Isoca, 95 anos III

No próximo dia 17 - portanto daqui a 5 dias -, o calendário acusará o nascimento do maestro santareno Wilson Fonseca, o Isoca. Se vivo, ele completaria 95 anos.

No sábado, o blog começou a contagem regressiva da comemoração. Até o dia do aniversário do maestro, uma (e às vezes duas) de suas criações será disponibilizada por dia aqui, para o deleite dos leitores.

Hoje, você vai ouvir a valsa Pérola do Tapajós. Abaixo a ficha técnica da obra e um comentário do compositor Vicente Fonseca.

. Pérola do Tapajós (valsa, 1935)
Música: Pedro Santos e Wilson Fonseca.
Letra: Felisbelo Sussuarana.
Interpretação: Francisco Campos (canto) e Vicente Fonseca (piano).
Fonte: Acervo de Vicente Fonseca.

Ouça!



. Comentário de Vicente Fonseca:

A nossa Pérola do Tapajós tem sido fonte de inspiração para músicos, poetas e pintores desde há muito tempo. Santarém é a mais autêntica "Pérola do Tapajós", não só no sentido figurado, poético ou musical, mas por desfrutar realmente de uma privilegiada situação histórico-sócio-cultural que vai para muito além de meros projetos imediatistas, materiais e politiqueiros, que nada contribuem para retirar a sua vocação natural de “pérola encantada do altivo Tapajós”, o mais lindo rio do mundo.

As nossas riquezas naturais não constituem simples lendas ou utopias, mas um patrimônio de valor inestimável, que, é claro, exige melhor adequação aos interesses sociais.

Escreveu Wilson Fonseca, no Meu Baú Mocorongo: “Já se disse alhures que povo sem tradição é povo sem alma. E o santarenense tem alma porque desde os seus primórdios procurou fazer tradição. E a cada um de nós cabe conservá-la em todas as suas manifestações, para grandeza de nosso povo no suceder dos séculos”.

As condições de cidadania e de dignidade do povo não excluem sonhos azuis e cristalinos tão maravilhosos quanto o belíssimo rio que se espraia diante de nossa dimensão mocoronga. A "Pérola do Tapajós" não é apenas um mito, mas o cognome de uma cidade que tem história. A história – muito diferente dos mitos e lendas – não precisa ser montada e nem desmontada. A própria vida social se incumbe de construir a realidade com os tijolos muitas vezes invisíveis aos olhares menos desatentos.

Quem sabe se esse modo de ver as coisas não constitui um privilégio apenas dos músicos e poetas... Enquanto isso, vou navegando no Tapajós... Meu porto seguro será sempre “minha terra tão querida”, poeticamente tão bem cantada nos versos de Felisbelo Sussuarana.

. Letra de Pérola do Tapajós:

Tu és, ó cidade de beleza,
Na doce paz da tua singeleza
A resplender, banhada de arrebóis,
A pérola encantada
Do altivo Tapajós!
Em ti , a sonhar, doce recanto,
Sonhos de amor
Eu vivo num quebranto
Consolador.
Rincão de encantos mil,
Pedaço de alvorada dentro do Brasil!

P’ra te cantar
E exalçar,
Ó meu rincão,
Ó bem meu,
Da aurora roubo
O clarão!
Roubo do sol os raios e o calor
E o doce olor
Dos rosais;
Roubo o matiz
Do arrebol,
E roubo mais
O primor
Do rouxinol!

Santarém, terra mimosa,
Teu lindo nome
Quero banhado de mil sóis,
A graça majestosa
Do teu grande rio,
Desse Tapajós!
Ó meu rincão,
Tuas morenas
Filhas pequenas
Amo com esta afeição
Que vem do amor
Que me faz cantor!

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