Pensata

Atração turística? Turismo é outra coisa

Manuel Dutra (*)


Tenho lido aqui neste blog que a prefeita de Santarém, Maria do Carmo, estaria entusiasmada com a idéia de contratar os serviços do arquiteto Paulo Fernandes Chaves a fim de reproduzir em Santarém – nos limites da comparação com Belém – a construção de “pontos turísticos”.

Nos governos tucanos, Paulo Chaves idealizou diversas “atrações” na capital, entre as mais badaladas a Estação das Docas, o Mangal das Garças, o conjunto em torno da Casa das 11 Janelas e do Forte, e os museus sacros da Cidade Velha.

São obras bonitas, é claro. Porém, uma política de fomento ao turismo não se faz dessa maneira, com a criação de “points” extremamente caros e sofisticados, cheios de serelefes que encantam as elites locais e não atraem turistas, haja vista o vazio de Belém e redondeza, pouco procurados pelos visitantes. Esse vazio se torna maior quando se compara, não com Fortaleza, mas com São Luís e Manaus. A causa: nem Belém nem o Pará têm políticas públicas de incentivo ao turismo. Como não se quer ou não se sabe fazê-lo, constroem-se “pontos”, belos mas que não podem ser catalogados como atratores de turistas.

Risível imaginar que alguém se abale de Porto Alegre, São Paulo, Salvador, Amsterdam ou Paris para saciar a curiosidade de conhecer a Estação das Docas ou a Casa da 11 Janelas (já houve até um governador que disse que Belém estava preparada para o turismo porque agora dispunha de um bom aeroporto!!!).

A Amazônia pode, sim, fazer turismo cultural, mas todos sabemos que o grande chamariz da região é a natureza. E trata-se de um produto que nem precisa de propaganda, pois a palavra Amazônia, juntamente com os termos Coca-Cola e Microsoft são os enunciados mais conhecidos no mundo, segundo dizem os que estudam publicidade.

Em Belém, como de resto no Pará inteiro, ainda sobrevive a idéia de que todo turista é rico, grã-fino, branco, provém dos Estados Unidos ou da Europa ou, quando muito, de São Paulo. Claro que essas categorias viajam, mas a massa de viajantes hoje em dia vai muito além disso aí.

Por isso, a grande maioria dos turistas contemporâneos dispensa hotéis de luxo. Na Europa e nos Estados Unidos uma parcela imensa dos viajantes fica em acampamentos, nos campings, em barracas ou carros, ou mesmo em pensões e abrigos muito simples.

Agora, a questão: esses locais simples são higiênicos, há restaurantes ao alcance de variados bolsos, há ordem (silêncio nas horas de silêncio), as reservas e horários são respeitados e, acima de tudo, há segurança, inclusive à saúde, havendo campings, entre os maiores, que mantêm médico de plantão e possibilidade de remoção rápida.

Seja qual for a categoria do turista, o que ele quer é isso aí: cumprimento dos contratos, horários e traslados como previstos, segurança, guias que falem pelo menos o inglês com fluência e que conheçam a história de sua cidade ou região, recepção educada (e sem aquelas coisas estranhas de ficar paparicando quem desce dos aviões, com cantorias e rebolados, como se verifica tanto em Belém, por ocasião do Círio, ou no Rio).

Enfim, o que atrai o turista é, fundamentalmente, aquilo que uma cidade ou uma região têm de melhor ou de mais falado pelo mundo afora, somado ao modo como esse viajante é recebido. Turismo não se faz desconectado do povo que é visitado, do jeito como esse povo recebe, e muito menos desconectado das condições de higiene das cidades e da segurança.

É por isso que implantar uma vesga política de construção de “pontos” ou “atrações” é sinônimo de jogar dinheiro fora. O que é preciso é o estabelecimento de uma política para a atividade turística, produzida por quem conhece o assunto, discutida com a sociedade organizada.

No interior dessas medidas, não se pode esquecer que as populações locais também precisam de lazer e das possibilidades de desfrutarem dos bens de cultura, como museus, prédios históricos, praças limpas e amplas, etc., e dos bens que a natureza criou, como as praias, os rios e florestas para onde o acesso quase sempre é difícil ou impossível.

