Relato de uma travessia solitária

Foto: Podalyro Neto
Érik Jennings
Érik no momento de sua saída em Óbidos

(...) O rio Amazonas estava calmo, com uma pequena brisa pela proa, que fazia o sol escaldante só colaborar com um belo visual da imensidão deste rio. Pequenas ondas, não mais altas que a proa do pequeno barco, vinham de encontro fazendo um agradável ruído e se desfazendo uma após a outra em meu curso rio abaixo. Remada após remada.

O barulho do vento em meus ouvidos se misturava com o som da faia entrando na água, adquirindo uma cadência com o passar do tempo. Um pouco de dor muscular no início se tornou ritmo de cruzeiro. O pequeno caiaque já havia se tornado meu barco, meu espaço, meu mundo. Estava envolvido, empolgado com minha velocidade de descida. Sem esforço, chegava a 15,5 Km/h! Mais entusiasmado ficava em ver que em alguns locais, mesmo sem remar, a velocidade da corrente do rio chegava a 7.1 Km/h!

Não era eu que era bom de remo. O rio é que seguia seu curso com a velocidade e a pressa de um gigante e aproveitava para me dar uma carona, junto com outros milhares de troncos, arbustos e ilhas inteiras de capim. Este sim é um rio democrático. (...)


Trecho do relato feito pelo neurocirurgião Érik Jennings Simões sobre a travessia que fez, há poucos dias, de caiaque entre Óbidos e Santarém.

[Pressione aqui], para lê-lo na íntegra.

Comentários

Anônimo disse…
GOSTEI DO DESAFIO, SUGIRO AO NOBRE E RECONHECIDO MEDICO, QUE FAÇO O MESMO EM SEU CONSULTORIO: UM DIA DE CONSULTA POR MES PRA QUEM NAO PODE PAGAR. uM DESAFIO BEM MAS MANEIRO. PARABENS
Anônimo disse…
Erik,
A tua descrição do "furo do Arapixuna" mexeu com as emoções desta cabocla... Mesmo tão distante, pude lembrar (até sentir) aquele cheiro, que só quem já experimentou entende... Teu texto e tua experiência me levaram de volta aos tempos em que a cunhatã pegava carona na canoa do velho pai...
Obrigada e parabéns pela conquista
Michela
Anônimo disse…
Meu avô paterno fez uma aventura tipo essa, de Manaus a Santarem em uma canoa de vela, não sei se faria sojinho mas deve ser interessante. Parabéns Erik. Quanto ao desafio "maneiro" do anonimo, isso voce já faz sem oficializar.
Anônimo disse…
Ao anônimo das 06:42:
Infelizmente, sua proposta não é produtiva. Se alguém não tem recurso financeiro para pagar uma consulta, ela deve procurar o melhor “convênio” de saúde que existe: o SUS! Todos têm direito aos serviços, inclusive os meus. Agora se o sistema não funciona direito a culpa também é nossa, porque não lutamos de forma conjunta e ordenada pelos nossos direitos. A saída não está nos consultórios particulares e nos trabalhos voluntários - que faço alguns que não irei falar aqui. A cura e alívio estão na responsabilidade bem cumprida de nossos governantes, que por sua vez necessitam de mais recursos e pressão popular. Além do mais, a prática médica necessita de exames complementares, muitas vezes caríssimos e medicamentos onerosos, que muitas vezes só serviço público encara com os gastos. Em meu consultório, não posso – é ilegal, pedir exames e nem solicitar medicamentos pelo SUS, para cuidar dos pacientes. Como acontece freqüentemente, os pacientes carentes que vejo em meu serviço privado acabam sendo tratados, no SUS. Aceito um desafio maior: lutarmos juntos por um serviço público digno de suas reivindicações. Um abraço.
Erik L. Jennings Simões.
Anônimo disse…
Olá Erik,

Muito boa essa tua aventura! Pra quem está longe, o teu texto faz-nos "viajar" um bocado contigo na nossa tão extraordinária e peculiar realidade amazônica!

Parabéns pela pequena grande conquista da travessia e também pela inteligente e merecida resposta ao anônimo!

Um beijinho!

