Mortes no trânsito: quase genocídio




Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de hoje:

OUVIU-SE ontem pela manhã, na Rádio Rural a seguinte informação: tem morrido mais gente no trânsito no Brasil do que foram os mortos na guerra do Vietnã.

Poder-se-ia também afirmar que em Santarém há mais mortes e aleijados, por conta do trânsito louco, do que por causa de câncer, enfarte e trombose celebral.

Se fosse doença, o trânsito já seria considerado uma epidemia. Como não é, diz-se que se tornou uma tragédia. Por isso, está certo o comando dos bombeiros, quando busca mais equipamentos de resgate. O que há atualmente não era para resgate de acidentes de trânsito. Um caminhão apaga fogo.

DO JEITO como está aumentando o número de acidentes, como a polícia de trânsito não está conseguindo moralizar o tráfego e aí, não só um, mas uns três carros adequados de resgate vão ser necessários em Santarém.

Para uma população de 200 mil habitantes, a cidade vive uma situação anormal na questão trânsito.

Além do serviço de resgate está sendo urgente, uma companha ampla e intensa nas escolas, nas igrejas, nos meios de comunicação. Junto a isto está sendo necessária uma punição mais exemplar aos que abusam na direção de veículos: andar embriagado, dirigir sem documentação, alterar velocidade do veículo, tudo isso deve ser exigido com rigor.

PAGAMENTO de fiança, só alimenta a sanha dos inescrupulosos.

A vida humana está acima de tudo. Um acidente pode acontecer com qualquer pessoa. Mas o que está acorrendo em Santarém não é normal.

O Corpo de Bombeiros deve mesmo melhorar o serviço de resgate, mas só isso não resolve. A sociedade não pode olhar esse quase genocídio e ficar indiferente.

Comentários

Anônimo disse…
Para quem ainda não leu, segue abaixo matéria publicada na VEJA desta semana, e na sequencia, texto do Prof. Fernando Altemeyer Junior, da PUC-SP.
Solicitamos que os amigos se manifestem e encaminhem suas opiniões para a carta ao leitor da revista.

É muito importante a reação da sociedade civil frente a uma matéria como essa.

Por favor, passem adiante para entidades, acadêmicos, fóruns, etc., que possam contribuir com cartas à revista Veja.

Afinal, o Julio não está sozinho nesta luta...

Eis a reportagem da "VEJA":

"O PECADO DA DEMAGOGIA


O padre Julio Lancelotti líder de uma organização política ligada ao PT chamada Pastoral da Rua (atenção, papa Bento XVI), comete todos os dias um pecado mortal - o da demagogia. Ele é o criador de uma categoria que leva o nome de "Povo da Rua". É a denominação de
Lancelotti para mendigos, menores abandonados e loucos que vagam pelas ruas de São Paulo. A pretexto de defender o "Povo da Rua", o padre quer transformar uma situação precária - a dos sem-teto e que tais - em permanente. Toda e qualquer iniciativa para colocar esse pessoal em abrigos, custeados pela prefeitura, limpar os logradouros públicos de barracas e excrementos e livrar os
transeuntes do risco de assaltos protagonizados por pivetes é torpedeada por Lancelotti com a classificação de "prática higienista".

Os motivos do padre estão longe de ser religiosos. O que ele quer mesmo é ter a sua disposição um rebanho de manobra para fazer política.

Se Lancelotti fosse mesmo sensível às necessidades de seu "Povo da Rua", começaria por oferecer abrigo na igreja da qual é pároco: a de São Miguel Arcanjo, no bairro paulistano da Mooca. A igreja,
porém, tem grades nas portas e cerca elétrica nos muros - um aparato suficiente para definir aquela casa de Deus como um "bunker antimendigo". "Antimendigo é a expressão usada por ele - e por
jornalistas amigos seus - para classificar pejorativamente a iniciativa da prefeitura de São Paulo de colocar rampas de superfície áspera sob o viaduto que leva à Avenida Paulista. A
administração municipal recorreu a esse expediente para desalojar os marginais que instalados no local, assaltavam as pessoas que transitam por ali. Lancelotti continua a esbravejar que "as rampas
antimendigo" fazem parte de uma "visão higienista". Pois bem, propõe-se aqui um acordo: a prefeitura retira as rampas e o padre abandona o seu bunker e passa a morar debaixo do viaduto. Lá, poderá controlar os assaltantes e encontrar a santa felicidade junto ao "Povo da Rua".

Fonte: Veja, 11 de janeiro de 2006, página 92, Repórter: Camila Antunes

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Leia agora o texto do Prof. Fernando Altemeyer Junior, da PUC - SP:

Veja erra gravemente!


Monsenhor Júlio Renato Lancelotti é o Vigário episcopal do povo de rua, há mais de dez anos, com muitas virtudes e particularmente a virtude da caridade vivida na esperança.

Padre Júlio é fiel servidor da Igreja de Cristo há vinte anos como presbítero. É homem de confiança do Cardeal Arcebispo de São Paulo e do Papa Bento XVI.

