O bom debate

Padre Edilberto Sena e o leitor que se assina Nuranda estão travando uma boa discussão, na caixinha de comentários, sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Confira!

Comentários

Anônimo disse…
Prezado Nuranda - Um ano novo de paz para você e para o mundo, se isso é possível, com Bush, ONU e devastação da Amazônia...

Aproveito o último dia do ano e horas antes do novo chegar para ampliar nosso diálogo, que não precisa chegar a consensos, mas pode chegar a clarear nossos modos de encarar a vida e agir na sociedade, para que nos tornemos humanos uns com os outros e a bem de nosso povo. Vamos ao que nos pôe frente a frente:

1.Pensamos diferente "nos métodos e postura para tornar nossa sociedade rica e justa". De fato aí é onde divergimos. Sem apelarmos para para explicações ideológicas, mas a compreensão de encaminhamentos de soluções. Se te interpreto corretamente, atribuis a responsabilidade de as riquezas da Amazônia estarem sendo usufruidas basicamente pelos de fora e pelos poucos testas de ferro e "gerentes" nativos ou migrantes aqui residentes a serviço dos de fora, atribuis esse estado de coisa à nossa lentidão em lutar pelo que é nosso, à pobreza organizacional de nosso povo. Portanto para ti, somos nós os culpados de não desenvolvermos a qualidade de vida nossa. Sendo assim, achas natural que o sistema de mercado internacional e do sul venham aqui e aproveitem as riquezas existentes. Afinal, o progresso da humanidade precisa dessas riquezas e se nós somos ignorantes, atrazados e não sabemos tirar proveito dessas riquezas, não podemos espernear.

Se pensas assim, estamos distantes e não iremos à mesma trincheira de luta para mudar a situação e buscar o desenvolvimento que ambos sonhamos (como objetivo, como bem dizes). Durante 22 anos sonhei e me juntei a tantos que sonharam que um partido político poderia mudar o caminho e chegaríamos ao desenvolvimento. Colocamos o ex-operário no poder, mas ele nos enganou e enganou a si próprio. Não tinha convicção do método de construir o desenvolvimento para seu povo, como sonhávamos. Faltou a ele a audácia revolucionária que teve Mandela, Gandhi, Chaves e Morales. Ele preferiu satisfazer-se com o poder e ignorou a missão que lhe foi dada, por tantos companheiros e pela sociedade em 2002.

Sei que teu método e postura não admitem os desses estadistas que fazem a história diferente. Antecipadamente tu afirmas que Morales não manterá o jogo, porque expulsa os outros jogadores e ele fica só com a bola. Desculpa dizer, mas acho essa comparação do jogador dono da bola, meio ingênua. A bola do Morales é preciosa e não é assim que nenhum jogador fica em campo. Petróleo e gás hoje, valem mais que ouro. Ele não expulsou os jogadores de campo. Apenas ele disse que o jogo tem regras e que os jogadores (entre eles, a Petrobrás), estavam burlando as regras e fazendo gols sozinhos. A Bolivia não só é dona da bola, mas entende que as regras do jogo devem dar direitos de os bolivianos usufruirem do jogo e não serem apenas gandulas. E aí, os Bolivianos com seu presidente estão mais adiantados do que nós aqui na Amazônia, que justificam (isto é, eu não justifico o saque de nosas riquezas, mas há quem o faça) que seja normal que as multinacionais venham aqui e levem as riquezas e deixem as clareiras, que o sul venha aqui, exija e o presidente bate o pé e quer tirar "os entraves (indios, quilombolas, amazônidas conscientes e Ministério Público Federal) para implantar hidroelétricas e outros mega projetos, isto é abrir as portas para a retirada das riquezas a qualquer custo. Morales tem a audácia de mudar as regras do jogo a bem de seu povo, o nosso presidente tem a audácia da subserviência ao capital neo liberal, traindo nossa luta de 22 anos.

2. "... mas para estar em campo é preciso treinar, se dedicar, se esforçar e merecer estar no jogo, não somente por sermos donos da bola, mas por merecermos jogar". Santa Bárbara, Nuranda. Se te entendo bem, estamos longe, longe de construir juntos o desenvolvimento de nossa região. Quer dizer então, que enquanto não treinamos, não merecemos estar no jogo de construir o desenvolvimento humano e social, com as riquezas de nossa região. Ficamos de fora do campo entregamos a bola e os espertos e donos do capital fazem seu jogo, levam as riquezas, destroem nosso ecossistema e ao final do jogo (como foi com o manganês do Amapá, os garimpos do Tapajós, a bauxita de Trombetas que alguns já afirmam que se esgotará dentro de mais 20 anos) eles vão embora alegres pelos gols que fizeram, riem de nossa cara. É isso o que merecemos?

