O Pará de Belém, sem Santarém, sem Marabá

por Jota Ninos (*)

Definitivamente e oficialmente já não fazemos parte do Pará. Isso fica mais explícito na última campanha do ano do “Governo do Pará”, desejando-nos um Feliz 2008. O vídeo destaca as belezas da terra, com imagens bonitas sobre hábitos, costumes e riquezas naturais, e é embalado por um jingle que fala das coisas do Pará, mas é tão... Belém!

A única imagem em que se consegue identificar a existência de Santarém está em um frame (pequena parte de um vídeo) de milésimos de segundo, mostrando o encontro das águas em frente à cidade. Além disso, vê-se imagens do carimbó de Marapanim e dança de índios, talvez de Altamira. Pode até haver outras imagens desta e de outras regiões, mas nada que seja facilmente identificado.

A letra do jingle fala de nossa riqueza cultural e cita o maestro Waldemar Henrique como grande expoente da música paraense. Nada contra, mas e o nosso Maestro Isoca? Fala-se dos reis do carimbó Verequete e Pinduca, fala-se até do tecnobrega, das guitarradas e do Calypso, mas nem cita-se um Sebastião Tapajós, por exemplo, ou qualquer outro expoente da cultura de outras regiões do Pará. Nem mesmo os festivais do Boto em Santarém ou das tribos em Juruti!

Definitivamente, Belém é o Pará. O resto é interior e não vale a pena colocar na mídia. Talvez por isso Abaetetuba tenha sofrido com os desvelos da atual administração. Talvez por isso nosso hospital regional segue a passos de cágado. Para o interior, só notícia ruim na mídia nacional.

A coisa está tão feia que o vídeo institucional do “Governo do Pará” nem sequer utiliza um dos cartões postais que é muito conhecido mundo afora, a ilha de Alter do Chão (pelo menos não consegui identificá-la)!

Recentemente estive em um encontro sobre “rádio no Pará”, mas o interior ficou relegado ao segundo plano nas mesas de debate. Acabei participando de uma das mesas de “enxirido” e não deixei de registrar meu protesto pela exclusão do interior, onde existe vida pujante no rádio. Alguns radialistas se espantaram em saber que aqui existem cinco emissoras de rádio em funcionamento! E o site criado pela UFPa. que fala da história do rádio no Pará refere-se basicamente à história do rádio de Belém e ignora, solenemente, que Santarém tem uma história de 60 anos de rádio que se completam em 2008! Fica a conclusão de que os comunicadores em geral, radialistas, jornalistas e publicitários nos ignoram.

Mas de certeza, quando começar a campanha na mídia pelo plebiscito do novo estado, todos eles falarão de um “Pará único” ou de “intenções separatistas de aventureiros”.

Aproveitando a deixa, pergunto: quando será que os empresários locais despertarão para investir no movimento que abnegados, como Ednaldo Rodrigues e outros, realizam com seu próprio esforço? Se somos ignorados por aqueles que fazem a mídia, institucional ou não, como poderemos enfrentá-los quando a campanha esquentar, já que ao nos ignorarem solenemente estão criando antecipadamente a mensagem subliminar para desconsiderar os ideais do futuro estado?

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* É jornalista.

Comentários

Anônimo disse…
Mestre Ninos Santarém nunca foi Pará nos vídeos dos marketeiros de plantão, alias a mídia produzida em Belém seja para empresas privadas ou do Estado sempre cometem erros primários, eles acham que o carimbo de Marapanin é o máximo da cultura paraense, que Verequete, Waldemar Henrique, Pinduca é o Pará.

O compositor mais venerado pelos belenenses que se acham os donos do Pará é Ruy Barata, mas quando dizemos que ele nasceu em Santarém é uma briga, uma parte diz que é em Óbidos outra não sabe nem onde o nosso Paranatinga realemente nasceu. Por aqui também não é diferente, pra muitos Alter-do-chão é a praia mais linda do mundo.