Se a repórter de VEJA não fosse tão demagoga, teria entrado na pequena Igreja da Rua Taquari e visto a fé viva do povo da Moóca, guiada por um sacerdote de missa diária e compromisso eterno.
Teria visto a luta dos amigos de S. Miguel Arcanjo contra o pecado e a injustiça. Teria visto como senhores e senhores se cotizam para ajudar a emancipar pessoas de situações de miséria e de exclusão.

A categoria "povo de rua" não é uma criação sua, nem neologismo, mas um conceito válido para compreender estas milhares de pessoas que vivem nas ruas paulistanas. Bastaria ler clássicos como: O mito da desterritorialização, de Rogério Haesbaert; ou Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social, de Fernando Braga da Costa; ou ainda, São Paulo, segregação, pobreza e desigualdades sociais, de Eduardo Marques e Haroldo Torres, organizadores.

Aliás, eivada de preconceitos está é a própria repórter ao classificar de forma simplista estes seres humanos de mendigos, menores abandonados e loucos. Pesquisa de orgãos de governo e de Universidades desmentem-na facilmente. Há famílias, há jovens, há gente desempregada, há drogados, há crianças, há estrangeiros, há negros, brancos, mestiços, há gente pobre e migrante, há gente que foi rica e ha até aqueles com universidade feita. Há muitos alcóolatras. Há muitos jovens. Há catadores de papel. Há trabalhadores e albergados. E há muitos: algo como dez a quinze mil pessoas. É, portanto, realidade complexa que exige respostas complexas.
Ela comete o pecado original do mau jornalista: matéria sem pesquisa e comprovação de dados. Criou ficção e não foi capaz de ver a realidade. Este é um paradoxo terrrível para um orgão semanal que denomina-se Veja.

As críticas do Padre Júlio quanto aos moldes higienistas da prática administrativa do candidato a prefeito da cidade de São Paulo, Sr. Andrea Matarazzo, são corretas e deixaram o rei tucano nú. Este é o nó da questão.

O que falta mesmo na cidade é política pública para esta população e as rampas não são de forma alguma solução para nada. Não solucionam nem o problema dos pobres, nem dos demais cidadãos como eles, e, muito menos a grave situação da segurança pública, a que todos (os que tem teto e os que não tem) estamos expostos. Nesta mesma semana em que estamos são os policiais que estão sendo aniquilados e metralhados em nossas ruas.

Os motivos de Padre Júlio são religiosos, antropológicos, políticos, humanos, filosóficos, teológicos, sentimentais, e
sobretudo, éticos. Por que tanta dicotomia entre religião e política? Medo da denúncia?

Quem quer construir um bode expiatório é a repórter, seu editor e a Veja ao permitir esta matéria mal feita.

A Igreja de Padre Júlio sempre foi abrigo, pequenina que é, desde seu nascedouro, pois os católicos da Móoca e Belenzinho, sempre souberam acolher os mais pobres com amor e carinho. Nenhuma grade jamais existiu nesta Capela e Igreja para impedir de receber qualquer ser humano. Se alguém dúvida, que vá e veja. Sem o tampa-olhos da Veja e sem demagogia.

Dezenas de comunidades na Zona Leste, particularmente aquelas que existem nas favelas se cotizaram para construir a comunidade S. Martinho. Para apoiar a Casa Vida, para acompanhar a Liberdade Assistida, para visitar a FEBEM, para valorizar as crianças, para apoiar os portadores de HIV-AIDS, para recolher e apoiar migrantes e sem teto. Tudo fizeram para rezar e partilhar na Catedral de Oração no bairro da Luz, esta construída com doação de budistas japoneses da Fundação Niwano. Fizeram com o Padre Júlio aquilo que todos sempre quiseram e buscaram numa cidade digna: transformar as vidas e construir igualdade social.

Padre Júlio é Doutor Honoris Causa pela PUC-SP.
Padre Júlio acaba de receber no rio de Janeiro, o Prêmio Alceu Amoroso Lima, das mãos do reitor da Universidade Candido Mendes.
Padre Júlio é diretor da Casa Vida I e II.
Padre Júlio é da Pastoral do Menor. E de inúmeras Comissões de Direitos Humanos.
Padre Júlio Renato Lancelotti é um homem transparente.
Não é conivente com o pecado nem com a injustiça.
É lamentável que a repórter Camila Antunes não tenha sido capaz de ver isto com discernimento e respeito. Ficam, portanto, algumas perguntas:
Teria sido ela e sua matéria manipulada pela direção da Veja? Muitos dizem que isto é a praxe corriqueira deste periódico?

Teria sido esta uma matéria encomendada por políticos incomodados? Quem a teria pago? Quantos foram os trinta dinheiros a trair o seguidor de Cristo?

Por que nenhuma linha foi transcrita sobre os assassinos da população de rua passado já mais de um ano da chacina? Seria isto conivência com a mentira?
A demagogia é de quem, afinal?
A revista quererá induzir seus leitores ao ódio e à discriminação? Se isto for verdade é muito grave. Merece de todos nós leitura crítica.

Continuarei a recomendar a todos que cancelem suas assinaturas nesta Revista.

Prof. Fernando Altemeyer Junior
Professor universitário e atual Ouvidor Público da PUC-SP
R. Prof. Arnaldo João Semeraro, 621 V. Liviero - S. Paulo
tel 95401411
RG 8778504 SSP-SP.