso vamos continuar gritando Fora Bush ou Fora FMI (ou mesmo Fora Lula)? Tenha dó!

Sempre cobro isso do padre Edilberto Sena, que eu considero um extremista radical com grande poder de insuflar as massas, mas vive a frustração de não conseguir um trabalho mais consistente. Viu muitas de suas lideranças criadas nos movimentos em defesa ao meio ambiente o largarem no meio do caminho, como Socorro Pena, Marco Aurélio, Everaldo Portela e tantos outros, que um dia perceberam que seu discurso não passava de discurso... Ele pode não admitir, mas hoje seus novos pupilos da FDA em grande parte vão cerrar fileira no PSOL e daqui há algum tempo o estarão abandonando de novo. Mas o Edilberto é um caso à parte. Quem sabe um dia eu faça uma tese de doutorado sobre ele(rs...)

Obrigado pelo convite para integrar o PSOL que você vê como um partido de futuro, mas infelizmente reafirmo: este não é o melhor caminho. Pelo menos para mim. Mas se você acredita nele, siga em frente e espero que um dia não se desiluda e que eu esteja completamente errado.

Abraços.