A cruz da ética na mídia




Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de hoje:

Quem trabalha com meios de comunicação, especialmente rádio e televisão e agora internet, tem uma grande cruz a carregar na vida: gerar informações éticas e objetivas. Não apenas para deixar seu público informado, em condição de formar sua própria opinião, como também respeitar a busca da verdade, cuidando também de respeitar a dignidade de terceiros. Uma informação errada, mal pesquisada se torna irresponsável e os prejuízos são difíceis de serem sanados.

Em Santarém, acaba de acontecer um desses casos de informação mal feita e irresponsável. Uma criança foi assassinada nos braços da mãe à queima-roupa, por um desconhecido perverso. Ao lado da mãe estava uma senhora, que tinha chegado ali de uma reunião religiosa. Também ela recebeu dois tiros no corpo e está no hospital em recuperação.

O repórter correu lá no local do crime para uma rápida notícia. Não pesquisou em profundidade e, na ânsia de dar a informação em prmeira mão a seu público, afirmou que a mulher baleada, que está no hospital é "seguramente" traficante e, daí, a razão de ter sido baleada.

A notícia se espalhou pelo bairro, pela cidade e até onde seu veículo de comunicação alcança. Amigos e parentes da senhora baleada ficaram chocados com a difamação, porque conhecem a mulher e sabem que é pessoa de comunidade, ligada à catequese de sua igreja e injustamente difamada.

Em cima de um crime, desta vez outro crime por difamação por alguém dos meios de comunicação social. Tudo por falta de ética, falta de seriedade na busca da informação, sem apresentar o contraditório num fato controverso.

Agora, mesmo que o jornalista decida se esclarecer e pedir desculpas pelo equívoco, o mal não será nunca totalmente sanado e a boa fama daquela senhora baleada, ainda no hospital, estará manchada injustamente.

Um dia alguém a verá na rua e poderá dizer: lá vai a traficante que foi baleada. Por isso, toda pessoa que gera informação pública carrega uma cruz pesada, a cruz da ética.

Comentários

Anônimo disse…
Como estive ausente a partir de 20 de dezembro do ano passado até o dia 5 de janeiro, só agora estive dando uma olhada no blog do meu amigo Jeso. Como sempre, encontrei muita coisa interessante, como o manifesto do Manuel Dutra, que foi fartamente comentado e com o qual concordo plenamente, e um artigo escrito pelo Padre Edilberto Sena.

Vou ater-me ao artigo.

Edilberto, você foi preciso no seu comentário do dia 28 de dezembro, quando disse que toda pessoa que tem a responsabilidade de gerar informação para o público deve carregar a pesa cruz da ética.

Conforme já conversamos algumas vezes, concordando sempre nesse ponto e discordando noutros, nós, que escolhemos ou que fomos escolhidos para esse trabalho não podemo esquecer nunca que lidemos com reputações, com honras das pessoas.

Um notícia inverídita é como aquela velha fábula do travesseiro de penas lançadas ao vento. Uma vez levadas pelo vento, jamais será possível recolher todas as penas.

Quando não tomamos cuidado com o que divulgamos, podemos destroçar vidas. O ofício que praticamos requer muita prudência, que nem sempre é uma preocupação de diretores e de donos dos veículos de comunicação.

Jota Parente