BR-163: asfalto e interesses ocultos

Edilberto Sena (*)


Novamente a rodovia Santarém–Cuiabá (BR-163) volta a ser promessa do governo federal. Pela 25ª vez a população que vive e sofre ao longo e no entorno da estrada ouve a notícia de que agora vai, que milhões de reais estão alocados para asfaltarem 100 kms, 800 kms, kms, kms.

Afinal, vai ou não dessa vez? Depende! Mas depende de quê? Da necessidade da população que mora na região? Mas quando! Depende de recursos financeiros? Que nada! Isso se arranja. Mas depende de quê? Ora, depende do plano estratégico sulamericano, o chamado IIRSA, Plano de Interligação Integrada Regional Sul Americana – com rodovias, hidrovias, ferrovias e telecomunicações entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

Para que esse plano IIRSA? Observe-se o que diz a notícia: "para o avanço da Amazônia, e o escoamento da produção agrícola e mineral". Portanto, não fala que seja para um real desenvolvimento humano das populações da Amazônia, ou da América do Sul.

Para onde esse avanço? Os maiores mercados interessados nas riquezas, não só da Amazônia, mas de toda América do Sul são China, Índia, Japão e Indonésia, pelo lado do oceano Pacífico; já pelo Atlântico, são Canadá, USA e a Europa.

Hoje, a maior parte dos minerais, madeira, carne, soja e outros produtos agrícolas que os países ricos precisam estão na América do Sul. Para facilitar e baratear o transporte de tudo, surgiu o plano IIRSA.

E quem participou da discussão desse grandioso plano? Os presidentes seus assessores econômicos dos países da América do Sul, no ano 2000, e continua hoje sendo seguido pelos atuais presidentes e assessores. A sociedade desconhece a questão, exceto quem consegue se interessar de pesquisar pela internet.

Portanto, a rodovia Santarém-Cuiabá é uma ligação importante dentro da estratégia IIRSA, porque de Santarém, pólo do Oeste do Pará, se liga a Cuiabá, que já liga a Porto Velho e vai ao Acre e sai lá no Peru já nas praias do oceano Pacífico. Assim também as rodovias Manaus-Porto Velho, Manaus-Boa Vista, hidrovia Teles Pires, hidrelétricas do rio Madeira, rios Xingu, Tapajós e outras.

Quem pensará que o porto da Cargill em Santarém surgiu por acaso? Ou que as multinacionais Alcoa, MRN, Rio Tinto e outras mineradoras estão interessadas em fazer fábricas de alumínio aqui? Ou que as grandes hidrelétricas que o governo quer construir na lei ou na marra, no Xingu, Tapajós e Madeira são para servir aos ribeirinhos, quilombolas e indígenas?

O asfaltamento da rodovia Santarém-Cuiabá, portanto, estará pronto quando interessar ao plano IIRSA. Não se iludam os moradores dos ramais de Trairão, de Rurópolis e toda a extensão da famosa rodovia. Famosa para eles, não para nós. Saber que isso tudo é planejado em Brasília, sem a discussão com a sociedade amazônida dá um desânimo, uma indignação. E o discurso é de "avanço para a Amazônia", mas não dizem avanço para onde.

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* Santareno, é padre diocesano. Dirige a Rádio Rural AM e é pároco da igreja de N.S. de Guadalupe, no bairro de Nova República.

Comentários

Anônimo disse…
Realmente, tá difícil sair este asfaltamento e conservação dessa rodovia se é que podemos dizer. Compromisso e promessas só em períodos eleitoreiros.

JB