Kátia Maciel (Portugal)
Anônimo disse…
Mano velho:

Que juntos possamos realizar ainda muitas reamadas no Rio-Mar. Parabéns. Quanto aos chatos. Esses tente convencer com a sua inteligência e caso não consiga chame a turma não-letrada do serviço braçal.

Abraços do "Pessoal da Beira".
Anônimo disse…
Sou suspeito pra falar desta aventura por ter acompanhado a partida e a chegada. Mais suspeito ainda por comentar uma aventura de um amigo.

Poucas pessoas que moram em Santarém se dispõe a aproveitar as belezas naturais que nos cercam a todo instante e que encantam os que por aqui chegam. Muitas vezes, nós que aqui nascemos e crescemos somos turistas de nossa própria terra e ainda há espaço pra nos surpreendermos com a beleza da natureza que nos passa despercebida. Geralmente não notamos a beleza das nossas árvores, nem a melodia dos cantos de nossas aves, nem os perfumes de nossas orquideas no meio de uma floresta fechada, ou o balé de botos. Acabamos na roda viva da vida urbana e focamos nos problemas que a urbalização (ou falta dela) nos traz, esquecendo muitas vezes qe estamos na região que é a jóia do mundo.

Tive o prazer de assistir ao vídeo da aventura, mas o texto vai além, nos sussita a imaginar imagens e aromas que para alguns é novidade e para outros é pura recordação.

O Erik nos convida para algo ainda mais interessante, mostrar que as tão propagadas carências de entretenimento em Santarém são pura preguiça. Não que a falta de teatros e cinemas não sejam um problema, mas é possível fazer muita coisa diferente, sem gastar muito e se divertir como em poucos lugares.

Curtir a natureza que nos cerca só requer preparo e disposição, não precisa usar combustível (exceto comida), veículos especiais e caros, poluir nem agredir niguém. Quem não tem caiaque, pode ter uma bicicleta, qem nem isso possuir, pode se aventurar em caminhadas e trilhas pelas ainda persistentes áreas de floresta e igarapés que nos cercam.

Saber desfrutar a simplicidade dos detalhes e as sutilezas da exuberância dos rios, matas e animais é saber valorizar o tesouro em que vivemos.

Parabéns Erik pela jornada e obrigado por compartilhar conosco um poco das suas sensações.
Na próxima vou junto com um isopor de cerveja pra te motivar!

Abraço.
Anônimo disse…
Valeu mano. O chato disso tudo é termos que suportar o tal "anônimo" pedindo consulta, ora, ora...deixa pra lá.
Anderson Dezincourt.
Anônimo disse…
Pior do que os "chatos" que pedem consultas são os não-menos-chatos-puxa-sacos.
Aos primeiros, que paguem um plano de saúde; aos segundos, que parem de bajulação gratuita. O Hiel Gesã e um monte de gente faz feito semelhante de quando em quando e não se vê tanta menções honrosas.
Anônimo disse…
Amigo de Rio

Parabens. Também fui testemunha do início da tua aventura. Acho que o Aldrwin resumiu a história. Que bela narrativa.
Lembra das conversas com o outro amigo de rio o Pedro Fernando quando afirmamos que as vàrzeas tem cheiro?
Como tínhamos combinado, fui por terra pra encontra-lo na Cidade Prezépio. No caminho paramos na Cidade dos Deuses em Alenquer, realmente é tudo lindo mas tudo muito ameaçado pela cobiça do homem. Que Tupã nos abençoe pra que possamos por muito mais tempo remar pelos nossos rios e que eles (os rios)continuem nos ensinando.

Abraço fraterno

Podalyro Neto
Anônimo disse…
Grande HIel

Cuidado que tens um admirador que mooooooorre de inveeeeeja.

