Artigo




Pão e circo

Jota Parente (*)


Por mais que se queira falar de outra coisa, não tem como fugir do assunto que há quase dois meses se tornou o prato principal de todas as conversas. A República está sendo sacudida por um terremoto que promete abalar os alicerces da política nacional, precipitando a maior crise do governo do Partido dos Trabalhadores, que chegou ao poder com a aura de paladino da moral e dos bons costumes. Por sua história de mais de duas décadas, o PT criou uma expectativa na maioria do eleitorado brasileiro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua primeira entrevista após confirmada a sua eleição, disse que o Brasil estava mudando como país e, mais importante, a esperança venceu o medo e ele podia dizer para todos que o Brasil mudou sem medo de ser feliz. Mas, o tempo passou e, mais rápido do que o mais pessimista poderia imaginar, a esperança foi substituída pela decepção.

Na Roma da Antiguidade Clássica, César dava à massa pobre e faminta os espetáculos vividos no Coliseu; era a chamada política do "Pão e Circo". Ao povo, fornecia-se pão - para saciar a fome - e shows de combates entre gladiadores - para saciar a mente. A massa, por conseguinte, dificilmente se rebelava contra os governantes. No Brasil, ocorre exatamente o contrário; grande parte do povo não tem pão, e o circo, em cujo picadeiro se apresentam os políticos, provoca ondas de indignação no cidadão comum, que a cada eleição acredita que os próximos eleitos serão melhores do que os anteriores, mas continua tudo igual.

As reuniões da CPMI dos Correios transformaram-se em sessões de exibição de cinismo, nas quais, amparados por habeas corpus concedidos pelo Supremo Tribunal Federal - que mortais como eu não compreendem como podem ser deferidos - figuras hediondas como Marcos Valério, Delúbio Soares e Silvio Pereira fazem pouco da paciência e da inteligência da gente, respondendo somente o que querem e mentindo, descaradamente e, quem diria, até o presidente da República entrou no jogo, quando afirmou na estranha entrevista concedida a uma repórter brasileira freelancer, na França, que o caixa 2 é uma prática comum em todas as campanhas.

Ao afirmarem que o presidente Lula nada sabia sobre os escândalos que envolvem o PT, todos os políticos, de Roberto Jéferson, passando por José Dirceu e chegando ao senador Delcídio Amaral, presidente da CPMI dos Correios, acham que o povo brasileiro acredita em duendes. Se Lula só teve conhecimento depois que Roberto Jefferson abriu a boca e a imprensa repercutiu suas denúncias, então, os mais de 52 milhões de eleitores que votaram nele cometeram um monumental engano ao elegê-lo para o cargo mais importante do país.

E de tudo isso se deduz, lamentavelmente, que Charles de Gaulle tinha razão; pelo menos, em matéria de política o Brasil não é um país sério. Vamos ver no que tudo isso vai dar. Espero que sirva para depurar o sistema político nacional, que é uma instituição apodrecida, na qual ninguém mais acredita.

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(*) É radialista e escreve neste blog todas as segundas-feiras.


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