Cooperativismo nas casas rurais




Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de sexta-feira, 26:

FAZ PARTE da herança indígena a facilidade de se viver em comunidade aqui na Amazônia. O nativo não gosta de viver longe de água corrente, nem viver isolado. Mas também faz parte dessa herança o não ter ambição de acumular riquezas, o empreendedorismo. É verdade que hoje, com a influência do mundo consumista, cresce uma confusão na mente desse mesmo nativo, uma mistura de valores e pseudos-valores.

O cooperativismo surgiu no mundo capitalista. Foi uma forma de unir forças para lucrar mais, vencendo a concorrência. A motivação do cooperativismo é lucrar mais, por uma forma de trabalho coletivo.

Na Amazônia, onde a herança nativa ainda é forte, não tem dado certo o cooperativismo. Várias tentativas já foram feitas e fracassaram. É verdade que a maior parte delas começou com método errado, paternalista. Uma das poucas que deram certo foi a de Monte Alegre, mas quando era dirigida por japoneses, com outra cultura.

HOJE, sem os japoneses, mesmo aquela vive em crise permanente. Mais recentemente se tentou um progresso educativo através de associações de pequenos produtores, que em muitos casos desviaram-se do caminho por culpa dos bancos e da assistência técnica incompetente. Os bancos só liberam financiamentos de FNO especial e Pronaf para pequenos produtores se estiverem associados. Foram então criadas associações sem fundamentos sólidos e fracassaram.

Hoje, para se levar adiante um cooperativismo vai se enfrentar mais desafios. Como construir um processo educativo que supere os vícios acumulados e a herança do comunitarismo não empreendedor?

As entidades de assistência técnica, a maioria delas não entende o processo educativo de construir o empreendimento produtivo e comercial de forma cooperativa. Alguns têm teoria, mas sem pedagogia. Será necessário incluir essa matéria nas casas familiares rurais. Antes, tornar a casa familiar rural uma política pública séria.

QUEM sabe a Secretaria Municipal de Agricultura nesta nova etapa irá fazer isso. Sem uma educação de base cooperativista será perda de tempo e de recursos iniciar criação de novas cooperativas.

Comentários

Anônimo disse…
Realmente o cooperativismo é a melhor solução de aliar desenvolvimento coletivo às regras capitalistas. Inclusive ouvi estas afirmações em uma palestra do atual ministro da agricultura que era presidente da associação internacional de cooperativas...
Mas não é este o caso.

ENTRETANTO....

O Sr. Levantou uma questão MUITO polêmica e perigosa que é a adaptação da cultura dos descendentes indígenas ao modelo capitalista.

A polêmica fica em torno da ratificação de um preconceito antigo e que inclusive os atuais sojeiros tem utilizado de maneira agressiva e absurda como já publicado anteriormente inclusive neste Blog.

A idéia de não se adequar ao modo de trabalho da sociedade de um modo geral é diretamente associado a adjetivos pejorativos.


Citando Houaiss:

PREGUIÇOSO

adjetivo e substantivo masculino
1 que ou aquele que tem preguiça; mole, desanimado, indolente
2 que ou aquele que não trabalha ou estuda; vadio, malandro, mandrião
3 que ou aquele que faz as coisas com vagar e sem muito empenho ou capricho.

VAGABUNDO

adjetivo e substantivo masculino
Uso: informal.

2 que ou quem leva a vida no ócio; indolente, vadio.


Tenho certeza de que não foi isso que o sr. quis dizer, entretanto, ao afirmar:

"O nativo não gosta de viver longe de água corrente, nem viver isolado. Mas também faz parte dessa herança o não ter ambição de acumular riquezas, o empreendedorismo". Esse tipo de afirmação contempla do ponto de vista da grande maioria da população ocidental as definições dos adjetivos acima citados.


Também me preocupa esta afirmação: "É verdade que hoje, com a influência do mundo consumista, cresce uma confusão na mente desse mesmo nativo, uma mistura de valores e pseudos-valores".

Eu não sei o que o Sr. quis dizer com "HOJE" mas a amazônia vive "capitalistamente" e diga-se de passagem com um capitalismo selvagem (sem trocadilhos) desde o século XVIII.

O trabalhador rural não é mais índio ha muito tempo.

Considerando que o Sr. afirma que os indivíduos descendentes de indígenas (não sei como filtra-los ja que temos uma mistura muito farta entre várias etnias, incluido os africanos as quais estas mesmas definições são injustamente e comumente atribuidas) são considerados despreparados para o que nos chamamos de estímulo ao trabalho e a geração de riquezas, e não tiveram "tempo" necessário para se adaptar ao "novo" modelo de acumulação, posso concluir que o sr. contribuiu enormemente para a perpetuação de preconceitos baseados em ETNIAS e não em processos e oportunidades.

Como explicar que Belém é uma cidade desenvolvida? Como explicar que em Manaus temos excelentes empresários, técnicos e administradores com fenótipo e genótipo indigena? O sr. está condenando a maiora da população de santarém a viver deitada em redes comendo peixe frito na beira de um igarapé? O Sr. Acha que eu, descendente de índio, não tenho capacidade de me adequar a qualquer modelo e devo viver como meus acestrais silvícolas? não tenho ambições?

Considerar que os decendentes de índios, negros, nordestinos ou qualquer origem que seja tem uma pré-disposição cultural ou genética (como na sua convicção o homem veio de adão e sabe lá qual é a definição da santa sé para a passagem das caracteristicas hereditárias, não sei se o sr. concorda com o termo genético) para o não empreendedorismo é de um preconceito absurdamente infundado, criminoso e lamentável.

Espero que o Sr. reveja seus conceitos e pare de tentar explicar as suas crenças por vias inconsistentes e absolutamente tortas.