Saia do armário meu caro

Coraaaaaaaagem
Samuel disse…
Mano Erik,

Teu relato me fez lembrar os versos de Cancionata: "Na terra do verde bravio/ o azul sinuoso passeia/ é a mansa corrente de um rio/ que eu trago correndo na veia".
Cheiro de várzea, imagens, poesia, um grito de alerta mais uma vez lançado por você que faz de sua vida uma profissão de fé - no ser humano, na nossa terra e seu potencial tão mal explorado secularmente, na esperança.
Li teu texto, na solidária solidão de minha sala de trabalho, na Faculdade de Jornalismo do Bom Jesus/IELUSC (em Joinville/SC), com emoção contida. E uma puta saudade, cabôco!
Beijos no teu coração de médico e poeta, meu camarada!
Anônimo disse…
Infeliz o anônimo das 3:13 ao denominar de chato puxa saco quem elogia um amigo, mas o blog é democrático para elogiarmos e criticarmos os acontecimentos, sem qualquer tipo de censura. Sucesso Jeso e que outras pessoas tenham oportunidade de mostrar suas aventuras saudáveis.
Anônimo disse…
Ao anônimo da 03:13:
O Hiel Gesã é meu amigo e irmão do coração. Admirável como atleta e pessoa. É o nosso campeão Brasileiro de remo em sua categoria, sendo uma honra para esta cidade. Nesta semana, ele já vendeu dois caiaques que estavam na sua garagem sem uso, devido a repercussão dada neste blog. Mais pessoas interessadas em aprender a remar tem procurado nosso maior representante. Ele já levantou dinheiro para um investimento que fará em Alter-do-Chão. Nosso grande Hiel deve ser lembrado aqui, não com comparações sem sentido, mas como o melhor remador do Brasil e que mora nesta cidade. Devemos falar do Hiel, como coordenador do Projeto Navegar – projeto do Governo Federal que ensina crianças de escolas públicas de Santarém a remar e velejar, e que passa por dificuldades de verbas federais. Gostaria que todos nós, inclusive você anônimo, juntássemos força para não deixar este projeto morrer, e levar o nome do Hiel para muito além de um breve trecho entre Óbidos e Santarém.
Erik L. Jennings Simões.
Anônimo disse…
" OS RIOS DE NOSSA ALDEIA"

Nesse mundo de notícias de extrema violência, quase não sobra tempo para contemplarmos e vivermos o que Deus nos deu de tão precioso quanto belo e frágil: a natureza. Em nosso caso, temos o privilégio de nos encantarmos com a Pérola situada entre os dois rios, mas que é destruída dia-a-dia.
Esse relato do Erik me fez esquecer um pouco das agruras da realidade que vivemos no país.
Lembro dos preparativos e da repercussão da viagem ( loucura no sentido de aventura) do Erik e Vitor nos idos de 1987 naqueles dias do Dom Amando e da "turma da beira". Mas refazer aquele caminho das águas, realmente é para poucos. Parabéns pela persistência, Erik!
Tive o privilégio de viver minha infância e adolescência feliz na 'beira" dos rios Amazonas e Tapajós, mas esse texto do "mano" Erik mexeu comigo, pela singeleza ao descrever a relação homem-natureza, a vida nos rios, o que me fez recordar a infância, sentir os cheiros, me molhar nos "banzeiros" imaginários da saudade e viajar ...
Recordo o saudoso poeta mocorongo Ruy Paranatinga Barata com sua Pauapixuna ( ... uma leira, uma esteira, uma beira de rio...).
Lembrei do poema que aprendí nas aulas de literatura da Grande Mestra Gersonita Carneiro, no querido Colégio Dom Amando, fonte do saber : O Rio de Minha Aldeia, de Fernando Pessoa, que tem ao seu final:
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Então, ler o relato do Erik é recordar a infância, é poesia, é buscar um sentido para a vida, buscar refúgio seguro, aliada à natureza. Diria que é viver, na busca dos "rios de nossa aldeia"...
E como escreveu também Fernando Pessoa: navegar é preciso, viver não é preciso...
Obrigado, Erik. Obrigado por me levar aos tempos de menino. Obrigado por fazer recordar os belos tempos da adolescência e me fazer sonhar.
Valeu também como um alerta sobre o que queremos para nossa região.
Obrigado por me fazer navegar...

Valeu, caboco bom!!

Abraços,

Josélio Riker, um mocorongo cheio de saudade da terra natal e hoje "exilado" na Bela Belém do Grão Pará.
Anônimo disse…
Seria
Que façanha bro, curti o texto tambem. Agora quero te ver ir até a Boca do Jari de windsurf, desafio que se eu nao tivesse feito(embora contra a vontade) seria ainda inedito.