Abastecimento de água em Santarém




Jubal Cabral Filho (*)


HOJE se discute com ênfase sobre o abastecimento de água em Santarém. Seja ele feito pela Cosanpa ou pelo município, os consumidores querem um serviço de qualidade.

O crescimento urbano desordenado, a impermeabilização do solo, a ocupação sem infra-estrutura de saneamento nas áreas dos mananciais do Irurá, a disposição incorreta dos resíduos sólidos urbanos, o lançamento de esgoto, a erosão e o assoreamento provocaram um quadro de extrema deterioração ambiental e um risco sem limites no abastecimento de água na sede do município de Santarém.

A utilização criteriosa da água e a sua distribuição de forma justa e adequada, tanto em quantidade como em qualidade, é um imenso e desconhecido desafio para os órgãos gestores dos recursos hídricos em todo o universo brasileiro.

QUANDO os recursos hídricos eram abundantes e o crescimento populacional limitado, a Cosanpa podia se dar ao luxo (e ao lixo) de prestar este (des) serviço á população santarena.

Nunca se preocuparam em mandar efetuar um estudo de sub-superfície (água subterrânea) para avaliar se os poços construídos estavam sendo feitos em zonas adequadas ou não.

E aí entra o envolvimento profissional dos geólogos e geofísicos para verificar a disponibilidade. A hidrogeologia e a geofísica (ramos especializados da geologia) é quem vai determinar a quantidade e a qualidade da água subterrânea ou superficial, necessária para o abastecimento da população.

SÃO ESTES profissionais que vão avaliar a geometria dos aqüíferos existentes e os locais favoráveis à obtenção da água subterrânea potável em profundidade, capaz de suprir as necessidades da população na sede municipal.

Sempre fazemos uma comparação com um caso de doença: se alguém estivesse se sentindo mal (dor de cabeça) e recorresse simplesmente ao dono da farmácia e este lhe receitasse uma aspirina. A dor poderia ou não passar. Ou causar um mal maior.

Um médico poderá diagnosticar ou indicar um especialista para o problema. Assim funciona com os profissionais da Cosanpa, pois a maioria são engenheiros civis e sanitaristas e não entendem porque se constrói um poço em determinado local e este gera uma vazão adequada e em outro local não produz nada.

A COSANPA nunca teve um geólogo em seu quadro de funcionários. A Cosanpa nunca produziu ou contratou um trabalho neste sentido. Por quê? E aqui cabe um futuro trabalho completo sobre esta desinformação.

Discute-se a municipalização do abastecimento. Considero a proposta prematura e ineficiente neste momento. A Cosanpa não sairá do município de mãos abanando e nós não temos condições nem disponibilidade financeira para arcar com os investimentos (mal feitos, é verdade) efetuados pela estatal, através da municipalização do serviço.

Também não temos pessoal adequadamente qualificado para administrar uma empresa deste porte. Tal exemplo está demonstrado no município de Parauapebas, onde o governo municipal resolveu municipalizar o serviço e agora todos sentem o problema gerado: não sabem onde está a água e os equipamentos estão se deteriorando.

TAMBÉM não temos condições de montar uma empresa-espelho para prestar serviços nesta área. Novamente farão falta a estrutura necessária, os profissionais competentes e uma gestão eficiente. E não é um modelo adequado, pois só no Pará existem duas empresas de abastecimento de água atuando em uma mesma região metropolitana. E ainda falta água para, pelo menos, 10% da população!

Muito bem e agora? Qual o modelo adequado? E ninguém vai inventar a roda neste momento. A Cosanpa quer continuar com este serviço e os consumidores querem um serviço de qualidade.

É mister que se estabeleçam critérios e diretrizes claras e objetivas para que o abastecimento de água. Neste momento sugeriria uma administração compartilhada.

COMO? A Prefeitura tem que ter a capacidade de procurar uma empresa ou um profissional que aponte caminhos, critérios e parâmetros para auxiliar a administração municipal a implementar um Sistema de Gestão, que vise aprimorar a qualidade e a quantidade deste líquido precioso.

Quem, em Santarém ou fora dela teria a qualificação necessária para promover este estudo será o dever de casa desta administração municipal. A população será a julgadora deste trabalho.

E, sinceramente pelo que vem sendo demonstrado no planejamento e execução, não seremos felizes: o planejamento e a administração continuarão reprovados.

A água ainda será o motivo maior de guerras entre os povos atuais.


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* Santareno, é geólogo e consultor ambiental.

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