Nuranda, não é verdade que a gente aprende a nadar, nadando? jogar, jogando? O que fazem Morales e Chaves é isso. Claro que uns os consideram loucos, irresponsáveis, populistas e outros apelidos semelhantes. Mas a verdade é que eles estão criando uma nova mentalidade em seu povo, estão criando regras que levam seu povo a ter mais comida, escola e mais direitos de determinar como construir a sua democracia. E olha, que ambos têm menos poder econômico do que nosso país, mas estão utilizando suas riquezas para o desenvolvimento de seu povo. Estou citando os dois vizinhos nossos, inclusive aqui da Amazônia, mas como gostaria de citar o nosso presidente, infelismente ele optou pelo teu método e postura, Nuranda. Preconizar que tanto a Venezuela como a Bolívia darão com os burros n'água é entrar no jogo do sistema neo liberal que pensa que quem joga diferente dele está errado e se dará mal.

3.Quanto à afirmação minha de que a Amazônia é dos amazônidas, creio que exagerei na afirmação. Provavelmente por uma reação inconsciente a um decalque que anda por aí em alguns carros (espero que no teu não esteja) dizendo que a Amazônia é dos brasileiros, quando quem está sendo defendido é o capital estrangeiro de multinacionais implantadas na região, umas inclusive ilegais, além de madeireiras do sul e o agro negócio de fora da região. Concordo que o Brasil é dos brasileiros e a Amazônia também. Mas não aceito o uso desse argumento justificando que se tenha que permitir a destruição da Amazônia para construir mega hidroelétricas, a fim de servir ao sul e permitir a destruição de matas, florestas, igarapés, em nome do progresso do país.

A Amazônia até hoje é apenas saco de onde se tira e não se põe, se levam as riquezas e deixam a desgraça ambiental e a pobreza da população. Será que você se cala diante disso, só porque nosso povo ainda está desorganizado e sem tecnologia para benficiar-se das riquezas?

4. "Vamos fazer nossa parte que o medo dos bichos papões desaparecerá e todo forasteiro será visto como mais um para contribuir com a massa e dividir o saboroso bolo que podemos construir". Oxalá fosse assim, Nuranda, como foram os nordestinos que aqui vieram no passado e aqui se integraram à nossa luta pela vida. Mas os forasteiros que chegam hoje são diferentes, não sejamos ingênuos. Foi por essa doce ingenuidade que o grande Ainberê foi assassinado pelos portugueses e a confederação dos Tamoios
foi derrotada. O grave daquela derrota é que foi o irmão do grande cacique que o traiu e entregou aos inimigos. Como era mesmo o nome do traidor? Não pretendo ser xenófobo, ainda mais porque sou mestiço, bem misturado de português, negra e índio. Que venham todos de todo lugar, mas não para devastar, saquear e explorar nosso povo. Que venham para construir conosco o desenvolvimento social e humano. Não é o que está acontecendo neste momento com madeiras, minerais, grãos, cachoeiras e outras riquezas.

Bom, Nuranda, passo a bola para ti. Enquanto o Blog permitir poderemos escrever nosso livro, mas além disso te desafio a treinar nosso povo, enquanto tentamos entrar em campo e jogar o que sabemos. Um garnde abraço e bom ano novo para nós...

Padre Edilberto Sena
Anônimo disse…
Vamos lá Padre Edilberto.

Também espero que o Sr. tenha um ano de 2007 cheio de felicidades e saúde, independete de Bush, Onu ou qualquer outra "força oculta" maquiavélica altamente preocupada com Santarém.

Pois bem, tentarei não me prolongar muito (difícil)pra que somente nós dois tenhamos paciência de ler um debate interessante que no fundo é algo puramente ideológico.

Essa ideologia se baseia na capacidade de admitir nossa imperfeição enquanto sociedade (Brasil/amazônia) e essa admissão, ao meu ver, é o primeiro passo pra compreensão mais ampla do problema e sua consequente tentativa de equação.

O sr. Está certo, para mim, somos nós os únicos culpados pelo nosso atraso em qualidade de vida, desenvolvimento sócio econômico e consequentemente compreensão da importância de preservar e manter esta que é a região potencialmente mais rica do mundo, seja com olhos capitalistas ou puramente por consciência de que dependemos de relações harmonicas com a natureza.

A nossa diferença ideológica mostra que o sr. insiste na tese de que forças demoniacas externas são responsáveis pelo nosso atraso por imposição e que só estamos assim por culpa de alguém... mas não nós. Se esse alguém "deixase" nós seriamos uma grande potência... Eu discordo.

Ainda do ponto de vista histórico acho que o sr. comete alguns equivocos ao colocar no mesmo balaio mandela, ghandi e morales. Assim como estes, Bin Laden tem(tinha, não sei) um sonho e dedica toda a sua vida a realiza-lo por achar que as suas crenças vão resultar num mundo melhor para aqueles que o seguirem, o mesmo pra Sadam, Hitler ou Stalin, nem porisso podemos considerar que alguem que se dedica a mudar as coisas está mudando pro caminho certo. Como diria o ex presidente do Corinthinas "... Estavamos na beira do abismo mas demos um passo adiante..."

