Rio Tapajós sob ameaça

Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de ontem:

Até quando o majestoso rio Tapajós vai suportar a violência da estupidez humana poluindo e poluindo seu leito e suas águas? Por séculos, os primeiros habitantes de suas margens usufruíram das águas, dos peixes e de sua beleza azul sem maculá-lo. Eram milhares de mundurucus, boraris, cara pretas, arapiuns, vivendo do rio e às margens do Tapajós, respeitando-o como uma mãe.

Até que chegaram os ditos civilizados e, primeiro, despejaram toneladas e toneladas de mercúrio e lama dos garimpos de ouro. Isso nas décadas de 70 e 80. Hoje, ainda aumenta a degradação ambiental do grande rio Tapajós por causa de tal crescimento econômico.

É uma fábrica de cimento ali, são serrarias acolá, são os navios que chegam para levar madeira e grãos daqui. Segundo informação extra-oficial, já que nenhum órgão oficial faz pesquisa sobre isso, navios estão lançando água de lastro dentro do rio Tapajós, ao chegarem ao porto das Docas para carregar madeiras e grãos.

Com a água de lastro vêm animais, algas e outros ingredientes exóticos de outros mares e poluem o rio Tapajós, com possíveis graves conseqüências à vida humana da região. Uma pesquisadora já confirmou presença de algas exóticas nas praias próximas ao porto. Mas até o momento aquilo não preocupou tanto as autoridades ditas competentes.

Enquanto isso, o grande rio Tapajós vai sendo violentado em pleno século XXI. Assim foi com o rio Tietê em São Paulo, com o rio Capiberibe em Recife, com outros rios Brasil afora, e assim será com o cantado em versos e músicas o majestoso Tapajós caso não se interrompa esse ciclo de rapina e degradação.

Não é possível que a sociedade continue indiferente até que não haja mais jeito e se vá chorar o caldo derramado. Tem que ser a sociedade porque as autoridades não têm tempo para isso, porque o que importa é o crescimento econômico, é o progresso!

Assim pensam os donos da fábrica de cimento em Itaituba, assim pensam serrarias à beira do rio, assim pensam os donos e usuários de navios que chegam do estrangeiro para carregar madeira e grãos aqui na cidade.

Já a sociedade civil dá a impressão de não crer que o Tapajós possa um dia chegar a ser como o Tietê de São Paulo. Será que não? Quando um movimento popular reage e denuncia os estragos no porto das Docas do Pará ainda chegam pessoas e criticam, como se fosse gente lutando pelo atraso da civilização.

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