Balsas formam fila à espera da reabertura do porto da Cargill

Doze balsas carregadas com 28 mil toneladas de soja aguardam ao longo do rio Amazonas uma decisão da Justiça para embarcar. Elas estão paradas desde o dia 23 de março nos portos de Porto Velho, em Rondônia, e Itacoatiara, no Amazonas, de onde subirão por mais 20 horas até chegar a Santarém, no Pará.

Ali, outras oito "chatas" com 19 mil toneladas do grão estão estacionadas sem prazo para sair, enquanto o escritório regional do Ibama faz as análises jurídica e técnica dos documentos apresentados pela Cargill e o porto de Santarém permanece lacrado por ordem do Ministério Público Federal.

A multinacional americana é acusada de operar sem a mais importante licença ambiental brasileira, o EIA-Rima. Desde 2003, quando tiveram início as operações, o porto movimenta anualmente cerca de 1 milhão de toneladas de soja, a maioria do Mato Grosso.

Perdidos

O grão segue de caminhão até Porto Velho, onde é transferido para as balsas que os escoará até Santarém, e de lá para o exterior.

"Estamos perdidos", diz Paulo Vicente Caleffi, assessor da presidência da Transportes Bertolini LTDA, a empresa responsável por todo o transporte fluvial da soja na região. Com sede no Rio Grande do Sul, a empresa contabiliza quase R$ 1,5 milhão de prejuízo até agora, algo como 20% de sua receita fluvial.

"Estão nos afetando na época mais favorável para o nosso negócio, que é a cheia do rio", afirma Caleffi, lembrando da difícil logística da região amazônica. O inverno na região amazônica, que começa no fim do ano e se estende até julho, é o melhor momento para a navegação, explica ele.

Nesse período, os seis comboios da empresa chegam a fazer duas viagens por mês. "Agora está tudo parado", acrescenta. O primeiro embarque desde o embargo de Santarém estava marcado para hoje, com destino à Europa. "Por uma feliz coincidência", diz a Cargill, "o navio atrasou e atracará somente na sexta-feira".

Plano B

A empresa confirma que tem estruturado um plano B para o escoamento e cumprimento de contratos internacionais. Mas não revela como nem por onde, alegando sensibilidades de mercado.

Como não há previsão de reabertura de Santarém, a Cargill deverá redirecionar o navio para outro porto, o que irá acarretar custos extras. Na pior das hipóteses, terá de pagar pela "demourrage", que é o custo de manter o navio atracado no porto sem carregar. "Até agora não fomos informados do que acontecerá", diz Caleffi.

Ele atenta para o tempo de espera dos grãos nos porões das balsas, em um cenário de sol forte e alta umidade do ar. "Não sabemos quanto tempo essa soja vai aguentar nessas condições".

Desmatamento

Enquanto isso, a Cargill aguarda uma sentença de instâncias superiores que possa reverter a situação, uma vitória de grupos ambientalistas que alertavam sobre as ameaças ambientais da empresa. E não é só eles pensam assim.

Na avaliação do procurador da República Felipe Braga, o porto da Cargill incentivou o desmatamento de matas nativas da Amazônia para o plantio de soja e também provocou o êxodo de moradores de suas terras.


Fonte: Jornal Valor Econônico, hoje

Comentários

Anônimo disse…
No capitalismo vence quem consegue prever melhor os riscos do negócio.

EMA EMA EMA... cada um com seu problema.
Anônimo disse…
Começamos a falar a linguagem que a Cargill entende...
Qualquer capitalista mais inteligente já teria feito logo esse tal de EIA-RIMA.
Anônimo disse…
A Cargill não apresenta o EIA-RIMA porque sabe que os estudos mostrar]ao a inviabilidade e o prejuízo causado pelo plantio de soja na região amazônica. Quem defende isso são os mesmos que já destruíram o Sul, já destruíram o cerrado e agora querem destruir a amazônia.
Se a soja é a solução, por que os sojeiros têm que vir cada vez mais longe pra plantar? Por que esgotou-se o filão em outras regiões? O que não esgota é a capacidade de destruição dessa gente, que tm os bolsos cheios e é só isso que interessa a eles.