Natal, Amazônia e desmatamento



Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), do dia 22:

Chegam os dias de Natal e o clima humano é de busca de paz, de alegria e de bons desejos. Jesus, o aniversariante do dia 25, facilita o clima positivo. É quando se ouve uma noticia que cabe neste clima natalino.

A nova ordem do governo federal é parar de vez com o desmatamento na Amazônia. E diz mais: vai usar força: Exército, Força Nacional de Segurança, Agência Brasileira de Inteligência e até a Polícia Federal.

Impressionante! Lá na capital federal, no sul, como lá na sede da ONU ou da Comunidade Européia esta notícia deve causar uma boa impressão, um verdadeiro presente de Natal. Finalmente a Amazônia será cuidada com rigor.

Se fosse mesmo usada essa força-tarefa permanente, possivelmente pararia o desmatamento da floresta amazônica. Mas quem vive na Amazônia e estuda a realidade não pode entrar no clima positivo, mesmo em época de Natal.

De um lado, a força-tarefa proposta pelo governo é fantasia. O Exército não tem essa finalidade e poderá, no máximo, fazer alguma ação emergencial, como fez por alguns dias, logo após o assassinato da Irmã Dorathy, em Anapu.

A Força Nacional de Segurança não se sabe o que é, onde está radicada e quem a compõe; a Abin é uma agência de investigação apenas. Quanto à Polícia Federal, não tem gente suficiente e já está muito envolvida com caça ao narcotráfico e às investigações das corrupções de autoridades públicas.

De outro lado, o Ibama não tem recursos, nem de gente, nem de equipamentos para agir rápida e permanentemente. Além disso, o governo não revelou intenção de mudar a política de assentamentos do Incra, pelo contrário.

Aqui no oeste do Pará, não se faz assentamentos em terras improdutivos, mas em terras públicas e de florestas. Neste contexto, como pode o governo querer que se acredite na sua intenção de parar de vez com o desmatamento na Amazônia? Isto sem falar no desastroso programa nacional de florestas e no plano de construir várias grandes
hidrelétricas na Amazônia.

Mesmo estando no clima de Natal, quem acompanha os acontecimentos não tem como ser otimista. Se Jesus provoca esperança, o governo brasileiro não consegue o mesmo.

Comentários

Anônimo disse…
Li que o governo pretende elvar o Brasil da décima para a segunda posição no quadro de exportadores de madeira de lei. Associo essa informação ao um raciocínio que corresponde bem ao que vejo ocorrer no Pará.
O Ibama declara que 80% da madeira que sai da Amazônia é de origem ilegal. Bem, é de origem ilegal mas não sai ilegalmente do Pará, isto é, recolhe imposto aos Cofres Públicos (ajuda o superávit de que o governo Lula se gaba).
Bem, no governo estadual dos Tucanos a coisa ocorria da mesma forma. Então, o governo da Ana Júlia, se quiser fazer ao menos o mesmo que o Jatene, não vai poder abrir mão dessa receita. Então, como se vê, não vai botar o poder de polícia do Iterpa pra funcionar. Vai prosseguir na ideia das Flotas, e continuará liberando qualquer atividade ilegal que seja tão tolerada quando o jogo do bicho para poder fazer mais e mostrar que é melhor que o governo anterior. Resumindo, nem governo federal, muito menos o estadual, tem compromisso com a legalidade (ao menos), mas tão-só com a tarefa de manter-se no Poder (custe o que custar à Amazônia e seu povo).
Em tempos de lamentações do Governo Federal por perda da receita da CPMF (que fazia frente,na verdade, aos juros da dívida externa), custa-me muito acreditar que abrirá mão de receitas ilegais da Amazônia, implementando essa política tão rígida que anunciou.

Gleydson Pontes