E os trabalhadores? E os ribeirinhos? E os quilombolas...

por Edilberto Sena (*)

E agora vamos ao seguimento do 2º capítulo da novela Visita de um ministro à colônia Amazônia. Isto mesmo, hoje pousa no aeroporto de Santarém, com uma comitiva de mais de 30 pessoas, o ministro extraordinário de Planejamento Futuro, Mangabeira Unger.

Chega ao aeroporto, segue numa viagem de 45 minutos até Alter do Chão, porque, dizem autoridades santarenas, não há lugar adequado na cidade e vai embora às 16h30 para Manaus, se o avião não atrasar.

O que pretende fazer o controvertido ministro e sua comitiva? "Buscar idéias para viabilizar o projeto de desenvolvimento para a região Amazônica", diz a informação. O ministro diz que vem promover debates com líderes e representantes da região para montar uma estratégia global para a Amazônia.

Ele chega afirmando que "a Amazônia é o grande laboratório nacional para a criação de um projeto de reconstrução econômica do país". Portanto, o ministro já chega com algumas informações sobre a região e vem buscar mais idéias. Mas, pelo naipe de convidados para o diálogo de algumas horas, pode-se bem perceber qual o desenvolvimento que ele busca.

Os chamados representantes da região são políticos, acadêmicos, empresários de várias categorias e mais alguns representantes de instituições. Se o ministro tem alguma boa intenção de conhecer a Amazônia, além daquilo que os meios de comunicação do sul transmitem e além do que os órgãos do governo federal apresentam em relatórios oficiais, como pode ele ignorar no diálogo representantes dos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, organizações de moradores urbanos e rurais, sindicatos de trabalhadores?

Como convidar representantes dos empresários e ignorar os trabalhadores? Daí a pergunta que fica no ar: o que mesmo vem fazer um ministro federal, com grande comitiva na Amazônia em 5 horas de trabalho em Belém, 5 horas em Santarém e 5 em Manaus?

Será que ele sabe que na Amazônia, além de minérios, madeiras, águas e agronegócio, existem 23 milhões de seres humanos que carecem de vida digna? É nessas ocasiões que se lembra o ditado: "Me dizes com quem tu andas e te direi quem tu és...".

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* Santareno, é padre diocesano. Dirige a Rádio Rural AM e é pároco da igreja de N.S. de Guadalupe, no bairro de Nova República.

Comentários

Anônimo disse…
AMAZONIDADE(Eu recomendo)

Samyra Crespo com muita razão em A luta contra uma identidade mitica.

"Em vez de “to be o not to be”, deveríamos comer pato ao tucupi."


Patricia,

Novo progresso,PA.
Nelson Wisnik disse…
Pleno acordo. são os mesmos querendo a mesmas coisa, o "desenvolvimento" financeiro deles, e o resto, bem, o resto é o resto ...
Anônimo disse…
O tamanho da comitiva é para turismo ecológico, demonstrando o perfil perdulário deste governo.
Discutir alternativas para a Amazônia em meio dia e com os atores errados é muita pretensão do Doutor cada vez mais Unger e menos Mangabeira.
Anônimo disse…
Processar o estado Padre? isso é impossível. Os advogados santarenos, formados por estas instituições de quinta(literalmente, quinta série) não tem coragem nem capacidade de abraçar uma causa coletiva dessa magnitude. Quem nos dera se o judiciário fosse usado toda vez que o povo se sentisse oprimido pelos outros podres poderes.
Duvido que algum advogadozinho de FIT e ULBRA, tenha capacidade de enfrentar o estado. Todos querem uma boquinha, um concurso ou uma indicação (DAS talvez) e com isso usam como papel higiênico seus juramentos de "formatura".
Motivos há de sobra, pena que faltem "machos" pra isso.
E estamos falando do mais básico DIREITO!


Haroldo Zelon F. Silva - Matemático