"Paraense" vira sentença de morte

Ao lado, o que você vê é a reprodução da página 19, do caderno de Polícia, do jornal Correio Amazonense, edição de hoje.

Um homem matou outro em Manaus por ter sido ofendido com o termo "paraense".

O blog já levantou essa questão, iniciada pelo jornalista e advogado santareno Celso Furtado, que sentiu na pele esse preconceito na capital amazonense, onde residia até o final do ano passado.

Em determinados círculos sociais em Manaus, é prudente que o paraense não revele suas origens, sob pena de ser alvo de chacotas, agressões verbais e, casos como ao lado, até agressão física.

Essa prática guarda semelhanças, em graus ainda diferentes, com a perserguição sofrida pelos judeus na II Guerra Mundial por parte dos alemães-nazistas.

A rivalidade Pará versus Amazonas, como há entre o Rio e São Paulo, existe há décadas e décadas. Mas nada agressivo, que descambasse para essa intolerância.

Intolerância unilateral, pois cá nessas terras, amazonense não precisa nega sua origem. Ainda.

Comentários

Anônimo disse…
Pelo visto o cara que se sentiu ofendido resolveu fazer jus ao "xingamento" e matou o outro.
Anônimo disse…
Jeso, sei bem como é isso. Logo quando cheguei em Manaus, senti esse preconceito. Isso vem de pessoas ignorantes, que não sabem o que estão falando, e ficam renegando suas próprias origens, afinal, isso tudo não era "Grão-Pará" (posso até estar errado, pelo menos é isso que eu lembro dos livros de história, ou será que confundi...e o amazonas não estava no meio...heheh). Aqui, eles tiram brincadeiras, como por exemplo, o nome de um presídio. O nome é presídio do Puraquequara, mais já ouvi muitas pessoas brincando, dizendo que o nome devia mudar para Paraquequara. "Essas" pessoas informadas, diziam isso, porque alegam que a maioria das pessoas presas, eram oriundas do Estado do Pará, fato esse desmentido, inclusive em uma matéria da Crítca. Todos os dias, chegam na minha caixa de email, piadinhas novas, com o personagem "paraense". Inclusive no orkut tem várias comunidades do tipo: "Eu odeio paraense", ou "Eu tenho um amigo paraense", ou "Eu amo piadas de paraense". Lamentável.
Anônimo disse…
Jeso, essa fobia de alguns "manauaras" (e não todos os amazonenses, pois fora de Manaus essa besteira nem é lembrada) contra os paraenses está mesmo atingindo níveis perigosos. Como vimos, de brincadeiras aparentemente simples está se passando a gestos mais violentos.
Já li mensagens "racistas" na internet dessas pessoas contra os paraenses. Mas sempre é de lá para cá: de Manaus contra nós. Nunca escutei nenhum paraense fazendo gracejo contra os amazonenses. Temos coisas mais interessantes para fazer e falar. Por isso digo que não é correto, como você disse, falar em rivalidade "Pará Vs. Amazonas". É o contrário.
Parece que há algum ressentimento aí no fundo disso tudo. Talvez pelos empregos que alguns paraenses tomaram dos amazonenses (os paraenses estariam sempre entre os primeiros lugares em concursos públicos, por exemplo), porque a maior parte da farinha de mandioca que se compra em Manaus vá daqui ou porque o Amazonas já foi parte do Grão Pará. Sei lá. De qualquer forma, isso é tudo uma tremenda pavulagem ou leseira (como dizem por lá).
Sugiro que os amazonenses de bom senso e no bom uso da razão apareçam, e liderem uma campanha de esclarecimento e discussão, mostrando que isso não nos leva a lugar nenhum, a não ser a gestos extremos como este mostrado no jornal aí no blog.
Quando é comigo (quando eu vou a Manaus), questiono meu interlocutor sobre o porque da gracinha. Em geral ele fica sem nem saber porque repete o que escuta dos outros. Com muita diplomacia e firmeza na argumentação eu o levo a ver o ridículo que são essas besteiras. Mas concordo que em ambientes mais pesados o melhor é ser mais discreto. Nunca se sabe...Risos.
Anônimo disse…
Tem uma expressão aqui em Santarem..."Que quando a pessoa já enganou Deus e o diabo aqui em Santarem ele tem tres alternativas..uma é ir pra Manaus, outra é ir pra Macapá e outra é virar evangélico" Mas vale lembrar que o governador do estado do Amazonas é paraense, e santareno, Eduardo Braga.
Anônimo disse…
Morei em Manaus os ultimos tres anos e senti na pele essa rivalidade.Meu filho chegou ao ponto de esconder que era paraense na escola. Depois aprendi a lidar com diplomacia e a inverter varias situacoes, levar na brincadeira, fazendo muitos e verdadeiros amigos manauaras:
- A vantagem de tomar banho na Ponta Negra e ser paraense? levar a identidade para afugentar os jacares....
- E o sonho do amazonense? vir no Para conhecer o pai....
- Ou enquanto nosso icone folclorico e o boto emprenhador, o do amazonense e o boi-chifrudo...
*Pena quando nao se leva na brincadeira...somos irmaos-vizinhos,temos o governador amazonense santareno, tres deputados estaduais e alguns vereadores daqui, nossa representatividade politica la e maior que em Belem.Fora que a populacao de Manaus e quase toda de imigrantes...Pena mesmo!
Anônimo disse…
Em meu comentário, achei melhor colocar um texto que lí em um escrito local.
Vejam se o motivo desta xenifobia não é esta?


