Interesse particular acima do público


Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de hoje:

Até onde vai chegar a destruição dos espaços públicos na cidade, em nome de um progresso para poucos? Antes se sabia que a lei garantia a prioridade do interesse coletivo sobre o particular. Desde quando mudou essa lei?

Na época da ditadura militar, os mandantes decidiam, em gabinete, os destinos de uma região e até do país. Assim foi a Transamazônia, a Perimetral Norte, o corte da Serra do Índio, no bairro do Santarenzinho, a construção do porto das Docas em local completamente errado, à juzante do rio Tapajós. Mas, era a época do, "falou, tá falado, ordem de cima..." E agora?

Como é que o ministro da Integração Nacional, dito democrata da gema, simplesmente entrega a área da antiga Sudam, em frente à cidade de Santarém, que hoje serve a duas universidades federais (UFRA e UFPA) para ser mais outro porto graneleiro?

A sociedade local não é consultada, tudo decidido em gabinetes e aí, os reitores e coordenadores da universidades não reagem? Os e as estudantes universitários (as) têm sangue de barata, conformistas? Assim era na época da ditadura, a obediência servil.

E mais um agravante dessa tragédia social, outro processo grave, tanto quanto o anterior, na mesma área da CDP: a multinacional Cargill bate o pé, segundo notícia, e diz que já iniciou processo junto à CDP para utilizar a área onde, bem antes de se falar em soja por aqui e em Cargill, a comunidade do Laguinho e do Salé já utilizavam parte da área como campo esportivo.

O conflito está armado, mas a prefeita minimiza o problema, dizendo que a empresa só vai ocupar a área daqui a uns cinco ou seis anos. Quer dizer que a prefeita defende o interesse da multinacional, que chegou aqui há poucos anos? E os direitos de uso coletivo dos moradores do bairro, ela não vai defender? Qual deveria ser sua obrigação como gestora da coisa pública? E a associação de moradores vai agir ou se conformar? Quem se cala consente e quem reage revela consciência de seus direitos.

O que não pode continuar é o tal progresso sentir-se no direito de destruir a cultura de um povo em nome do capital. Democracia é participação na vida pública pelo bem de todos e não de alguns.

Comentários

Anônimo disse…
Quem foi consultado sobre a retirada das mangueiras da São Sebastião e da Ruy Barbosa? Sobre a destruição do casarão localizado na esquina da Floriano Peixoto com a 15 de agosto? Sobre a destruição da escadaria que levava a Praça do Mirante em frente ao Frei Ambrósio?
E o Castelo? E a modificação da Matriz de Nossa Senhora da Conceição? Sobre a transformação do Teatro Victória em Secretaria de Governo? E o Cine Teatro Cristo Rei? E a retirada das mangueiras da São Sebastião e Ruy Baobosa? E os paralelepípedos da João Pessoa, hoje Lameira Bittencourt? Tudo feito em nome do progresso e que o "sangue de barata" dos santarenos não tentou evitar!
Anônimo disse…
O jornalista Marcelo Leite (Folha de S. Paulo) lança um livro paradidático de geografia com o nome "Amazônia, Terra com futuro", onde apresenta um conto com título "Piratas do Tapajós". Ainda não li, mas estou curiosa.
http://cienciaemdia.zip.net/arch2005-11-01_2005-11-30.html#2005_11-29_18_30_26-6729496-28