A desordem das calçadas

Um pequeno descuido... Um tombo. Um pequeno deslize ao andar pelas quase calçadas da cidade, corre-se o risco de uma entorse. Um descuido maior, e pode-se ser atropelado.

Altas, baixas, com degraus, sem degraus, estreitas, largas, com mato, sem mato e assim por diante, elas nos são apresentadas, e os bravos pedestres, em constante luta, mesmo com atropelos e dificuldades, mas com extrema atenção, suplantam-nas.


São guerreiros do dia-a-dia. Senão bastasse a luta por dias melhores, ainda lutam na rua como pedestres para terem algo que é seu direito, ou seja, terem calçadas e andarem em segurança.

Por que efetivamente não temos calçadas em nossa cidade? Nada de culpar o governo atual, porque se trata de algo que ao longo de muitos anos, senão foi efetivamente trabalhado, foi deixado de lado (...)

Trecho do artigo de Antenor Giovaninni sobre as calçadas em Santarém. Aposentado, ele toca num problema nunca solucionado neste município.

[Clique aqui], para lê-lo.

Comentários

Anônimo disse…
Caro Sr. Antenor.
O tema levantado é muito importante. Por incrível que pareça, calçadas mal planejadas são uma das etiologias mais importantes para quedas na terceira idade. Quedas da terceira idade é uma patologia que é considerada um problema de saúde pública nos EUA e Europa. As quedas não geram só prejuízos físicos, mas podem causar, além de mortes, problemas psicológicos que limitam o idoso em suas atividades diárias. O custo com hospitalização e procedimentos cirúrgicos são elevados, já se justificando em qualquer lugar do mundo a prevenção, através das melhorias no ambiente. Tenho certeza que as calçadas de Santarém, se melhoradas, poderiam reduzir a incidência de quedas. Nossa estatística para Santarém coloca o fator “queda” como o segundo colocado em mandar pacientes para o Pronto-socorro de Santarém e que tiveram, por este motivo, algum trauma craniano. Dentre os traumas de crânio que chegam ao Pronto-socorro, 22 % são devido a quedas. Muito bom tema a ser discutido Sr. Antenor.

