Balanço do ano



Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), do dia 26:

Vai chegando ao final do ano, querendo alimentar esperança para um novo, mas a realidade é cruel, mesmo que para o presidente da República pareça céu de brigadeiro, pois "nunca antes neste país...".

Se há notícias positivas, de pessoas generosas que procuram ser solidárias com outros, e entidades e organizações que batalham por justiça e bem- comum, por outro lado chegam notícias de assassinatos, guerras sem fim, empresas gerando lucros fabulosos à custa de trabalho mal pago e até escravo.

O ano termina e a sociedade sofre mais mais um abalo na confiança das autoridades. O Congresso Nacional é uma casa de oportunismos, compadrios, onde vários congressistas estão com nomes sujos na corrupção e em processos judiciais intermináveis.

O Poder Executivo se auto elogia por alguns bons feitos, como a Bolsa Família e a descoberta de mais um poço de petróleo. Mas tanto um como o outro se cala quando os ricos ficam mais ricos e o Bolsa Família revela o alto grau de miséria em que vive grande parte da população. Aliás, o presidente ainda elogia os empresários do etanol como heróis da nação, imagine!

E o Judiciário? Esse também perde a cada dia a confiança da população. São casos de visível injustiça que não recebem julgamento, como os casos de políticos comprovadamente corruptos, mas que continuam altaneiros na vida pública; como o caso da transposição das águas do rio São Francisco em que os juízes da mais alta corte deram sentença favorável, contra todos os argumentos e provas negativas de cientistas e pesquisadores.


Os casos de julgamentos feitos por juízes uma vez serem anulados por outros juízes se repetem, como nos processos do porto da Cargill em Santarém e os processos da superintendência do Incra no oeste do Pará. Todos anulados ou postergados em instâncias de Brasília.

E agora, mais um escândalo judicial, no Acre. O assassino do Chico Mendes (lider dos seringueiros na defesa da floresta de Xapuri), o velho ambicioso Darly Alves foi novamente retirado do presídio, de onde já havia fugido, se escondido, preso novamente. Agora o juiz lhe dá uma prisão domiciliar. Isto é, fica em casa em sua fazenda, nos braços da esposa, dos filhos e netos, o homem que friamente, de tocaia assassinou o seringueiro Chico Mendes 19 anos atrás.

Como confiar em julgamentos de tantos juízes, uns contradizendo outros pares? Quem garante a justeza de seus julgamentos?

É verdade que ainda há alguns juízes que honram a função social e jurídica que assumiram. Errar é humano, mas quando os erros se repetem com tanta freqüência e sempre contra os mais fracos, não dá para se ter confiança e esperança de que as instituições estejam em processo de aperfeiçoamento. As leis são boas, embora sejam elásticas demais, as práticas de quem deveria cumprir as leis é que desanimam os que buscam justiça.


Comentários

Padre.

O estado de coisas é uma mistura cruel dos quatro sinais do apocalipse.

Será que teremos a chave para escapar dessa encruzilhada?

Políticos com processos acumulados até o último fio de cabêlo sem qualquer sinal de condenação pela Lei dos Homens?

O que me dizes?

Apelar à Justiça Divina? Ficar quieto esperando um milagre?

O que fazer?