"Ninos envelheceu", critica padre

(...) essa análise querendo ser sapiencial do [Jota] Ninos parece comportamento de quem envelheceu na mente e esqueceu que, se hoje ele é capaz de escrever e analisar, objetivamente ou não, é graças ao aprendizado por caminhos variados de sua juventude.

Os jovens de hoje poderão ser sujeitos de transformação hoje e amanhã se participarem de experiências de reflexão e de ação em defesa de uma causa nobre, como penso que seja a defesa de nossa cultura, nossa forma de vida e aspiração de desenvolvimento real. (...)

Trecho do comentário de Edilberto Sena sobre o artigo Será que Santarém é a casa da mãe Joana, da lavra de Jota Ninos.

[Clique aqui], para ler o texto do padre e diretor da Rádio Rural AM.

Comentários

Anônimo disse…
Antes envelhecer coerente e racional do que se manter "jovem" numa ilusão de vida terrena (e além) baseada em princípios e pressupostos vazios e inexequiveis.

Achei a análise do J Ninos coerente, lógica, objetiva, sintética e corajosa. Diferentemente das opiniões apaixonadas e tendenciosas que usam subterfúgios, argumentos e sofismas para direcionar o pensamento das ovelhas acéfalas.
Jota Ninos disse…
Resposta a Edilberto e Tibério sobre “a Casa da mãe Joana”

“A piedade exige que honremos a verdade acima de nossos amigos" (Aristóteles, em “Ética a Nicômaco”).


Como o discípulo Aristóteles ao debater idéias com seu mestre e amigo, Platão, creio que a verdade está acima de qualquer coisa. Por isso, já rompi muitos relacionamentos com pessoas que considerava “amigos” ou “mestres” em certos momentos da vida. Talvez porque as verdades de cada um criassem uma barreira abissal para o que se chama de “amigo”. Ou porque um discípulo tem o direito de um dia discordar do mestre.

Posso dizer, parafraseando um velho ditado, que “mais vale um Sena nas mãos do que três voando”. Neste sentido me considero um “milionário”, pois nos últimos anos tenho convivido com três “Mega-Senas” santarenos, primos entre si que convergem e divergem na mesma proporção: Edilberto Sena, Cristóvão Sena e Manuel Sena Dutra. Sou ou não sou um privilegiado?

Dutra para mim só fica abaixo de Aristóteles e Chico Buarque, em meu conceito. É meu segundo pai, do qual sorvo idéias, concordando ou criticando-as, mas aos poucos amoldo minhas próprias teses, como convém a um discipulo.

Cristóvão é a sensatez descompromissada, sem medo de dizer o que pensa porque sabe o que diz. É um poço de informações, memória de nossa memória, sem querer ser nada além do que um boleiro de fim-de-semana.

Já Edilberto, do qual nunca fui um discípulo, nem tampouco um amigo, strictu sensu, mas que sempre me foi muito caro por manter um diálogo franco de almas dialeticamente polêmicas, é um maravilhoso radical que eu admiro, mas nem por isso deixo de criticar por sua posturas, quase sempre sectárias.

Quando eu era “jovem” (como diz Edilberto, em seu contraponto ao artigo que escrevi esta semana sobre a batalha ideológica que vem sendo travada em Santarém, entre ambientalistas e desenvolvimentistas), achava que “minhas verdades” eram revolucionárias e que como jornalista podia “mudar o mundo” e por conta disso, fui alvo de perseguições e patrulhamentos ideológicos de direita e esquerda (como acontece até hoje), mas que só amplificaram em mim a teoria aristotélica.

Ao sofrer minha primeira demissão na Rádio Rural (1986) causada por conta desse patrulhamento, quem primeiro me estendeu as mãos foi Edilberto. E não foi em busca de um novo discípulo, até porque ele é uma pessoa cativante que não usa de subterfúgios para arrebatar corações. Ele simplesmente arrebata. Ou é execrado, na mesma proporção. Vem daí nosso paralelismo.

Reafirmo o que disse em meu artigo - questionado por Edil e pelo sociólogo Tibério Aloggio - que o movimento social “organizado” em Santarém se alimenta de frases feitas que não dão consistência ao movimento e que "a juventude vai na euforia, mas não entende o que está por trás de toda essa briga", pois não existem líderes capazes de apontar o caminho da sensatez. “Nada deve ser em falta ou em excesso, tudo no meio termo, ou moderadamente”, ensinou Aristóteles.

Uma coisa é uma postura radical, aquela que é sustentada por uma raiz de princípios. Outra coisa é um sectarismo que não leva a nada. Foi nesse sentido que me referi às ONG´s locais, representadas por padre Edilberto Sena (FDA) e pelo sociólogo Tibério Aloggio (que pelo que soube trabalha no PSA – Projeto Saúde & Alegria).