Erik L. Jennings Simoes
Jota Ninos disse…
Caro Antenor,

Quando lancei minha coluna semanal "Perípatos" há dois anos na edição regional do Diário do Pará (Diário do Tapajós), tinha como uma de minhas primeiras intenções realizar um projeto antigo, da época em que me iniciei como articulista no Jornal de Santarém (administrado pelo saudoso Arthur Martins): caminhar pela cidade e filsofar como Aristóteles fazia em Atenas, na Grécia clássica. Fazer uma viagem peripatética pela Pérola, ou seja, andar pelos "perípatos" da cidade (em grego, perípatos é passeio, calçada, espaço utilizado pelo grande filosofo para ensinar seus alunos conversando sobre a natureza enquanto caminhava) e ouvir as pessoas para relatar suas preocupações com o dia-a-dia.
Mas, andar em Santarém como em muitas cidades da Amazônia é uma tarefa hercúlea. A falta de planejamento de sucessivos governos levou ao caos que existe hoje: AS CALÇADAS VIRARAM EXTENSÃO DAS CASAS! Cada um coloca o que quer na "sua" calçada. O passeio não é mais público, é privado. Lajotas deslizantes, rampas que mais parecem acessos aos palácios individuais de cada um ou simplesmente tabuleiros para vender calcinhas, cuecas, frituras e pneus!
A falta de cidadania de todos aliada ao descaso dos chamados "poderes constituídos", transformou nosso "perípatos" numa corrida de obstáculos! Principalmente para deficientes físicos e visuais!
No artigo de estréia de minha coluna (pode ser lido nesse endereço: http://jotaninos.blogspot.com/2005/10/peripatos.html) eu terminava dizendo que "se a filosofia ocidental, predominantemente marcada pelos ensinamentos aristotélicos, dependesse do 'peripatos da pérola', já teria se acabado num tropeção... Triste vida de um filósofo dos trópicos..."
O crescimento desordenado da cidade e a falta de visão de TODOS os administradores que passaram pela prefeitura, transformou as poucas calçadas existentes em tormentos para pedestres, fazendo com que disputemos espaço com veículos no meio-fio. O pior de tudo é que consertar toda essa balbúrdia acumulada é juito difícil, pois implicaria num grande investimento para quebrar o que já foi feito e reconstruir. Mas se não houver um ordenamento jurídico capaz de disciplinar a utilização das calçadas de nada adiantará: cada um continuará dando sua contribuição na "ditadura dos puxadinhos". Ninguém mais abre mais de seu "direito de propriedade" sobre as calçadas.
E o público que se dane!
Anônimo disse…
Dr Erick/ Sr Jota Ninos/Jeso -
Não me lembrava mas havia lido tempos atrás a respeito dessa viagem pelas ruas e a memória já fraca nao ligaram que havia sido o sr Jota Ninos ..
Sabemos que o blog é lido por muitos: médicos, jornalistas, juizes, advogados, sociologos,engenheiros, padre, cantores, até aposentados e anônimos, que opinam, defendem suas idéias, provocam, enfim, fazem do blog um mural de democracia, mas tenho certeza que todos sem exceção e sem discussão, querem uma região melhor, uma Santarém melhor. Diante desse quadro,como sugestão, tal qual foi a brilhante iniciativa do Dr Eric quando o assunto foi Hospital Regional, não seria possivel através de todos esses pensadores, principalmente juristas encontrar algum meio que possamos cobrar das autoridades um ação mais prática com relação ao correto uso das calçadas? Como corretamente o sr Jota Ninos menciona consetar esse samba do crioulo doido será muito dificil e custoso seja aos cofrs públicos, mas principalmente em votos quem ousar querer modificar oi que já está feito. Mas não haveria chance através do blog uma campanha para o que não foi feito?
Há razoavel nr de kms de calçadas sem nenhum pedaço de cimento ou terrenos baldios abertos sem proteção, não se poderia se conseguir uma ação legal para que os proprietários tratassem de arrumar essa parte ? Já seria uma melhoria .
Não haveria chance de determinar o fim do comércio em cima da calçadas afetassem quem fosse?
Nossos causídicos leitores do blog nao poderiam dar idéias de ações que os demais unidos poderiam endossar em entrar com uma ação pública solicitando o que for juridicamente possivel? O blog nao encamparia uma campanha desse nivel ?
Para não compartilharmos com a relidade exposta pelo Sr Jota Ninos de que a solução é dificil então vamos deixar assim mesmo e seguir o enterro ... Não há chances de unidos (independente das opiniões contrárias em outros assuntos) em prol de melhorarmos Santarém num tópico importante, conforme expõem Dr Eric ?
Fica a sugestão e espero que não encarem como utopia ou devaneio.

Antenor Giovannini
Aldrwin Hamad disse…
Caros Amigos,

Primeiramente gostaria de saudar o amigo Antenor pelas suas frequentes e pertinentes intervenções, como o tema das calçadas. Sua presença torna ainda mais plural e consequentemente mais democrática esta fantástica ferramenta de cidadania e exercício democrático que o Blog se transformou. Palmas para o Jeso. A presença constante dos artigos do Antenor, assim como os do Pe. Edilberto servem de parâmetros polares para formação de opinião. Isto é muito saudável.

Mas vamos às calçadas. Este tema, como outros tantos que passam em pequenas notas um tanto quanto desapercebidas ou pouco instigantes a comentários em comparação a poemas de amor à mulheres casadas, baleias e partos aéreos, são, ao meu ver, esseciais para discutirmos sobre a tão feia, suja e sofrida vida urbana de Santarém.
Completará um ano no final de Dezembro (assim como o Hospital Regional) o manifesto pela qualidade de vida na cidade lançado pelo dr. Dutra. Muito se falou de arborização, de pavimentos, de infra-estrutura, da necessidade de se repensar a vida urbana do município, etc.
Bom, quem sabe com mais gente agindo a coisa não comece a andar de maneira mais séria desta vez. O Antenor, agora aposentado, cheio de energia e boa vontade pode ajudar bastante se unindo aos cidadãos que não aguentam mais esperar e calar. Haveremos de ver Antenor e Padre Edilberto de mãos dadas em uma luta por interesses comuns.