Nelson Vinencci
Anônimo disse…
Sr Jota Ninos – Em primeiro lugar um Feliz 2008 ao Sr. e família

Sou um paulistano que mesmo sendo aposentado após muitos anos de trabalho, adotei este solo para quem sabe terminar meu ciclo não somente pelo calor humano e franqueza que ele exala, mas também pelo poder de crescimento que dele se pode esperar.
Lendo sua crônica límpida, transparente e triste, tem-se a certeza de quanto estamos excluídos, servindo apenas como pano eleitoreiro nas devidas épocas, sem que haja preocupação com seus problemas e seus anseios. Ler alguns textos abaixo onde Jeso publica as declarações da Sra. Governadora onde ela expõe sua contrariedade da soltura dessas amarras para que essa dependência prevaleça. Obras importantes são deixadas de lado e propositalmente esquecidas, tal qual o HR como bem o Sr. menciona, ou a própria BR 163 não apenas importante para o desenvolvimento, mas principalmente pela cidadania deixada de lado para os que vivem às suas margens. O fruto desse descaso, se supõe, seja para que as esmolas se perpetuem e traga resultados eleitoreiros.
Creio que está mais do chegado a hora de se dar um basta nessa omissão e descaso, mas, entendo que sem união de forças, se a união dos segmentos, despidos de vaidades e intrigas pessoais, despidos de intolerância e corporativismo, seja possível traçar um objetivo e conseguir demonstrar que não servimos para ser um simples coadjuvante de um filme onde aparecemos de costas tomando tiros de um mocinho-fantoche sem que sua munição acabe . Há necessidade de mostrar o valor, a força, o sentimento e principalmente a importância que representamos.
Talvez 2008 seja chegada hora. Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Um Feliz Ano Novo para todos os leitores.

Antenor Giovannini
Anônimo disse…
Parabéns pela lucidez, propriedade e tempestividade do seu comentário.

Que 2008 possa, finalmente, sensibilizar os homens de boa vontade para compreender a grandiosidade, a necessidade e a importânica da construção do novo estado,dando-nos a oportunidade da manifestação através do plebiscito. O resto, deixa que a gente faz!

Eduardo Paiva
Anônimo disse…
Ei gente que loucura coletiva é essa??? Até agora só sai na mídia o que não presta do Pará inteiro, e Belém não exceção nenhuma!!! O povo paraense tem de parar com essa rixa e se unir, é isso que as cidades de São Paulo e do sudeste fazem. Vamos parar com essa "competição" ridícula e esse barrismo entre os municípios, o Pará é maior do que isso. Não vamos deixar a ganância de pessoas que não tem nenhuma ligação afetiva com este Estado Coração rasgarem - por interesses pessoais - nossa forma. Verifiquem se os interessados nesse tema são filhos daqui, se não tem sotaque carioca, paulista, nordestino, catarinense, goiano, gaucho,etc... deixem a disavença de lado e trabalhem em prol do crescimento global do Pará. Estes "estrangeiros" querem dividir pra conquistar - isto é uma das melhores táticas de guerra - enfraquecendo a união do nosso povo, tiram nossas terras, riquezas, trabalho, nosso ORGULHO DE SER PARAENSE.
Antes de divulgarem a divisão, pensem no que isso traria de bom e de ruim, e pra quem serviria esta retalhação.
FELIZ 2008!!!!!
Jota Ninos disse…
Caro Anônimo das 19:28,

