Fibra ótica no linhão

Auditor fiscal e delegado da Receita Federal em Santarém, Moacyr Mondardo Júnior comenta o post Internet em Santarém, de Grazziano Guarany:

Guarany, esta questão que você levanta é fundamental para todos nós do Oeste do Pará. Creio que sua solução terá um impacto como se uma nova estrada (uma BR-163) que passe a ser acessível a toda uma população hoje marginalizada no acesso à via digital. Temos notícia que no linhão de transmissão de energia que chega a Santarém tem um cabo de fibra ótica que pode ser usado nesta finalidade, mas se não houver concorrência no provimento deste serviço, ficamos refém de um único fornecedor, que é a situação atual.

Comentários

Anônimo disse…
Moacir, segundo informações contidas em um requerimento do Dep. Nicias Ribeiro, de 01 de setembro de 2003, onde o deputado solicita esclarecimentos sobre a não utilização dos cabos de fibra ótica à na época Ministra das Minas e Energia, Dra. Dilma Roussef, somente a instalação dos cabos de fibra ótica durante a execução do projeto Tamoeste, consumiu investimento na ordem de 18 milhões de dólares, sendo que está sem utilização desde a inauguração em dezembro de 1998.

Grazziano Guarany
Anônimo disse…
Guarany, essa é uma informação importante. Temos um cabo de fibra ótica, pago e instalado que poderia estar sendo usado para nos tirar deste enorme gargalo de internet e parece que nada está sendo feito. Não só Santarém, mas toda a região atendida pelo linhão.
O que me deixa mais curioso é porque as empresas de telefonia fixa e móvel daqui não estão interessadas em usar o cabo? Não seria um meio que proporcionaria melhoria da qualidade dos serviços e redução considerável de custos para elas?

Quais seriam as medidas legais (ou políticas) cabíveis para exigir das operadoras o uso deste meio e a consequente oferta de produtos e serviços de melhor qualidade? Como poderíamos pressionar as empresas para oferecer estes serviços?

Eu já tomei a liberdade de escrever à Anatel solicitando informações do porque não é disponibilizado o serviço de ADSL em Santarém e quem respondeu foi a Telemar dizendo que nossa cidade não está nos planos de expansão.
O que me admira é que estamos implorando para uma empresa oferecer serviço e demonstrando que ha um grande mercado potencial, mas nem assim a coisa anda.
Guarany, parabéns por ter levantado este assunto. O que aparentemente é uma exigência isolada, poderá facilitar em muito a democratização do acesso de escolas públicas à internet bem como melhorar os meios de comunicação públicos e privados.
Anônimo disse…
Guarany, onde você conseguiu essas informações? Estou verdadeiramente estarrecido! Já tinha ouvido falar desse 'linhão ótico', mas na falta de maiores informações considerava o caso meio que uma lenda urbana. Mas você está dizendo que o linhão não apenas existe, como consumiu US$18.000.000,00 do nosso dinheiro (faço questão de colocar todos os zeros para realçar o volume dos gastos), e que está sendo simplesmente deixado sem uso??
A inclusão digital é um dos temas mais pertinentes desse início de século XXI! O governo Lula parece ter entendido isso, visto os incentivos que tem dado para facilitar o acesso aos recursos do mundo da informação, especialmente através da diminuição das alíquotas de impostos dos computadores. E a internet é o canal mais importante para esse inclusão! Como já foi dito, a conexão por satélite é muito mais cara que a de fibra ótica. Daí os preços salgadadíssimos praticados por aqui (mais de 100 reais por uma conexão de 128K - enquanto que em São Paulo paga-se metade disso por velocidades 4 vezes maiores - e não vou nem mencionar o preço praticado em outros países..). Um backbone de fibra ótica permitiria reduzir os custos dos provedores e assim diminuir também suas mensalidades, possibilitando a muito mais pessoas o acesso ao serviço.
Além desse fator social, teríamos ainda várias benesses econômicas derivadas de um acesso de qualidade . Hoje em dia são inúmeros serviços ofertados através da internet, mas que demandam uma conexão veloz e estável. Para citar apenas um, podemos pensar no Voip, o serviço de telefonia internet, que permite fazer ligações até mesmo internacionais por uma fração do preço pago pelo sistema tradicional. Essa tecnologia já é uma realidade em muitos países, e mesmo em várias partes do Brasil. Mas não é factível em Santarém hoje, pois a nossa conexão de satélite possui uma latência intríssica que torna a experiência não muito agradável. Além disso, o sinal do satélite pode sofrer interferência de fatores climáticos, como nuvens e outros, impossibilitando assim que qualquer empresário possa considerar seriamente o uso de um sistema desses em seu negócio. Ou seja: o 'linhão ótico' ajudaria também a reduzir custos das empresas locais, aumentando assim sua eficiência e beneficiando a economia como um todo!
Fiz uma rápida busca no google e encontrei o seguinte material referente ao assunto:
*Requerimento do Dep Nicias Ribeiro ao qual o Guarany se referiu > http://www.camara.gov.br/sileg/MostrarIntegra.asp?CodTeor=160867
*Trecho de um livro do Núcleo de Computação do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro > http://www.nuca.ie.ufrj.br/livro/acompanhamento/neletronorte.htm
"A Aneel autorizou as empresas de energia elétrica componentes do sistema Eletrobrás a compartilhar sua infra-estrutura para atividades de telecomunicações. Eletronorte, Eletrosul, Chesf e Furnas receberam autorização para cessão do direito de uso, a título oneroso, da infra-estrutura do sistema de transmissão de energia elétrica e de fibras ópticas, de propriedade das concessionárias, a serem disponibilizadas para a prestação de serviços de telecomunicações. (05.08.1999)"
" Empresas de telefonia e transmissão de dados estão interessadas em explorar a rede de fibra óptica do Tramoeste, que é servido por cabos pára-raios OPGW que levam 12 pares de fibra óptica. A Eletronorte, proprietária de um trecho de 800 quilômetros, vai usar dois pares, mantendo um terceiro de reserva. Os demais estão com a comercialização da cessão de uso em curso. (12.04.1999)"
"A Eletronorte deverá ceder à Lightpar, a título oneroso, o direito de uso da infra-estrutura de transmissão de energia e o direito de uso de fibras ópticas de cabo ou similares. Essas concessionárias deverão receber, como contrapartida da cessão, uma remuneração que será constituída de uma parte fixa e de uma variável. (30.03.1999)"
Bom, o que gostaria de saber agora é se houve alguma resposta ao requerimento do Dep Nicias, e se alguma providência está sendo tomada em relação a essa questão. Sabemos que vários políticos da região são leitores e as vezes até contribuintes do blog. Pois bem, não acham que essa é uma causa que vale a pena ser abraçada? Não podemos deixar um recurso que tanta falta nos faz, e que tanto nos custou, ser simplesmente deixado para apodrecer!
Anônimo disse…
A rede de fibra ótica da Eletronorte é como se fosse a BR-163 asfaltada de ponta a ponta porem fechada para o tráfego.

