Ministério da Saúde confirma morte por Chagas em Santarém

O Ministério da Saúde confirmou na manhã de hoje 17 casos e uma morte provocada por doença de Chagas em Santarém.

O primeiro caso foi notificado no dia 7 de junho e o paciente morreu no Amazonas depois de ter contraído a doença na localidade de Mojuí dos Campos.

Duas equipes do Ministério da Saúde estão em Santarém trabalhando na investigação das causas. Os primeiros indícios apontam para contaminação por via oral, através de alimentos [possivelmente pela ingestão do vinho da bacaba].

De acordo com nota técnica da Sespa (Secretaria Executiva de Saúde), o órgão foi informado pela Coordenação Nacional de Doenças de Chagas dos casos e passou a dar orientações à Divisão de Vigilância Epidemiológica de Santarém.

Ainda de acordo com a nota, os dois primeiros casos registrados estão em tratamento na cidade de Manaus e outras 11 pessoas com diagnótico positivo da doença estão clinicamente bem e sob tratamento ambulatorial supervisionado pela equipe de médicos infectologistas do Hospital Municipal de Santarém.

A Sespa informou também que atualmente existem 16 pessoas diagnoticadas como casos agudos de doença de Chagas em tratamento supervisionado e que não há registro de novos casos desde o dia 10 de julho.

Fonte: O Liberal Online

Comentários

Anônimo disse…
A doença de chagas e o desmatamento na Amazônia
Originalmente, a doença de Chagas era uma enzootia de animais silvestres, onde mais de 100 espécies entre marsupiais, quirópteros, roedores, edentados, carnívoros, logomorfos e primatas albergavam o T. cruzi. Por outro lado, numerosas espécies de triatomíneos silvestres se encarregavam de transmitir o T. cruzi entre eles, criando um ciclo silvestre de infecção. Coube a Carlos Chagas, no processo da descoberta da doença de Chagas, demonstrar a infecção dos triatomíneos e do homem pelo T. cruzi. (1)

A confirmação pelo Ministério da Saúde de 17 casos da doença na região do Planalto Santareno traz à tona um problema de saúde pública, por um lado, pela falta mesmo de controle e de políticas adequadas para prevenir a doença, mas também revela a ligação com uma outra questão: o desmatamento.
Não pretendo trazer aqui mais argumentos de quem está desmatando, quem são os culpados, pois acho que as respostas estão aí pra todo mundo ver, mas mostrar como o problema pode nos afetar, inclusive e principalmente na saúde.

Não é de hoje que especialistas pesquisam e mostram a relação entre a doença e os problemas ambientais. José Rodrigues Coura, fala na revista Ciência e Cultura que “O processo de adaptação dos triatomíneos ao domicílio humano dependeu de dois fatores que se complementaram: a necessidade alimentar do barbeiro e suas mutações genéticas ao longo do tempo. Com o desmatamento e rareamento dos animais silvestres, suas fontes naturais de alimentação, os triatomíneos passaram a alimentar-se dos animais domésticos e do homem, adaptando-se ao peridomicílio e ao domicílio (2,3)”.

Também na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, artigos falam que alguns fatores são considerados pelos pesquisadores que trabalham nesta região (amazônia) como importantes desen-cadeadores de uma alteração no quadro atual da doença de Chagas humana, que presentemente é considerada uma enzootia silvestre na região amazônica. Entre esses fatores, podemos citar as migrações humanas e o crescente desmatamento da região.

Outro renomado órgão de pesquisa, o Instituto de Medicina Tropical, divulga em seu site que “o risco que essa doença se torne endêmica é cada vez maior, pelas seguintes razões: a) desmatamentos e colonização descontrolados, alterando o balanço entre reservatórios e vetores; b) adaptação de reservatórios e vetores silvestres com T.cruzi ao peridomicílio, como única alternativa alimentar; c) migração de populações humanas infectadas com T.cruzi acompanhadas de reservatórios domésticos (cães e gatos) ou de vetores de suas regiões de origem na bagagem, já adaptados ao domicílio.

Como sabemos, a região do planalto é uma das mais afetadas pelo desmatamento, e nos últimos anos, a floresta tem deixado lugar ao plantio de soja. A vida silvestre sendo alterada, provoca mudanças em todo seu entorno. Quem lembra da onça que quase come um cidadão numa comunidade na região do planalto, pois estava a busca de comida, que não encontrara mais em seu habitat natural? O caso da doença de chagas, além de uma emergência de saúde pública, deve servir para nos fazer pensar sobre o que estamos fazendo com a nossa floresta e por conseqüência, com nós mesmos.