Tambaqui, defeso e a ética




Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de ontem:

O que fará alguém ao chegar num mercado de peixe e lá encontrar exposto à venda um tambaqui de 6 quilos, bonito, ou uma posta gorda de pirarucu ou qualquer outro peixe da lista do defeso? Comprará? Denunciará o crime ao Ibama? Calará, ficando apenas silenciosamente indignado? O que fazer diante do crime ambiental?

A ética hoje anda sofrendo um desgaste cada vez maior. Prevalece a lei do tirar proveito a qualquer custo sempre que aparece a oportunidade. Cada vez menos se pensa nos direitos dos outros, menos ainda, nos direitos coletivos.

O caso da compra e venda de peixes proibidos pela lei do defeso é uma dessas imoralidades sociais. Proteger espécies em risco de extinção é uma necessidade cidadã, proteger a vida das espécies animais é cuidar da vida humana de hoje e de amanhã. Não se pode explorar a natureza esgotando-a, sem preocupação com o dia de amanhã.

O governo federal tomou uma decisão sensata ao criar a lei do defeso de peixes no Brasil. É apenas no período da desova, para que a reprodução fique garantida. Para não prejudicar o profissional da pesca, o Congresso Nacional criou a lei do salário-desemprego para o período. Com isso, o profissional da pesca terá garantia de vida e poderá ainda pescar outras espécies fora da lista do defeso.

São mais de 20 espécies comestíveis aqui na região que podem ser pescadas e vendidas nos mercados. Portanto, não há razão para um pescador violar a lei do defeso, alegando necessidade de sobrevivência. É dever da Colônia de pescadores zelar pelo cumprimento da lei, tanto quanto zela pelo direito de seus sócios receberem o salário desemprego.

Como também é seu dever fiscalizar e denunciar todo clandestino que se aproveita para pescar e vender peixes do defeso, prejudicando sua categoria profissional. Também não pode o Ibama dizer que não tem fiscal nem para vistoriar os mercados de peixe.

Quem nesta época do defeso pesca um tambaqui, pirarucu ou qualquer outro peixe da lista é tão desonesto e imoral quanto os políticos que escandalizam a sociedade por roubarem dinheiro público. A ética é um conjunto de valores cada vez mais necessário para a sobrevivência dos seres humanos no planeta.

Quem se sente pessoa honesta e ética não pode se calar diante dos que violam a ética. Não compra, nem vende, não cala e denuncia quem vende pescado proibido pela lei do defeso. O pessoal do Ibama tem dever de ofício de fiscalizar os mercados diariamente por causa dos criminosos que ousam violar a lei para faturar.

Ou se constrói uma sociedade ética, ou se destruirá a própria sociedade, o criminoso inclusive. Faz sentido tal reflexão?

Comentários

Anônimo disse…
O mais incrível de tudo: não pode pescar, mas pode derrubar floresta para plantar soja ou capim. Socialmente e economicamente analisando, o uso da proteina do peixe, da castanha-do-pará é mais eficiente que carne de gado e produtos da soja.
Anônimo disse…
Padre Edilberto,

Com todo respeito,mas exigir do cidadão comum denuciar, é dedurismo reverendo,obominável em qualquer sociedade decente, até pq nao precisa, pois os peixes estão espostos em todos os box's do mercado, hoje mesmo tinha CURIMANTÃ E PIRARUCÚ aos montes no mercadão 2000, a pouco mais de 100 metros do IBAMA. Nao precisa lhe ensinar como devemos fazer uma denúncia correta.
Isso pode "cambar" para denuncia anonima que é tão imoral e perigosa quanto aos crimes citados pelo senhor em suas sempre pertinentes colocações.
Hoje, eu peguntei ao vendedor, se a "CURIMATÃ" nao estava no periodo Defeso. Sabe o que ele me respndeu?.. "Estas foram pescadas antes da proibição".
A coisa anda perigosa Padre, a sociedade pode perder a moral de exigir algo correto de alguem, quando elege governantes e parlamentares da estirpe dos que foram eleitos neste Estado e no País nas ultimas eleições. É, vamos ficar por aqui..
Mais uma vez, os meus respeitos e PAZ E BEM

Eleitor indignado