Você tem razão quando diz que "só sai na mídia o que não presta do Pará inteiro, e Belém não exceção nenhuma". A mesma discriminação que o Pará sente em relação ao resto do país, é sentida pelas regiões do interior em relação à capital, há séculos. Os exemplos com os quais ilustrei essa discriminação são apenas alguns dos muitos que acontecem diariamente.
Não é uma simples "rixa" e não dá para falar em "se unir" e usar como exemplo o que fazem "as cidades de São Paulo e do sudeste". Você provavelmente é de Belém e nem tem coragem de escrever se não como anônimo, por isso achar que os reclamos desta região não passem de uma "competição ridícula".
Não se trata de um simples "bairrismo entre os municípios", pois se você souber um pouco de história deve lembrar que desde a época do Brasil-Império as regiões que formavam o chamado Grão-Pará e Maranhão foram se emancipando por decreto imperial e formando novas províncias. Daí terem surgido as províncias do Amazonas e do Maranhão e mais tarde os territórios de Rondônia e Roraima, que somados às áreas do Acre e do Amapá anexadas, formaram a complexidão amazônica. À mesma época, deveria ter sido criada também a província do Baixo-Amazonas que seria esta região do oeste do Pará, mas acabou não se concretizando e o sentimento de autonomia e separação ficou incubado por séculos e começou a despertar de forma mais organizada nos últimos 50 anos.
Essa história de que "o Pará é maior do que isso" faz parte do típico discurso que é e sempre será utilizado pelos "paraenses da capital" para justificar a não criação de novos estados. Eu defendo que a Amazônia, como um todo, precisa passar por uma nova divisão territorial que ajude o nosso desenvolvimento. Isso faz parte de estudos nacionais e há muito se tem em mente uma nova configuração geográfica para a Amazônia, que agora virou projeto já debatido e aprovado no Senado e aguardando apenas o posicionamento da Câmara Federal.
Sou paraense, nascido em Belém, mas santareno de coração e desde que moro aqui há quase 30 anos, acompanho a forma como somos discriminados nas políticas públicas do Estado.
Além disso, como já disse em outras ocasiões, culturalmente o Pará tem cinco regiões distintas e dificilmente o que o cidadão de Tailândia pensa não é o mesmo que o cidadão de Faro, no outro extremo do estado, vai pensar. Ou o que sonha o morador de Capanema se coaduna com os anseios do mesmo paraense de Noivo Progresso e asssim sucessivamente. De uma vez por todas absorva pela menos esta constatação: NÃO EXISTE ESSA HISTÓRIA DE PARÁ ÚNICO, caro Anônimo!
Com relação à sua afirmativa de que "pessoas que não tem nenhuma ligação afetiva com este Estado" queiram nos dividir, é o velho ideário no qual se escondem os belenenses que desconhecem a realidade das regiões. Pelo menos aqui, na região oeste do Pará, a maioria das cidades existem há mais de 300 anos e a ocupação por "estrangeiros" é mínima. E mesmo quando ocorre, só ajuda a solidificar um sentimento que já existia. Sejam nordestinos, sejam gaúchos ou sejam matogrossenses, são todos brasileiros que chegam aqui, se apaixonam por esta terra e justamente por virem de outras regiões onde o abandono da capital em relação ao interior não é tão nociva quanto a que impera aqui, é que se aliam aos nossos anseios emancipacionistas. Eles não nos trazem nenhuma novidade. Nós é que lhes apresentamos uma proposta nova que eles acabam assumindo como sua.
Por fim caro Anônimo, venha viver pelo menos seis meses aqui e entenderá o que ocorre nessa região. Garanto que você voltará carregando a bandeira de criação de um novo estado e entenderá que a divisão só ajudará a somar a força dos estados amazônicos para lutarem contra a discriminação que vem de outras regiões!
FELIZ 2008, prá você também!
E VIVA O ESTADO DO TAPAJÓS!
Parabéns J. Ninos pelo oportuno artigo.

Sequer sabia da veiculação do tal vídeo.

O anônimo das 19:28 defende um ponto de vista frágil, como fragilizado está qualquer projeto da envergadura que é o Tapajós e o Carajás se não houver uma campanha clara, objetiva e, antes de tudo, educativa, de modo que a sociedade tapajônica e carajaense saibam muito bem o que está em jogo.

O anônimo ao creditar que o movimento libertacionista do Tapajós e do Carajás tem à frente estrangeiro com sotaque disso, sotaque daquilo, merece puxar uma cana como discriminador de cidadãos brasileiros, que é o que somos e que para cá viemos, como igualmente fomos para o sul do Pará em busca de uma oportunidade de uma vida melhor.