Pedro Ivo,encontrei a informação no mesmo local que você, ou seja no Google, e pelo domínio (camara.gov.br) onde se encontra reputei como verdadeira (http://www.camara.gov.br/sileg/MostrarIntegra.asp?CodTeor=160867), pois está dentro do site da Câmara.
Ao meu amigo Aldrwin devo explicar que a questão das operadoras de telecomunicação e principalmente telefonia fixa não terem interesse em utilizar a fibra é simplesmente pelo fato de que elas tem seus satélites em funcionamento e com os custos já apropriados. O uso da fibra seria apenas um valor a ser acrescido. No caso da operadora que você citou, acredito que Santarém não esteja em seus planos de expansão pelo simples fato de não terem banda sobrando para a nos canais de dados a partir de e para Santarém, além do fato de o serviço via ADSL normalmente ter um preço baixo que não pagaria os altos custos para conexão via satélite. Quanto a fibra ótica do linhão as informações extra oficiais que tenho é que apenas uma operadora de telefonia móvel a está usando no trecho Santarém x Itaituba.

Pesquisando mais na internet encontrei um documento da própria Eletronorte, que talvez ajude a explicar a não utilização das fibras óticas. Esse documento aparentemente foi apresentado na Semana de Tecnologia - ELETRONORTE - 24 a 28 de abril de 2006 – Brasília, chamado “Estrutura para Avaliação da Conformidade dos Sistemas Ópticos de Transmissão de Dados utilizados em transmissão de energia elétrica, nas condições amazônicas” apresentado por Norberto Bramatti (bramatti@eln.gov.br), da Eletronorte – TCT, que tinha como um dos objetivos “PESQUISAR as causas do aumento da deterioração nas características de transmissão do sinal óptico do sistema de transmissão de energia elétrica do tramo-oeste”. Sem poder analisar o documento em sua totalidade, até mesmo por falta de conhecimentos específicos da área, me detive especialmente nas conclusões e constatações descritas no documento, as quais devo dizer, me deixaram deveras preocupado com a qualidade dos serviços executados pela empreiteiras que fizeram o tramo-oeste, e por conseqüência em dúvida se essas fibras óticas poderão ser um dia utilizadas. Leiam a seguir o trechos do documento que me deixou assustado:

“LEVANTAMENTO DE CAMPO – CONCLUSÕES: O levantamento de campo com OTDR *1 mostrou a existência de pontos com atenuação generalizada em todas as fibras (degrau de atenuação), indicando possível imperícia no lançamento do cabo OPGW.”

*1 OTDR - Reflectômetro Óptico no Domínio do Tempo - (equipamento que analisa a qualidade da transmissão via fibra ótica).

Entre os resultados do projeto devemos destacar:

“CONSTATADO que a imperícia das empreiteiras e seus montadores acarretou a introdução de elementos estranhos nos conectores dos amplificadores (sujeira / gordura) que sob ação da potência óptica queimam a fibra, aumentando consideravelmente a atenuação;”

“CONSTATADO que a imperícia das empreiteiras e seus montadores acarretou danos ao cabo OPGW em pontos bem determinados da rota, comprovado por degraus de atenuação EM TODAS as fibras; “

Foram apresentadas as conclusões e dentre elas o seguinte texto:
“A rede de cabos OPGW do Tramo-Oeste se encontra em um estado crítico conforme verificado durante este projeto; não apresenta redundâncias físicas ou de equipamentos, seus amplificadores estão com desempenho abaixo do especificado e existe grande aumento de atenuação nas fibras ópticas em vários trechos.“

O documento completo se encontra em:
http://www.eln.gov.br/setel/dados/arquivos/TrabalhosSelecionados/TecnologiaTelecomunicacao/SistemasOpticosdeTransmissaodeDados-NorbertoBrumatti.ppt

No final do documento completo consta endereço de e-mail e telefone para maiores informações.

Resta saber se mais esses milhões de dólares do dinheiro público vai pelo ralo.

É isso, minhas desculpas ao amigo Floriano se o texto ficou longo mas não deu pra encurtar.

Grazziano Guarany