Obstinação "energética" do governo




Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), do dia 3.

A obstinação do governo federal em construir a ferro e fogo não uma, mas quatro hidrelétricas ao longo do rio Xingu é algo certamente suspeito. Inicialmente, uns 15 anos atrás, ia ser uma enorme hidrelétrica de Cacaraô. A reação dos povos indígenas que vivem às proximidades do grande rio foi forte e em defesa da vida. O projeto foi suspenso.

Quinze anos depois, recomeçou, agora já sob o governo do homem que veio do povo humilde, que fez longa viagem de campanha por toda a Amazônia, a reação contra o desastre incluiu parte da sociedade civil de Altamira, já que a nova hidrelétrica, hoje apelidada de Belo Monte, atingirá além dos povos indígenas também boa parte da cidade que será alagada.

E não só a sociedade civil de Altamira, mas técnicos que entendem de barragens e até o Ministério Público Federal já se manifestou contra esse crime contra a natureza e contra as populações ribeirinhas do Xingu.

Entrou novo governante, e a ministra-chefe da casa Civil, toda poderosa, decidiu que a obra tinha que ser construída, mesmo com sacrifício dos direitos das populações locais. O Brasil, qual Brasil?, precisa da energia elétrica limpa?

Os estudos técnicos provaram que a hidrelétrica de Belo Monte será um desastre ecológico e econômico porque o rio paralisará as turbinas durante os meses de verão.

O MPF denunciou o erro e a justiça acatou. Mas o governo insiste. Se não dá uma enorme, que se façam quatro grandes ao longo do rio. Não importa que se faça êxodos das populações ribeirinhas e que os povos indígenas sejam desalojados de suas terras. Não importa que a fonte da energia seja suja, mas que lá na ponta seja energia limpa.

Mas que se faça, porque a ministra quer e o presidente obedece. Aí vem outra suspeita: mas por que tanta obstinação quando as evidências são contrárias à caríssima obra? Basta observar quem faz os estudos, e quem vai construir. Justamente grandes empreiteiras.

São elas que estão interessadas em construir várias hidrelétricas na Amazônia, inclusive uma grande no rio Tapajós. A vocação das empreiteiras é de ganhar mais e mais lucros, construir destruindo, tudo em nome do progresso e do crescimento econômico.

Aí pode estar uma grande parte do segredo da obstinação do governo. As empreiteiras precisam ganhar muito dinheiro. Mas por que o governo federal tem que se submeter a elas? Por que para atender as poderosas empreiteiras o governo decide sacrificar todos os ribeirinhos, povos indígenas e a população da cidade de Altamira? Pois é, resposta clara não há, mas fica a imaginação de quem acha um absurdo construir quatro grandes hidrelétricas num só rio.

Por quê?

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