O caso das calçadas Santarenas, como o amigo J Ninos escreveu é mais uma demonstração da união de duas terríveis variáveis. Falta de ação pública (planejamento, informação, cobrança e punição) e irresponsabilidade privada (em todos os sentidos).
Ouro dia, o vovô Ninos provocou a população questionando sobre a tradicional "frouxura" que nos acomete diante de desmandos públicos e privados. Naquela oportunidade o significado da frouxura era em relação à covardia diante de escândalos e a total falta de ação ou reação da sociedade(e poder público) mediante uma agressão externa como no caso do hospital regional. O mesmo vale para as agressões internas como calçadas, carros na praia, transporte coletivo, etc. No caso das calçadas, a "frouxura" citada por Ninos aplica-se ao poder público no sentido de falta de rigor na fiscalização e cumprimento do que manda o plano diretor e código de postura nos ordenamentos urbanos do município, tem levado, há décadas à ruína urbanística da cidade. Ao mesmo tempo, une-se a variável da irresponsabilidade privada onde cada um faz do seu jeito exatamente por não ter disponível "Como" deve ser feito. Neste infinito ciclo de falta de planejamento/cobrança/punição, chegamos onde chegamos. Desordem e nenhum progresso.
Em outra oportunidade, comentei sobre uma queixa do amigo Bruno Moura sobre o mau uso da Orla (http://jesocarneiro.blogspot.com/2007/09/caos-na-orla.html)e levantei a questão da orla ser o único "refúgio" de civilidade urbanística da cidade em meio ao caos visual predominante.

O caos social e urbano que nos ronda é fruto da dupla variável citada anteriormente que insiste em andarem acompanhadas.
O poder público pós-ditadura tem MEDO de agir punitivamente por receio de ser considerado autoritário ao fazer cumprir as leis.
Medidas impopulares como mandar demolir calçadas e muros irregulares, multar via IPTU aqueles que infringirem as normas e em último caso desapropriar terrenos que atrapalhem a vida dos cidadãos, jamais são tomadas para não implicar na perda de votos futuros ou incomodar parentes e amigos. Cobrar dos cidadãos de forma enérgica e punitiva, não faz do poder público um algoz e sim um libertador. As liberdades e direitos conquistados com a Constituição de 88, de alguma forma, ocultaram os Deveres dos cidadãos. Uma sociedade jamais será evoluída e verdadeiramente democrática se os seus não dedicarem parte de seu tempo para o cumprimento de deveres para a coletividade. O proibido proibir virou regra e a anarquia do cada um por sí e o meu primeiro nos afastam da "vida boa" de Aristóteles.
Sociedades mais evoluidas do ponto de vista de organização urbana não aconteceram inicialmente pela boa vontade dos cidadãos e sim pela pressão e repressão ao não cumprimento de normas. Depois de um certo tempo as obrigações se incorporam à vida cotidiana e deixam de ser impostas para virarem regra, mas, as regras continuam lá para lembrar aos esquecidos como viver em sociedade.
Enquanto o poder público local não der o bom exemplo de conservar pelo menos as vias públicas de maneira minimamente aceitável e fornecer os serviços públicos que lhes são obrigatórios, jamais terá a moral de exigir que os cidadãos façam a sua parte. Neste ciclo interminável de "frouxura", falta de planejamento,preguiça e desleixo, nossa cidade se distancia cada vez mais de um lugar que possa se chamar de civilizado onde as regras e os limites são feitos não para restringir liberdades, mas para garantir o mínimo de respeito para quem quiser usar a calçada para filosofar, namorar, comprar, passear ou simplesmente não ter que ser forçado a ir ao hospital municipal por um tropeço(este último, um castigo tão cruel que não se deseja a ninguém).

Para contribuir para o debate, indico o site da prefeitura de São Paulo (http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/passeiolivre/) onde inclusive pode ser baixada uma cartilha que indica as regras básicas que cada cidadão deve usar para regularizar sua calçada. Um projeto conjunto de revitalização de calçadas, execução de drenagem e a implantação de um plano com a arborização que tanto precisamos, daria uma cara completamente nova à cidade, deixando-a mais digna e saudável. Se alguém da SEMINF demonstrar interesse no assunto, levo uma cartilha dessa impressa. Basta dizer aqui no blog pra quem e onde entregar que farei com prazer.

Certamente caro Antenor, isto não é uma outopia ou devaneio, é algo simples que até Monte Alegre e Curuá conseguem ser melhores que Santarém. Se outros conseguem, porque nós não? Seria a frouxura extrema.

Se a prefeitura local adotar a idéia e estabalecer as regras com que as calçadas devem ser feitas, acredito que ainda faltará uma campanha e a rigorosa cobrança (com prazos e multas) para que os cidadãos façam a sua parte, nem que seja pra poupar os velinhos das mãos do Dr. Erik.
Um abraço aos amigos.