Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de sábado, 22:
Alguma coisa anda mal interpretada neste país. Ou o cronista é um pessimista inveterado, preconceituoso, ou a realidade anda muito camuflada e se está comprando gato por lebre. Santarém parece não pertencer ao Brasil, talvez ao Peru ou Paraguai.Notícias do Brasil dão conta que o nível de vida melhorou, que um bom número de famílias saiu do grau de miséria para melhor; que a aceitação do presidente da República continua em alta. Ele, então, cada vez que fala ao povo brasileiro só diz coisas otimistas, de que nunca nesse país se fez tanto pelo bem da população. E que hoje tantas famílias saíram da miséria absoluta porque recebem 120 reais por mês para alimento, roupa, remédio e pagamento de gás.
Aí se ouve notícias de Santarém e a coisa é outra. A delegacia do Trabalho faz levantamento e afirma que aumentou o desemprego e que poderá piorar a situação até o final do ano; o índice de trabalho avulso, sem carteira assinada, diminuiu ontem porque a polícia, zelosa pela ordem publica, acabou com a venda de CDs e óculos piratas. Os sem-emprego vendiam os produtos nas calçadas para comprar alimento para suas famílias. Zelosamente, a polícia aumentou o desemprego na cidade; o programa Bolsa Emprego do Estado está com a lista cheia de candidatos jovens que querem trabalhar, mas não acham emprego.
E, pela informação da Delegacia do Trabalho, Santarém só tem praticamente três fontes de empregos – o comércio, a construção civil e a extração de madeiras. Esta, mesmo no verão, tem desempregado mais gente do que o normal. Também pudera, ganhando lucro na ilegalidade, quando há fiscalização mais séria o jeito é despachar os trabalhadores.
Basta olhar o pátio do Ibama: cheio de toras apreendidas. Ainda nestes dias mais balsas foram presas com madeira ilegal. Assim sendo, Santarém não acompanha o crescimento do país. Se lá pelo Brasil a coisa é de otimismo, Santarém, e provavelmente o Oeste do Pará, já deve pertencer ao Paraguai ou ao Peru, países que não vivem tão otimistas e esperançosos.
Alguns, porém dirão: Mas olha, aqui tem hospital regional, tem ruas asfaltadas, tem Bolsa Família, Bolsa Trabalho, Credifacil.. Pois é né, talvez o cronista seja um pessimista, ou preconceituoso contra o presidente torneiro-mecânico.
Será?
Comentários
Na minha modesta opinião, seu olhar é imprescindível à reflexão democrática, nas terras mocorongas e alhures. Leio e aprecio o sabor dos teus textos.
Há coisas e loisas acontecendo nesta plural, complexa e não-linear sociedade brasileira. Há acertos e desacertos, do meu ponto de vista, no governo Lula.
Sua crítica, sempre fundamentada e pertinente, se diferencia do colunismo antidemocrático que "fundamenta" seus torpedos no preconceito de classe, no achincalhe, no ódio dissimulado e na tacanhez ideológica.
O exercício da crítica - serena, radical (no sentido de buscar sempre a raiz das coisas) e consistente no conteúdo - é fundamental para o avanço democrático, em Santarém e no País.
Beijos no teu coração, grande mestre!
Samuca
Por um lado temos números e pesquisas que mostram uma “realidade factual”, por outro lado estamos nós com nossas expectativas, anseios e ilusões por um Brasil que gostaríamos.
O Brasil continua um país injusto, mas a realidade factual nos indica que é um país melhor do que era, ou se preferir menos pior.
Olhando pelos nossos anseios podemos dizer que o Brasil está longe do nível que o povo brasileiro mereceria, mas isso não pode diminuir ou negar os avanços que estão sendo constatados (realidade factual) na sociedade brasileira. São poucos? Insuficientes? São! Mas por mim são resultados que animam e que mantém o meu otimismo e a esperança. Pelo menos por enquanto.
Seria sim pessimista, se a realidade factual constatasse que a miséria não diminuiu, que o país se encontrasse travado, ou se não tivesse nenhum sinal além da estagnação que caracterizou esse pais durante de mais uma década.
É sempre bom olharmos com os dois olhos.
Tibério Alloggio