Tecnólogos: mais e mais

De Nuranda, em réplica à nota Avanços da UFPA, de Juvêncio de Arruda:

Há lentes para as mais diversas correções visuais, entre elas a miopia... "Miopia é o nome dado ao erro de refração da luz no olho, o que acarreta uma focalização da imagem antes de chegar à retina. Uma pessoa míope consegue ver objectos próximos com nitidez, mas os objectos distantes são visualizados como se estivessem embaçados (desfocados)."

Interprete como quiser, mas o que parece é que o FOCO não é querer enxergar melhor e sim colocar um óculos qualquer só pra satisfazer o freguês. Se vai enxergar melhor, bem, é um detalhe, o importande é dizer que colocou um óculos. Seis alunos interessados em estudar um novo curso dão um bom demonstrativo do que estou falando.

Quem não parece viver perto da realidade é quem sugere (ou defende) a implantação de um curso de matemática em uma área onde o que mais se precisa são operadores de máquinas, técnicos em manutenção, engenheiros de minas, engenheiros florestais, químicos, topógrafos, geólogos, etc. Experimente montar um curso destes e depois venha dizer qual a relação candidato vaga... Monte um curso em Santarém de tecnólogo em processamento de madeiras e me diga se terão seis interessados.

Depois que as necessidades básicas estejam atendidas, será um prazer ver florescer cursos de filosofia, teatro, etc. (...)

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Comentários

Anônimo disse…
Que tosco que é esse tal Nuranda, para sustentar que só após termos atendidos nossas necessidades básicas é que devemos filosofar e ver teatro, quando facilmente se chega a conclusão bem diferente: que com as sutilezas da mentalidade filosófica e a plasticidade que o espírito ganha com a educação teatral, mais rapidamente alcançaríamos -e quiçá ultrapassaríamos - as tais necessidades básicas!
Gregório Mendes
Anônimo disse…
Caro Gregório, permita-me uma defesa, tosca que seja. Sei que a gente não quer só comida a gente quer saída para qualquer parte.


Infelizmente voce não pegou o assunto todo e tem todo o direito de se indignar com uma frase solta que talvez possa dar margem à uma interpretação de que para haver teatro e filosofia é necessário que haja outras necessidades previamente atendidas.


Jamais poderia considerar a filosofia ou qualquer forma de arte como não essenciais para a evolução humana plena, muito pelo contrário.


Me referia, em meu comentário, ESPECIFICAMENTE à criação de cursos superiores nestas áreas e não à presença das mesmas no seio da sociedade e em todo o ensino básico, principalmente de escolas públicas onde, com certeza, milhares de talentos são desperdiçados por não terem a oportunidade de mostrarem seu dom e serem percebidos.


Além de tosco seria estúpido de minha parte se não considerasse a filosofia como a essencial base de toda a ciência e consequentemente das tecnologias e suas aplicações corriqueiras. De público peço desculpas por ter incluido o curso de filosofia no hall de cursos necessários à posteriore, me arrependi logo em seguida por ter escrito. Mas mesmo cursos de filosofia dependem de um ambiente economicamente favorável à sua criação.


Quanto ao teatro, temos um excepcional grupo em Santarém, o qual ja tive a oportunidade de assistir a peça das carpideiras (perdão por não lembrar do titulo completo) e pude ver a qualidade excepcional dos artistas locais e da peça como um todo. Deu pra ver também que pela lotação do auditório há na população uma carência enorme por arte de qualidade, da música ao teatro, passando por artes plásticas e literatura.

Nossa cidade é extrememente carente de arte como um todo, da arquitetura e urbanização paisagística à presença de galerias e locais de exposição permanente dos artistas locais, sem contar a falta de uma biblioteca pública digna.

É neste ponto que fundamento minha defesa.

Se ainda é tempo de me redimir, do ponto de vista histórico, os períodos de maior efervecência cultural e filosófica, nos quatro cantos do mundo, foram precedidos de grandes avanços econômicos locais que proporcionaram a criação tanto de ambiente fecundo como centros que iam além das necessidades básicas de sobrevivência, coisa que ainda tateamos na nossa rica e miserável região.


Arte e miséria dificilmente andam juntas, há excessões é claro, mas posso citar os principais exemplos como a Florença da renassença, Amsterdam da companhia das indias ocidentais, Londres e Paris pós revolução industrial, Alemanha e seus muitos filósofos, Recife da cana de açucar, passando por Manaus e Belém da borracha e culminando na Nova York do pós guerra até hoje... Porque não incluir o eixo rio-são paulo como centro cultural brasileiro, "coincidentemente" o eixo do PIB nacional. E Brasília que é a cidade mais rica proporcionalmente do Brasil?!


Todas tiveram seu auge artístico e até filosófico nos períodos em que havia um ambiente rico e propício para que mecenas e patronos pudessem bancar o supra sumo da inteligência humana. As universidades, com dinheiro vindo das pesquisas científicas pagas por empresas, podiam investir em cursos não diretamente lucrativos, mas absolutamente fundamentais para a formação de um povo consciente, crítico e cada vez mais valorizador da própria arte.


Além de nossa região ser rica e miserável, justamente por falta de condições que possibilitem a criação de indústrias de trasnformação e consequentemente geração e distribuição de riqueza, a elite econômica existente na cidade não tem a menor ligação com bom gosto e muito menos tem a capacidade de patrocinar a arte. Gastam fortunas com supérfulos, mas não são capazes sequer de ir a um teatro quando há oportunidade. Vale lembrar que nem cinema há em nossa terra, quando o dinheiro era mais abundante, havia.


Como disse, de forma incompleta e de alguma forma descontextualizada, logo merecedora de críticas, será um prazer ver florescer cursos em áreas mais diversas, principalmente nas artes que tanto admiro. Mas para isso é vital que nossa sociedade tenha condições financeiras e gente apta a pagar, pelo menos um ingresso de um teatro. Acredito que artistas também tenham contas a pagar.

Obrigado pela crítica.