A estranha greve da Celpa




Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de ontem:

É natural e compreensível a greve dos trabalhadores da Celpa nestes dias. Estranho, mas compreensível também seria se eles nada fizessem para reclamar e tudo aceitassem conformadamente. Afinal, numa época de desemprego, qualquer tipo de protesto de quem tem menos força é perigoso. Também é compreensível, embora intolerável, a atitude irredutível e impositiva da empresa.

E assim hoje quase tudo está ficando compreensível e natural. Quase nenhuma grande empresa capitalista quer mais assumir responsabilidade social com seus trabalhadores. Terceirização é a palavra da moda. Com isso, a dona do negócio ganha mais lucro e tem menos compromisso com as obrigações trabalhistas e assistência social com os empregados.

Já os donos das terceirizadas ganham boa parte dos lucros e utilizam, em geral, artimanhas da lei, evitando compromissos mais graves com as responsabilidades.

Tudo é explicado e justificado com a modernização dos negócios e a globalização da economia. Mas, no caso específico da Celpa há outra explicação para a situação atual dos trabalhadores, a privatização. Quando energia elétrica era um serviço ao povo, o Estado era responsável.

Os funcionários da antiga Celpa ganhavam bons salários e prestavem bom serviço. Hoje, depois do crime cometido pelo governo FHC, privatizando várias empresas estatais, como a Vale do Rio Doce, a telefonia e a Celpa, tudo se tornou mercadoria. E a mercadoria energia elétrica ficou nas mãos de um só dono.

Os usuários não têm escolha: ou aceitam as regras da empresa ou ficam sem energia. É mercadoria e não mais um serviço.

Quem trabalha ali, não é mais um funcionário, é empregado, mão-de-obra que pode ser descartada a qualquer momento. Vários deles já não são da Celpa, são de terceira empresa prestadora de serviço. Fica muito difícil reclamar, reivindicar direitos, nem os empregados, nem os usuários.

Para tirar dúvidas é só aguardar para ver como vai terminar essa greve atual dos trabalhadores da empresa. E quando ela decide subir o preço da energia, quem ganha e quem parde com isso? E quando há um pique de energia e queimam equipamentos, quem dá o laudo de responsabilidade? Como mudar tal situação?

Uma só pobre criatura não pode responder.

Comentários

Anônimo disse…
Padre Edilberto tem razão. Mas ainda falta conscientização para os trabalhadores, pois, mesmo em greve, alguns arrotam que vão votar no Alckmin e no Almir