Só pra esclarecer, se eu fosse Boliviano, apoiaria Morales pela audácia de desafiar as regras do jogo que são danosas à Bolívia, mas daí a achar que sem "treinamento" adequado a riquesa do petróleo/gás brotará naturalemente é sim uma grande ingenuidade. O Brasil levou bons 50 anos pra se garantir como excelencia em tecnologia de extração e beneficiamento de petróleo e olha que a nossa estrutura de academias tecnológicas é absurdamente superior à da Bolívia. Torço para que os Bolivianos consigam se dedicar e desenvolver sua rede de técnicos, engenheiros e cientistas que dêem conta da sua maior riquesa e dela usufruam, da mesma forma torço para que nós amazônidas também o façam.

Com ou sem Santa Bárbara, é isso aí, estamos muito longe de conseguir ter desenvolvimento por aqui. Acho que o sr. Não leu direito o que eu escrevi e porisso tirou conclusões um pouco precipitadas.

Acho que não só eu, como o resto da natureza e o seu próprio Deus somos Meritocratas. Só merece ir pro céu, sobreviver ou ter sucesso quem se esforça, se prepara, se dedica, quem busca melhorar continuamente e quem quer o melhor pra si e pros outros. Logo, se não treinamos, não merecemos estar no jogo com não estamos e não estaremos se não nos prepararmos. Temos que fazer a nossa parte e com certeza o sr. conhece inúmeras passagens bíblicas que citam a necessidade de cada um fazer a sua parte pra receber os benefícios.


Em relação aos grandes projetos, já roubaram a nossa bola, podemos aprender a jogar em paralelo, justamente com os brutamontes que roubaram a bola. Ou como é que o sr. acha que podemos treinar? Com a nova associação dos garimpeiros ("mineradores")?Já pensou uma nova serra pelada pra explorar bauxita ou minério de ferro? 50 mil homens com sacos nas costas levando minério! que cena linda de inclusão social!


O que proponho é exatamente aprender a nadar nadando, já que construiram uma piscina e nela tem gente que sabe nadar, o que custa aproveitar o conhecimento dos que já estão nadando pra que a nossa gente possa nadar também?

Quantas exigências de construção de universidades e ou centros tecnológicos foram feitas pelas ongs que "defendem" a amazônia ou pela população ou pelas associações empresriais? Como querem que os "nativos" daqui explorem as riquezas? com pás, picaretas e enxadas? vamos voltar pras cavernas e caçar.

Tibério que não nos ouça, mas se o Lula adotou o "MEU" método, agora ele será meu defensor. Acho que o sr. ainda não "sacou" qual é o meu método, mas com o tempo acaba vendo.

Fique certo que adesivos panfletários nunca estarão no meu carro, moto ou bicicleta. Nem terços de nossa vossa senhora, nem adesivos exaltando Jesus, nem exigências de expulsão de Ong´s e muito menos qualquer mote que contribua pra cegueira total que estamos vivendo neste ridículo ping pong de jogar culpa sempre pros outros. Acho que precisamos de um Psicólogo...ou psiquiatra.

É exatamente pra defender a amazônia das destruições completamente ineficientes e ineficazes que levam tudo e deixam miséria, afirmo que é absolutamente necessário repensarmos o nosso papel enquanto moradores daqui.

Nós só permitimos que continuem fazendo porque não temos interesse, nós deixamos acontecer por não saber o que fazer com ela. É exatamente por achar que daqui só se tira com a complacência de quase todos que acho que é nosso dever mudar isso e de preferência mudar pra melhor, pra mais qualidade de vida, pra maior equidade de oportunidades, pra maior responsabilidade no uso de nossos recursos. No "meu método" isso só ocorre com educação e especialização fazendo com que iniciativas locais aproveitem o potencial que a região oferece, amparada por legislações rígidas, incentivos governamentais e vontade de mudar.


Baseado em sua frase: "...Que venham todos de todo lugar, mas não para devastar, saquear e explorar nosso povo. Que venham para construir conosco o desenvolvimento social e humano. Não é o que está acontecendo neste momento com madeiras, minerais, grãos, cachoeiras e outras riquezas..."

Pergunto pela décima vez, apesar do sr. ter dito em alguns outros posts que não sabe a resposta.

PORQUE TEMOS MINÉRIOS, MADEIRA, ÁGUA, TERRA BOA PARA PLANTIO, GENTE E NÃO TEMOS DESENVOLVIMENTO SOCIAL NEM ECONÔMICO?
PORQUE PRATICAMENTE SÓ QUEM VEM DE FORA PROSPERA POR AQUI?
O QUE ESTAMOS FAZENDO PRA MERECER TER QUALIDADE DE VIDA?


Essa é a pergunta que o sr. deve se fazer ao discordar das "minhas teorias neo-liberais" (e agora influenciadoras de Lula) ao jogar a culpa pra nós mesmos.

Acredito que o processo de treinamento do povo é algo lento e demanda uma ou duas gerações, minha maior angústia é ver que medidas essenciais de longo prazo continuam postergadas e desprezadas e caimos cada vez mais nas armadilhas de curto prazo. Esteja certo de que busco fazer a minha parte.

Agora a bola está com o sr.. tente responder as perguntas que lhe fiz e vamos continuar o treino de toque de bola, mesmo que estejamos só nos dois jogando.

Outro grande abraço.