Sobre Edilberto, posso dizer com conhecimento de causa: é um competente criador de ONG´s para eternizar seu discurso contra o “capitalismo internacional”, mas nada de consistente fica em todos este anos. O exemplos são ONG´s como o GDA (Grupo de Defesa da Amazônia) que ele ajudou a criar e que na década de 1980 era o supra-sumo da luta contra o mercúrio no Tapajós, mas hoje saiu de sua pauta já que não a controla mais. Da mesma forma foi o Ceapac (Centro de Apoio aos Projetos de Ação Comunitária), que ele também ajudou a fundar e que apesar de ter propostas mais concretas de ação junto às comunidades rurais, também foi deixada para trás, quando odiscurso de Edilberto já não mais seduzia os “jovens discípulos”.

Edilberto começou a recrutar jovens para os seus ideais ainda na época em que comandava a Pajusan – Pastoral da Juventude de Santarém. Lá, ele tinha a matéria-prima para as suas RPM (Revoluções Por Minuto). Mas muitos daqueles jovens, pela consistência dos ensinamentos de Edilberto, tomaram rumos imprevisíveis.

É o caso de sua maior pupila, Socorro Pena, que ele ajudou a eleger em 88 pelo PT (na verdade ela foi suplente e só assumiu depois que o vereador Geraldo Pastana virou deputado estadual), hoje aboletada no poder funcionando como um dos ventríloquos da prefeita Maria do Carmo, sussurrando em seus ouvidos as idéias do prefeito de fato, Everaldo Martins, seu esposo. Para combatê-la, Edilberto apostou em Marco Aurélio, o Marquinho, fenômeno de votos em 1992, hoje presidente do PSDB, evangélico e cabo eleitoral de Aldo Queiróz!!!

É meu caro, Edilberto, talvez realmente eu tenha envelhecido com tantas decepções, mas há quem diga que é bom ser como o vinho, quanto mais velho, melhor. Mas garanto que não discordo de você que “os jovens de hoje poderão ser sujeitos de transformação hoje e amanhã se participarem de experiências de reflexão e de ação em defesa de uma causa nobre”. O problema é quem defende essa causa, já que a juventude de hoje vive um processo de alienação constante e fica à mercê dos “Fora qualquer coisa”.

Espero que a sua “Frente em Defesa da Amazônia”, consiga nos dar melhores frutos do que deram os outros grupos que você criou. Sinceramente.

Não quero ofendê-lo Edilberto, porque o prezo demais. Acredito até que depois desse debate (que talvez não termine aqui), nos encontremos e troquemos boas risadas (não acredito que me feche as portas da emissora que você comanda, como outros me fizeram no passado, até porque não faz seu gênero). Mas preciso dizer que apesar de admirar sua radicalidade (para quem não sabe, Ediberto não bebe Coca-cola e nem usa jeans, por serem símbolos do “capitalismo norte-americano”, mas, paradoxalmente, não deixa de aceitar recursos para financiar suas ONG´s, vindos da Europa que é tão capitalista quanto os Yankees...), questiono a leitura enviesada que você faz de tudo e de todos que não concordam com ele, trazendo o mundo sempre ao seu umbigo. Isso fica claro quando diz que “você já foi mais engajado, mesmo que equivocado na época”, ou seja, eu era um militante de esquerda, mas não do seu grupo...

Em meu texto, deixei claro que não concordo com a invasão que Santarém sofre nesta chamada "guerra verde", mas não vejo um movimento local consistente para combater isso. A Casa da Mãe Joana é exatamente o que vivemos: todos chegam aqui, de esquerda ou direita, e nós apenas levantamos suas bandeiras. Outro Sena, o Cristóvão, já havia alertado sobre isso por aqui.

Ediberto, acho que estou “velho” para voltar à militância, da forma como a vi no passado. Vou continuar a “escrever polêmicas e controversas crônicas”, como você bem diz, ajudando a fomentar o debate. Busco a verdade, mas não sou dono dela.

Quanto ao ilustre Tibério Aloggio, será que o fato de você ser um sociólogo com nome de imperador romano e sobrenome italiano, não concorde com este pobre grego que não tem nem metade de seus conhecimentos para dizer que sou um “intelectual acostumado a discutir em barzinhos os problemas da humanidade”? Nem beber eu bebo, como já disse em um artigo, que está em meu blog!

Precisamos nos conhecer melhor, antes de nos digladiarmos e nos ofendermos. Você é novo por aqui e não sabe da missa a metade. Pergunte um pouco sobre mim com seus colegas do PSA, e eles lhe dirão como sou um louco polêmico que adora o debate!

