Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de hoje:
Nestes dias estiveram em Santarém e mais sete cidades da Amazônia equipes do governo federal, realizando audiências públicas sobre o Plano Nacional de Florestas. Em si, um bom exercício de democracia, embora com uma grande limitação: a maioria dos participantes desconhecia o texto original do plano, entregue só na hora da audiência.
O chefe da equipe disse que o texto estava na internet, bastaria acessar o site do MMA, como se todos nós tivéssemos tempo e facilidade para tal acesso. Sem o estudo prévio, fica difícil se fazer análise e correções pertinentes de última hora.
Mesmo assim, o projeto de plano parece melhor do que a ausência quase total de regras para cuidar das florestas públicas, hoje assaltadas impiedosamente por grileiros, fazendeiros e madeireiros. Até aí, até que vai bem a ação do governo, nunca tinha sido feito algo semelhante.
De repente chega uma informação ruim, que põe por terra as boas intenções e utilidade do Plano Nacional de Florestas. O governo federal transfere a responsabilidade da execução do plano para os governos estaduais.
No caso do Pará, o que esperar então? Nem o plano federal foi aprovado ainda e a desgraça já começou, ou melhor dizendo, se acentuou no Pará. O governo estadual acaba de conceder uma licença de atividade rural, um tal de LAR. Quem é o primeiro felizardo? Logo quem: a Companhia Vale do Rio Doce.
Ela ganhou o direito de fazer reflorestamento em área alterada de floresta. O título da concessão até parece coisa boa. A Vale do Rio Doce aparece como generosa ambientalista a recuperar florestas que outros destruíram. No entanto, por trás do belo título está a maldade, tanto do governo do Estado, como da Vale do Rio Doce.
A tal recuperação de área degradada será reflorestada com um só tipo de árvore. Imagine isso na Amazônia! E que tipo, eucalipto, árvore que absorve imensa quantidade de água, não atrai animais e servirá exclusivamente a ser cortada depois de alguns anos na fabricação carvão. Para quem? Para os pobres? Não, para as usinas siderúrgicas da própria Vale e colegas.
Portanto, a licença dada pelo governo do Estado não tem nada de preocupação com meio ambiente. Por isso, não dá para aplaudir nem o Plano Nacional de Florestas do governo federal, quando transfere a responsabilidade para governos estaduais irresponsáveis.
O diálogo democrático das equipes que constroem o Plano Nacional de Florestas parece mais conversa para boi dormir. Não se pode tapar o sol com peneira, não na Amazônia, talvez em Brasília!
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