O Pará tem configuração diferente do Amazonas -- o maior Estado em áreas territorial do país --, somos o 2.o em área territorial, com um Interland diversificado e populoso, completamente diferente do Amazonas.

Não há milagres a serem feitos. Muito pelo contrário, o que há, efetivamente é um salvador plano de revisão geopolítica, em que finalmente, com uma força política de mais seis senadores e outros 34 deputados federais. Brasília nos respeitará e não terá mais espaço para nos embromar, década após década com migalhas.
Veja um exemplo, um apenas: nesse mesmo blog está publicado que o governo federal somente agora, após cinco anos do governo Lula, foi finalmente publicado o Decreto que cria o Comitê da BR-163. Isso é uma vergonha.

A Europa o fez através de guerras fraticidas por variados motivos: religiosos, econômicos, raciais a sua revisão geopolítica. Sou descendente de libaneses, nasci em Marabá, e conheço muito bem o que uma guerra resulta para os habitantes de uma país.

Nossa realidade é outra anônimo.

Não se trata aqui de promovermos qualquer tipo de retaliação aos nossos irmãos paraenses, pelo contrário, pois, penso que temos inteligência, recursos (se estivermos unidos) e poder de convencimento para demonstrar que o conjunto territorial do Pará, após a criação dos dois outros Estados, terá a força política necessária para que possamos, finalmente bater a mão na mesa e exigir o controle de nossos destinos.
Chega de covardia. Chega de intolerância. Vamos arregaçar as mangas. Cada uma de nós pode dar a sua contribuição.
Podemos montar grupos para visitar as escolas, os bairros e conscientizar a população da importância do que é o maior projeto de desenvolvimento do Brasil: O Tapajós e o Carajás.
Um ótimo 2008 para todos os leitores.

Val-André Mutran
Jornalista
Brasília-DF
11:23
Anônimo disse…
O Anônimo tem razão em muitas coisas. Porque dividir se podemos crescer e ir cada vez mais longe.
Se é para dividir então porque não dividir o Brasil? Afinal de contas a tv nacional só mostra o Suldeste, quando mostra o Norte e Nordeste é só desgraça.
Moro em Jaboticabal fazem 10 anos, fiz mestrado e doutorado na Unesp, uma das maiores universidades do Brasil, e mesmo assim me perguntavam se o Pará era nordeste, briguei muito, mandava voltarem para a alfabetização, estudar geográfia. Estive na presença de pesquisadores internacionais, eles não sabem onde fica o Pará, mas fale que vc é da região Amazonica ""Ohh, Ohh, Amazônia, belo, belo. Então, vamos parar com esta rixa, vamos nos unir em prol de um Pará melhor, de um Brasil melhor.
Devemos sim lutarmos por nossas cidades, pelo nosso Estado, e devemos também propagar as belezas que temos. Fiz tanta propaganda do meu Estado que já tem uma turma programando uma viagem de Quito até Belém, com parada obrigatória em Parintins e Santarém, para conhecer Alte do Chão. Qual é o paraense que não tem sangue do interior, nasci em Belém mas minha avó era de Santarém, hoje moro em Jaboticabal. Tenho orgulho dos meus antepassados indíos, branco e negros. tenho orgulho de ser Paraense e muito orgulho em ser BRASILEIRA. Não quero meu país dividido, muito menos o Estado que tanto amo.
PS.Pretendo voltar para casa, porém não estão nos meus planos voltar para Belém, pois quero morar no interior. Pois está sim, é a parte bela do Pará
Rita Sampaio
Volte logo Rita. Precisamos de você para empunhar essas bandeiras: a do glorioso Tapajós de teus ancentrais e a não menos guerreira bandeira do Carajás.

Em um mês mudarás de idéia, seja qual for a tua formação.

Um alentado 2008 prá tí e conta conosco aqui em Brasília.