Sáude não chega à zona rural

por Edilberto Sena (*)

Um governo que tem responsabilidade pública, na hora de organizar o orçamento municipal (ou estadual, ou federal), terá preocupação de investir metade de todo recurso público em atendimento à saúde e à educação da população. Todo o resto terá a outra metade. Isto quando o governo tem convicção de que estes dois setores são vitais para sua população.

A saúde e a educação são os bens mais preciosos de qualquer sociedade e quando os governos têm essa responsabilidade prioritária elevam o nível de vida de seu povo.

Infelizmente, no Brasil e aqui na região do Baixo Amazonas as maiores preocupações são com crescimento econômico, superávit primário, asfaltamento de ruas, auto-promoção dos gestores e continuidade na carreira política.

É verdade que alguns passos têm sido dado nas duas prioridades no município de Santarém. O secretário de Saúde estampa o controle da dengue e a vacinação em massa, o que não é de se desprezar. É verdade que houve melhorias no hospital municipal, com UTI, a saúde da mulher e funcionamento de postos de saúde na cidade, até com um funcionando 24 horas. Mas isso não garante que a saúde seja prioridade número 1 nas preocupações da gestão pública municipal.

Santarém tem cerca de 29% da população no meio rural. Há distritos com grande concentração de moradores, como o Tapajós (Boim), Mojuí, Arapixuna e Lago Grande do Curuai. Nessas áreas há postos de saúde, mas apenas com um enfermeiro, sem medicamentos suficientes, sem laboratório de análise. Não chegam lá médicos, todos concentrados na cidade. Talvez em Mojuí chegue um de vez em quando.

Ora, um médico, ao menos um dia por semana em Boim, Arapixuna, Aritapera, São Pedro e Curuai certamente aliviaria a fila no hospital municipal e daria melhor tratamento à população rural. Dizer que os médicos não querem ir ao meio rural pode ser meia verdade. Ofereça-lhe
um meio de transporte rápido que o leve pela manhã e o busque no fim do dia, pague-lhe um salário compatível e verá se não há médicos disponíveis.

Quando saúde for prioridade maior da gestão pública, toda a população municipal terá assistência digna, mesmo que as ruas da cidade não sejam de primeira qualidade. É só conferir quantos médicos trabalham para o município, quantas horas trabalham por dia, quanto ganham, e quantos vão ao meio rural.

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* Santareno, é padre diocesano. Dirige a Rádio Rural AM e é pároco da igreja de N.S. de Guadalupe, no bairro de Nova República.

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