O potoqueiro, esta figura comum no cenário belenense.
Passeando pelo Orkut, entrei com curiosidade numa comunidade xenófoba intitulada "Eu odeio paraense". Li, dentre muitos xingamentos a esse estado, um que afirmava e ao mesmo tempo indagava por que aqui as pessoas mentiam tanto. Mesmo sabendo que, obviamente, essa acusação não é baseada em estatística nenhuma, fiquei um tempo me perguntando se realmente ela procedia, se essa seria mesmo uma característica mais marcante por aqui . Pois, de fato, é bastante comum, pelo menos em Belém, esse personagem que não se contenta em viver com os fatos tão sem graça do dia-a-dia e que deliberadamente inventa histórias mais emocionantes: o potoqueiro.

O potoqueiro é um tipo talvez já catalogado pela Psicologia. Ele estuda seus interlocutores. Sabe quem vai lhe dar ouvidos, conhece as maneiras de, mesmo sendo inverossímil, ter sua história ouvida até o fim. Dificilmente escolhe multidões (mais de duas pessoas ao mesmo tempo) pra contá-las. Ele (lembro de poucas mulheres) pode te abordar no bar, numa festa, na parada de ônibus, onde for, não importa. Logo de cara, sempre demonstrará a primeira de suas três características principais: uma vida recheada de fatos interessantes.

Alguns são filhos de ilustres políticos, outros pulam sozinhos de pára-quedas em cursos-relâmpago feitos pelo correio. Um tipo, talvez o mais comum, é o do garanhão. Você passeia com ele pela rua e ele vai te apontando uma a uma as mulheres que possuiu, ainda que do lado dele só esteja mesmo você, impressionado com as histórias e, a essa altura, já um tanto desconfiado de tudo. E é nesse ponto que você poderá perceber a segunda de suas características essenciais: o potoqueiro é um homem do já-teve.

O potoqueiro conta histórias. Conta histórias da mulher que foi o amor da sua vida, mas que viajou - fatídico destino - para longe, outro estado, talvez outro país. Uma foto serve pra ilustrar o relacionamento desfeito. O potoqueiro conta histórias. Melhor: conta potocas. Conta do assalto, de como ele desarmou o bandido. E chega nervoso, ofegante, pra lhe relatar tudo, o potoqueiro. Ninguém viu, a rua estava erma. No outro dia, ele está calmo, nem parece aquele, e tem outras histórias na manga. E aí, caros leitores, reside a terceira característica principal do potoqueiro, aquela que é o seu calcanhar-de-aquiles, e que lhe derruba desastradamente, lhe desmascarando: o potoqueiro é um homem que esquece.

Sim! Conta uma história, rica em detalhes, sobre qualquer banalidade, coisa à toa mesmo, e depois esquece o que inventou. Como a da menina que bateu a porta do seu quarto, se trancou e ficou ouvindo seu discman, ainda que o quarto não tivesse porta e seu discman... bem, ela não tinha discman. Pressionado pelos amigos mais preocupados, o potoqueiro admite ter inventado tudo, e promete que dali em diante irá pôr um fim naquela mania. Mas os dias passam e lá está ele de novo contando as mesmas histórias que havia desmentido.

Na noite, nas tardes tediosas, nas manhãs de qualquer dia da cidade, pronto pra uma ficçãozinha matinal, extremamente hábil em achar uma alma pra lhe ouvir, o potoqueiro percorre a cidade. Tem grandes amigos, grandes planos para o futuro, mochila nas costas, uma vida de mil experiências.

Repara! Esperando por você na próxima esquina está ele, figura fixa do folclore urbano, sempre com um bom causo pra contar.

resumindo: O Xenófobo é apenas um "potoqueiro!" (Risos)!