Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de hoje, 13:
O que será que leva o presidente da República a insistir obstinadamente numa obra tão controvertida como a transposição do rio São Francisco? Recusa sentar à mesa de diálogo com grupos que discordam daquele projeto. Logo ele que é um diplomado em negociar, como sindicalista, ou melhor, como ex-sindicalista? Por que ele prefere a morte do bispo, como se aquela greve de fome fosse uma questão religiosa e da Igreja?
Ele sabe que entidades entendidas na questão hídrica, como a Agência Nacional de Águas, considera esse projeto da transposição desnecessário, porque há outras alternativas viáveis e mais baratas de atender aos necessitados do semi-árido.
O presidente, um homem do povo, eleito inclusive com voto do dom Luiz Cáppio (segundo ele mesmo confessou, o que o decepciona mais ainda), como é que recusa mudar o rumo de um projeto caríssimo e que, dizem os críticos, não irá atender ao objetivo principal?
O Ibama reconhece que 70% da água da transposição vão ser utilizados para irrigação de fazendas e 26% serão para abastecer cidades. O Tribunal de Contas da União garante que o projeto não beneficiará 12 milhões de pessoas, como fala o presidente Lula. O membro da Pastoral da Terra da Bahia, Roberto Malvezzi, mostra que o projeto do governo vai custar 6,5 bilhões de reais e atenderá apenas a 4 estados e 391 municípios. Enquanto que a proposta da Agência Nacional de Águas custaria apenas 3.3 bilhões de reais e atenderia a 9 estados do semi-árido nordestino, beneficiando a 1356 municípios.
Mas o presidente da República, submisso aos interesses das empreiteiras e fazendeiros do nordeste, se recusa a fazer estas comparações. Bateu os pés e disse que não recua um milímetro de seu proejto.
Já o bispo dom Luiz Cáppio, conhecedor da vida do povo sofrido do sertão bahiano e conhecendo esses resultados das pesquisas, tentou dialogar com o governo, mas foi em vão. Então apelou à greve de fome como um último aceno ao diálogo. Em vão, para o presidente, ex-flagelado do nordeste. Que morra o bispo que isso não é problema seu e sim da Igreja, pensa.
Uma pessoa que arrisca a vida por uma causa social e ambiental, depois de tentar democraticamente dialogar por um caminho mais correto de atender com água ao povo nordestino será um louco? E o que se pode dizer, então, da frase de Jesus Cristo quando disse: "Não há maior prova de amor do que arriscar e dar a própria vida pela causa dos outros..."?
Será que o presidente julga que marcará seu nome na história do Brasil ao obstinadamente insisitr em realizar uma obra gigantesca e utilíssima para as empreiterias e fazendas do semi-árido nordestino, mas desastrosa para o povo necessitado?
Quem é o louco dessa história?
Comentários
A nova greve de fome de Dom Luiz Flávio Cappio traz a tona os mitos (dos dois lados) em relação às obras de transposição do São Francisco.
O primeiro dos mitos é a própria transposição. Não se trata de transpor o Rio, mas as suas águas.
Afirmar que a obra irá atender a 12 milhões de pessoas e que irá resolver o problema da seca é mais um grande mito que foi vendido por Ciro Gomes ao Presidente Lula.
As obras previstas para a transposição tem um objetivo fundamental: a segurança hídrica da região metropolitana de Fortaleza. E de assegurar o desenvolvimento industrial da área junto ao Porto de Pecém. Com base numa siderúrgica, que precisa ter a segurança do suprimento de água.
É uma solução engenhosa com a integração de bacias hidrográficas. Garante a continuidade de suprimento de água pelos açudes e reservatórios já existentes, pelo suprimento adicional de água do São Francisco. Mas não resolve o problema principal: o elevado grau de evaporação da água, nos canais e nos reservatórios.
O problema da degradação do São Francisco ocorre, principalmente, à montante do reservatório de Sobradinho. A tomada de água para a transposição será a jusante. Explicando, a degradação ocorre antes. O desvio da água para levar para o Ceará e Paraiba será depois do reservatório, não afetando toda parte anterior. Poderá afetar o trecho posterior, com efeitos na foz. Insuficientemente avaliados, o que dá margem a especulações míticas, sem bases científicas ou tecnológicas.
É preciso vencer os mitos, para que as decisões tenham base mais técnicas e realistas.
Não deve ser transformada numa questão religiosa.
http://analisedeconjuntura.blogspot.com/2007_11_01_archive.html