Chance perdida de peitar o chefão da Alcoa




Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de ontem:

Diz um ditado: o discurso convence, mas o exemplo é que arrasta o outro. Na verdade, um discurso só convence quando tem coerência e lógica no raciocínio. Caso contrário, ele perde a eficácia.

A governadora do Estado do Pará fez sua primeira viagem ao interior do Estado indo a Juruti, um dos mais distantes municípios do Pará. Foi lá dar aval à mega exploração de bauxita que será feita pela multinacional norte-americana Alcoa. Em seu discurso de festa, disse algo que parece empolgante para a platéia local, emocionada e ávida de boas notícias de Sua Excelência. Acontece que a afirmação da governadora não foi consistente e até pareceu enganadora.

Disse ela que a riqueza do Pará pode ser distribuída pelo mundo afora, mas primeiramente tem que beneficiar o povo do Estado. Ah! se fosse verdade esse primeiramente. Logo em seguida, ela se contradisse quando, pressionada pelo prefeito local, queixando-se da péssima qualidade da água da cidade por causa da infeliz Cosanpa, garantiu a ele que irá fortalecer a estatal e que irá também atender outras carências da população, incluindo a construção de um hidroporto na frente da cidade.

Quem deve ter ficado exultante com tamanha solicitude deve ter sido o chefão da Alcoa, presente na solenidade. Tamanha subserviência da autoridade maior do Estado aos interesses da multinacional não poderia ser melhor. Ela poderá dormir tranquila e segurar suas previsões de aumentar seu capital em mais 40 bilhões de dólares em dez anos de exploração e exportação do minério abundante nas terras do povo do Pará.

Ora, se a governadora acaba de afirmar que as riquezas do Estado devem beneficiar primeiramente o povo do Estado, por que ela não exigiu ali, diante do chefão da Alcoa, que a multinacional comece a adiantar parte dos dividendos que irá ganhar dentro em breve, financiando toda a infraestrutura da cidade e da região de Juruti Velho, com água encanada, esgotos urbanos, eletricidade abundante, hospital de qualidade, hidroporto digno, universidade para a juventude da região?

Alguém poderá dizer: mas isto é obrigação do Estado prover a população. É verdade, mas se ela diz que a riqueza do Pará deve servir primeiro ao povo, porque não compromete a empresa que vai levar a riqueza para o mundo, pagando apenas uma pequena parcela do royalty e ainda terá isenção de impostos estaduais pela Lei Kandir?

Por que não negociar ali em frente a platéia um contrato para a empresa pagar 10% de seus lucros para as comunidades locais, através de uma fundação gerida pelas lideranças locais e assim poder melhorar a qualidade de vida das populações?

Aí sim, o exemplo da governadora iria arrastar mais do que o discurso bonito, mas sem eficácia. Seria um ato de verdadeira defensora dos bens de sua população. Mas não, disse uma coisa e vai fazer outra.

Que pena!

Comentários

Anônimo disse…
Bravo Pe. Edilberto! Parabéns pelas colocações. Acho que agora o sr. entende um pouco o meu ponto de vista em relação a "culpa" do nosso atraso ser exclusivamente nossa.

O sr. sugeriu muito bem uma solução: antecipar o recebimento de royalties como forma de alavancar investimentos que, inclusive, vão se reverter em prol da própria Alcoa e não implorar por esmolas e ou ajudinhas pra boi-bumbá.


Acredito que a empresa também quer que seus funcionários tenham água tratada, um porto decente pra se deslocar e inclusive ter onde colocar os seus filhos, sem contar a garantia de mão de obra futura. Outro dia comentaram que em Belterra na década de 40, Ford trouxe quase tudo isso, praticamente sem nenhuma contrapartida do estado, hoje não só repetimos velhos erros como regredimos a uma condição quase colonial de aceitar as imposições estrangeiras sem cobrar o mínimo. Tudo isso pra que? Pra ver navios saindo e levando bauxita? Porque não exigir também a implantação de uma usina de beneficiamento? porque não exportamos alumina ou chapas de alumínio?
Quando é que um governador vai ter PEITO de impor que deste estado não sai mais um mísero pó de minério bruto ou uma lasca de madeira sem beneficiamento? Pra isso vai ter que ter estrutura pública de suporte como educação de ponta e centros de formação de mão de obra qualificada.


É papel da governadora ter peito (com ou sem trocadilho, fica a critério do leitor) para saber aproveitar uma situação absolutamente favorável ao estado de cobrar, de público, ações verdadeiramente afirmativas sem pedir favores ou esmolas e sim, firmar parcerias e contrapartidas com um dinheiro que deverá ser pago de qualquer maneira. Seria uma jogada de mestre fazer isso diante da população e impor logo no início do governo medidas duras. Faltou o "timing", agora a vez de jogar é deles.


De fato é obrigação do estado prover estes serviços, mas uma empresa que está investindo R$ 1 Bilhão de reais e já possui um canteiro de obras instalado (com poucas empresas paraenses, diga-se de passagem), não se acanharia em gastar, ainda mais de frente pra uma plateia numerosa, mais umas dezenas de milhões com obras de infra-estrutura como crédito em royalties futuros.


São esses desperdícios que me deixam atônito, são essas incapacidades de aproveitar um bom momento de negociação e nos beneficiar que me fazem desacreditar da capacidade que nós temos de exigir o que é melhor pra nós mesmos. São estas situações que me fazem crer que os culpados pelo atraso e miséria da região não são de marte, júpiter, EUA ou gaúchos, somos nós. Numa democracia o povo tem os governantes que merece.

Espero que a governadora reverta este quadro e aproveite melhor as oportunidades de negociar em prol das necessidades da região. Nenhum outro governante fez isso e parece que aquele papo de mudança não começou ainda.
Unknown disse…
Pe. Edilberto é o primeiro a "arriscar" um número, 10% do lucro.Se é muito ou pouco a discussão vai dizer.
Mas é o caminho.
Um abraço fraterno, Padre.

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Nuranda,danado,que bom revê-lo.
Já estava preocupado com sua ausencia.
E gostei do trocadilho com os peitinhos da governadora.
Entendi como quis...rs.
Abs
Anônimo disse…
Até que enfim...os extremos se atraem...Nuranda e o Padre...os dois juntos fazendo demagogia.
Nem uma palavra sobre a Agenda Positiva, o programa Juruti Sustentavel...as obras de infra que já estão ocorrendo e que estão previstas.
Pedintes são assim mesmo, fazer o que?
Anônimo disse…
Gostei do comentário do diretor da rádio. Penso ainda que o estado deveria condicionar aos gringos que exploram as nossas riquezas e devagar, com o aval dos menos informados ou muitos "expertos", tomam a Amazônia, que formem a mão de obra técnica e superior para trabalhar nesses empreendimentos recrutando os nativos locais. Esses seriam os verdadeiros empregos para a população local. E não vagas de vigilantes, serventes, motoristas e outros que, sem deméritos, são miseros salários e não precisam de quase nem um investimento em formação. Esse pensamento vale não apenas para Jurutí, mais principalmente, para as mineradoras que se instalam aos montes na região garimpeira em Itaituba.

Adilson Araújo
(Controlador de Tráfego Aéreo)
Anônimo disse…
Ihhh... depois de falar de sair do armário o Juvêncio tá preocupado com o "danado" do Nuranda é? estranho! ficou ausente um pedido de desculpas pela enxurrada de bobegens que falou no comentário "fora de foco". Vá lá ler o recado que deixaram pra voce.
Anônimo disse…
eu disse......