Isoca, 95 anos II

No próximo dia 17 - portanto daqui a 6 dias -, o calendário acusará o nascimento do maestro santareno Wilson Fonseca, o Isoca. Se vivo, ele completaria 95 anos.

Ontem, o blog começou a contagem regressiva da comemoração. Hoje, data de falecimento do pai do músico santareno, José Agostinho, você vai ouvir um dobrado que o filho criou para o pai, em 1945.

Eis ficha técnica dele:

. José Agostinho da Fonseca - Dobrado nº 12 (1945)
Música: Wilson Fonseca
Interpretação: Orquestra Jovem Wilson Fonseca, com a regência do maestro José Agostinho da Fonseca Neto, o Tinho.
Fonte: CD Sinfonia Amazônica (volume 2) - 2002/2003.

Ouça!



. Comentário de Vicente Fonseca:

Em 1945, Wilson Fonseca dedicou este dobrado a seu pai José Agostinho da Fonseca, mestre de banda e clarinetista, falecido naquele mesmo ano. Os magníficos contrapontos da peça revelam o talento de Isoca, sutil nas oportunas insinuações do clarinete, cujo desenho musical transparece citações inspiradas no fio condutor dos maxixes compostos pelo homenageado.

Esses maravilhosos bordados musicais, qual diálogo entre pai e filho, parecem traduzir gostosas brincadeiras que não escondem um certo espírito moleque, na verdade, lições do mestre ao discípulo, numa sintonia mais do que polifônica.

Por isso, os músicos aprenderam a ter uma admiração especial, quase uma veneração, por essa música tão inspirada. Em virtude de repetições necessárias de trechos da composição, alguns chegam a considerá-la um “dobradão”, dada a sua extensão inusitada para o gênero (9 minutos), que, guardadas as devidas proporções, lembra as longas obras-primas de Beethoven, Wagner, Bruckner ou Mahler.

É impossível deixar de destacar ainda outros pontos na obra. Primeiro, a delicadeza de expressão na melodia do inevitável “forte”, com os contratempos suavemente destacados. Segundo, a passagem genial para a última parte da peça, simbolizada por uma pausa de quatro tempos (um compasso inteiro), significativo silêncio, no extraordinário anúncio para o trecho mais bonito da peça, cujo realce foi coberto pelo golpe do prato, a fim de demonstrar que a música não terminava ali, mas continuava, como na eternidade da vida, numa oportuna idéia do Maestro Tinho, na homenagem que também presta ao saudoso avô, cujo nome herdou, com talento e dignidade.

E terceiro, a linda marcação do contrabaixo na última parte do dobrado, entrecortada de toques sutis do trompete. “José Agostinho” é a origem do entrelaçamento de outras criações de Wilson Fonseca, de nítida influência nos dobrados nºs. 40 e 33, que dedicou ao filho e ao neto (“Tinho – 40 Anos” e “Tinhinho” – faixas 14 e 9 do CD “Sinfonia Amazônica”, volume 1), qual DNA que marca o estilo inconfundível de Isoca.

É a reverência ao mestre, seu genitor, com todos os ingredientes necessários à manifestação da mais pura gratidão, sob a forma de música.

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