Reforma agrária de mentirinha

Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de ontem:


Numa linguagem irônica, um tempo atrás a sigla INCRA era decifrada como: Isto Nunca Conseguiu Realizar algo na Amazônia.

A razão da ironia é que a reforma agrária nunca foi levada a sério pelo governo federal, responsável pelo Incra. O que está ocorrendo nestes dias no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária é mais um sinal dessa inoperância. O agronegócio continua sendo privilegiado pelo governo que aceitou, mais um vez, dilatar o pagamento das dívidas deles por cinco anos. Ora, no ano passado, o governo já havia investido 50 bilhões de reais para pagar dívidas de grandes empresários do agronegócio.

Para realizar a reforma agrária, não há recursos suficientes. Tudo vai saindo defasado e a conta gotas. Contratam-se um punhado de funcionários, compram-se alguns carros, reforma-se a sede do Incra, depois de muita pressão libera-se um punhado de recursos para abrir alguns ramais. Por isso, explode uma greve de funcionários jovens, que não aceitam servir de pára-choque com assentamentos incompletos, aos montes, para enriquecer estatísticas oficiais.

E agora explodem a ocupações de escritórios do órgão em Santarém, em Rondônia, em Cuiabá e em mais dois outros estados. A ocupação é pelos assentados indignados com a morosidade do Estado em realizar a reforma agrária. Sentem-se abandonados em assentamentos fantasmas.

Imagine-se em todo o Brasil os assentados sem reforma agrária e os sem-terra ocupando escritórios do Incra, mandando abaixo-assinados a Brasília. O que o governo vai dizer? E que vai fazer? Ficar indiferente, como tem sido até agora?

Há poucas semanas, o presidente nacional do Incra esteve em Santarém e teve a coragem de afirmar diante de trabalhadores rurais que o órgão faria a reforma agrária na região em parceria com uma mineradora, em conflito com assentados em Juruti e com as empresas madeireiras. Imagine!

Estão em greve funcionários do órgão e estão ocupando a sede dezenas de assentados. Alguns perguntam: quem está por trás desse movimento de assentados? Indignação organizada deles? Estão contra os grevistas ou contra a falta de política séria do governo federal? São vítimas comuns de um Estado desinteressado ou inimigos entre si?

O Incra instituição tenta provocar a inimizade entre as vítimas, o governo joga pesado contra os grevistas com ameaças e chantagens.

Em diálogo recente as lideranças dos dois movimentos sentaram à mesa e assumiram compromisso de se repeitarem e lutarem juntos contra o inimigo comum. Ambos exigem respeito às suas reivindicações. Não dá mais para o Incra chegar com paliativos, fazendo de conta que está trabalhando sério, mas em parcerias estranhas com mineradoras e madeireiras. A falta de transparência do Incra provoca indignação que está se alastrando país afora.

Até quando o governo brasileiro vai adiar uma reforma tão necessária para a paz social?

Comentários

Anônimo disse…
Invadir prédio público para protestar é bem digno para a elite branca da avenida paulista que ate hj nao engole um nordestino metalurgico na presidencia.