A PM e a ordem em Santa Maria do Uruará

Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM), de ontem:


O que está ocorrendo em Santa Maria do Uruará é um grave conflito de interesses particulares de madeireiros e o bem-comum das comunidades do rio Uruará. As consequências podem ser trágicas se autoridades competentes não intervirem a tempo.

As informações que chegam de lá indicam que está havendo um saque da floresta. Os comunitários afirmam que as madeireiras de lá têm um plano de manejo legal, mas estão extraindo madeira de outras áreas e passando como se fossem de área de manejo. Se for verdadeira a informação, é uma violação dos direitos humanos de quem vive lá e de todos os e as amazônidas.

O Ibama é a autoridade que deveria clarear esta dúvida. O que deveria fazer era mandar parar toda extração de madeira até fazer uma vistoria completa em toda a área. Agora se fala que há um instrumento mais preciso, o Documento de Origem Florestal, o DOF, mas o Ibama de Santarém, segundo entrevista do chefe local, ainda não tem como certificar se o que diz o DOF das madeireiras do rio Uruará é correto ou não.

Enquanto isso, o confronto está armado lá na região e agora com mais contigentes de PMs de Monte Alegre e de Prainha. Segundo um oficial da PM em Santarém, os contingentes estão lá para manter a ordem. Ordem de quem? Vão garantir o direito de as balsas passarem carregadas de toras, que os comunitários têm impedido?

Dizia o PM que se as toras de madeira forem legais, os comunitários não poderão impedir a passagem. Mas como os policiais saberão que elas são legais? O chefe do Ibama em Santarém diz que a Polícia Militar do Oeste do Pará não tem treinamento para identificar se a madeira é legal ou não. Os ATPFs já não têm valor.

Se não há certeza de que os comunitários estejam fora da lei, se não há certeza que as madeiras estejam saindo são ilegais, por que o Ibama não toma uma atitude urgente para evitar o pior do confronto?

Em entrevista recente, o chefe do Ibama explicou que já tomou providências junto aos superiores, pedindo recursos para fazer a vistoria necessária no local. Mas até agora não chegou decisão superior. Isto é, até que aconteça o pior então virá a imprensa, virá o Exército para manter a ordem dos que ainda estiverem vivos e certamente para garantir o saque da floresta pelas madeireiras que estão com centenas de toras de madeira estocada nas matas, como afirmam pessoas de lá.

Manter a ordem, para isso criaram a polícia. Mas ordem de quem?