Soja: a vigilância deve continuar




Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de hoje:

Novamente o município de Santarém está sendo notícia no mundo, além do Brasil. Quando há algumas semanas a TV Globo mostrou um pouco da realidade dos impactos do agronegócio na região de Santarém houve aplausos de um lado e duras críticas de outro.

Inclusive houve quem quisesse suspeitar da objetividade da poderosa Rede Globo. Agora, quando as próprias multinacionais vendedoras e compradoras de soja fazem um acordo de não mais comprar ou vender soja ilegal da Amazônia não dá mais para tapar o sol com a peneira.

Os próprios plantadores da região, ao frequentarem uma oficina para aprender a fazer reflorestamento de áreas que eles mesmos degradaram, estão admitindo, embora tardiamente, que estão errados até agora.

Quando a própria multinacional Cargill declara que não mais comprará soja de áreas ilegais e não mais aceitará destruição de floresta, está admitindo que aceitava isso antes e está errada.

Assim sendo, as agressivas reações feitas há pouco contra a ONG Greenpeace e o movimento popular organizado de Santarém não eram corretas. Se a Amazônia é dos brasileiros, não pode ser destruída nem por estrangeiros, nem por brasileiros. Ela tem que ser cuidada por todos e dela retirado o sustento dos brasileiros sem violentá-la.

A sociedade santarena que, até há pouco estava confusa e surpresa com os confrontos entre sojeiros e ambientalistas, certamente compreenderá quem tinha razão. A começar pelos que agora tentam se adequar às exigências dos compradores de soja na Europa, Mc Donald e Unilever à frente.

Foi preciso persistência e ação da Frente em Defesa da Amazônia e do Greenpeace, mesmo com a agressiva violência de alguns sojeiros e certa indiferença de autoridades municipais e empresariais, para que lá na Europa, vendedores e compradores de soja admitissem que a produção extensiva de soja na Amazônia não é compatível com os compromissos ambientais da região, do país e do planeta.

Não se pode mais dizer que a destruição da floresta e das matas é o preço necessário para o progresso. Resta agora acompanhar os próximos passos para ver se as novas intenções se realizarão na prática, ou se é apenas para inglês ver, literalmente.

A vigilância deve continuar pelas autoridades, pela sociedade santarena, pelo movimento social organizado, pela juventude e também pelo Greenpeace, por que não?

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