Confesso que tenho gostado de suas análises sensatas aqui no blog, muito embora contenham às vezes o mesmo ranço da “verdade absoluta” que algumas ONG´s gostam de impor. Também já trabalhei em ONG´s e sei o que precisamos dizer para justificar os salários que nos pagam. Não sei se é o seu caso.

Quem sabe nos encontremos qualquer dia desses num dos bares da vida e consigamos resolver os “problemas da humanidade”?

P. S.: Jeso, agradeço por divulgar meu texto e linkar meu blog. Rapidamente a audiência por lá aumentou aumentou e levei traulitadas de todos os lados, tanto lá como aqui. Mas também recebi elogios. Minha velha missão de incendiário continua. Que o debate prossiga.
Anônimo disse…
Bom caro Jota,
Se se sentiu ofendido, peço-lhe humilmente desculpa, concordo que poderia ter evitado "essa do bazinho". Porém minha intenção era usar tal "expressão" justamente para chamar atenção numa discussão que trascende historias pessoais, passadas, presentes e futuras dentro e fora do movimento político santareno.
Percebe-se, ao ler sua resposta "as magoas" que sua passagem pelo movimento local devem ter deixado na sua pessoa.
Mas não é por isso que podemos "ler" tudo aquilo que acontece somente com "olhar de magoado".
No fundo os individuos, apesar que importantes, são coisa pequena frente aos processos, que são complexos e envolvem inúmeros atores.
Achar que o movimento local não tem consistencia para combater os processos, não é boa desculpa para ficar "em cima do muro", dando palmadinhas a "esquerda e direita" como os màs professores custumam fazer, pois isso não acrescenta nada no debate. Portanto, minha sugestão é que deixe de alfinetar a todos e a todas e partecipe de forma propositiva, inclusive "sugerindo" idéias e solucões.
É bom saber que conheçe o projeto Saúde e Alegria, pois pelo menos não terei que explicar o nosso trabalho com as comunidades rurais da região, principalmente nos Municipios de Santarém e de Belterra.
De todo modo, quero esclarecer que tudo aquilo que falo ou escrevo no Blog, é pessoal e não da Entidade, por isso assino com meu nome.
Meu sobrenome é Italiano, pois nascí na Italia, porém sendo morador da Amazônia há 20 Anos, e tendo filhas e esposa mocorongas, me considero da terra.
Já trabalhei no Movimento Social, em ONGs, no Governo, Empresas,Institutos de Insinos Públicos e Privados.Fui Coordenador da Comissão Pastoral da Terra no Amazonas e Roraima ainda no final dos anos 80.
Mas nem sálario, nem emprego, me impede de tomar partido, posicionamentos,ou seja, de ser um cidadão que busca o Estado de Direito e luta pela cidadania.
Nem eu bebo, mas gosto de barzinhos e MPB, talvez a gente se encontre por lá, mas com toda certeza não será para resolver os problemas da humanidade.
Tiberio Alloggio
Jota Ninos disse…
Convite aceito, Tibério. Desculpe-me também, pelo tom meio irônico de minha nota.
Quanto a participar de movimentos sociais com proposituras coerentes, não me faço de rogado. Estou aberto a discutir com os grupos e colaborar com debates, mas infelizmente, os grupos hoje existentes são fechados demais para as minhas propostas. Já fiz algumas tentativas, e sempre vejo narizes se torcendo às minhas idéias mais "conciliadoras" ou "pragmáticas".
Se você acompanhar meu histórico no blog, que mantenho a duras penas, verá que militei nos movimentos sociais dos 16 aos 22 anos, intensivamente, como integrante do Sindicato dos Comerciários (inclusive participei da fundação da CUT, em São Bernardo),fui filiado do PT (até candidato a vereador), fundador da Associação dos Radialistas (hoje, Sindicato) e seu primeiro vice-presidente, mas me identifico mesmo é com movimentos culturais, por isso atualmente sou presidente de uma ONG Cultural, o Instituto Kauré, que está em fase de legalização e ainda participo como 1º secretário de outra ONG ligada a direitos humanos, o Conselho da Comunidade da Execução Penal (Concep), que atua no presídio de Cucurunã junto aos detentos.
Como pode ver, não fico em cima do muro, mas não abro mão de criticar grupos que sobrevivem apenas de ideologia, sem um trabalho consistente e critico severamente os rumos do PT, inclusive apresentando a história de sua fundação em Santarém (sob o meu ponto de vista), em capítulos, lá no meu blog.
Adoro MPB (principalmente Chico) e podemos até tomar uma água tônica pelos bares da vida, para rir à beça sobre isso tudo, pois acima de tudo, como Che, acredito que é preciso endurecer a luta, sem nunca perder a ternura.
Jota Ninos disse…
Um deslize na nota anterior: sou vice-presidente, e não presidente, da ONG cultural Instituto Kauré.