Em resumo: uma política para o turismo requer que se crie uma nova mentalidade, que se ponha fora jeitos tão antiquados de pensar e agir. As cidades e a região têm que ser lugares limpos, conservados para oferecerem qualidade de vida em primeiro lugar para os seus habitantes.

Se isso for feito, o turismo crescerá. Ou será que alguém pensa que a Noruega se organizou e deu qualidade de vida a seus habitantes com o objetivo de atrair turistas? Ao contrário, os turistas vão lá é para ver estas coisas. Com isso quero dizer que uma política pública de incentivo ao turismo só obterá êxito se, em primeiro lugar, se pensar no povo que recebe e nas suas condições de vida.

Pensar diferente pode ser a permanência da velhíssima divisão entre povo e elite, esta aquinhoada com os “pontos” e “atrações” que pouco ou nada atraem gente de fora, e o zé-povo passando ao largo, embora seja o povo sempre quem paga a conta de projetos desastrados.

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(*) Santareno, é jornalista e professor-doutor do curso de Comunicação Social da UFPA.

Comentários

Anônimo disse…
É verdade. A grande maioria dos tursitas reclama e não gosta de atrações que a cidade tenta colocar. Levar turistas na orla da cidade, por exemplo, principalmente naquele ponto próximo ao bar mascote é impraticável. Sem uma árvore, uma lanchonete para vender uma bebida refrescante de frutas típicas da região. Enfim, de dia é insuportável frequentar e à noite, os carros dos agro boys com um som mais alto que o outro afugentam o turista.
Em alter do chão, outro exemplo de obra que não deveria ser feita do jeito como foi. A praça do centro da vila com aquele modelo arquitetônico do ferro e concretão não traz elogios, só críticas, principalmente para aqueles que conheceram a praça antes e depois. Acho que deveria pensar bem, melhorar a infra-estrutura é muito necessário sim, mas é preciso manter elementos, traços arquitetônicos que marquem diferença e estejam mais próximos da identidade regional.
Outra questão que vai além disso, é a forma em si como o turismo vem sendo trabalhado. Parece que em nossa cidade as pessoas, empresas, não estão preocupadas em explorar o turismo e sim o turista. Vejam o preços que se praticam nos passeios em alter do chão, o preço de um cartão-postal (o mais caro do Brasil), enfim.
Falta muito para a cidade que quer ser pólo de turismo ser de fato.
Anônimo disse…
Concordo plenamente com o Dr. Sem dúvida as grandes obras são belíssimas, porém, servem apenas a alguns, o povão mesmo, não pode se dar ao luxo de tomar um lanche em um dos vários pontos existentes na estação das Docas.Agora, já em Altamira, onde resido hoje, a Prefeitura gastou 187.000,00 na restauração do cemitério central, e segundo a prefeita, os "entes queridos" estão muito felizes, inclusive fala-se que pela praça que compõe a "obra", o cemitério histórico, seria transformado em cartão postal. É Mole ?
Anônimo disse…
Dutra, o que vc. quer, acalenta, deseja, implora até, a prefeita Maria do Carmo Martins Lima não pode dar. Por absoluta incompetência - e do irmão dela, o prefeito de fato Everaldo Martins Filho - de administrar um município. Nem o gabinete dela na Assembléia Legislativa, nem a ADA, na curta e amém passagem que teve por lá, ela conseguia pilotar. Maria do Carmo é um caso perdido de político. Menos pior só que o seu antecessor, larápio da coisa pública, mal-caráter da política e populista que entoa o canto lírico-mete-a-mão "Rouba, mas faz". Que guaranys, ponta negras, tapajós adoram repercutir.

Raimundo Corrêa Paul
Anônimo disse…
Claro que concordo com o que o jornalista diz, mas turismo tambem não se resume só a isso, fazer coisas de mal gosto já que que é para o povo, tem que se ensinar o povo a gostar do que é belo e ter dinheiro para pagar, mesmo porque o povo não paga nada quem paga é a pobre classe media, se fosse assim não teriamos grande e belos museus pelo mundo afora, bom gosto e beleza arquitetonica nao tem classe, o antigo presidio da praça Amazonas em belem é um exemplo de bom gosto arquitetonico. O que o turista gosta mesmo é de conhecer a historia, a cultura do povo, e para isso temos que ter locais onde ele possa conhecer tudo isso, e um povo educado, limpo e com dinheiro no bolso para não ficar querendo assaltar o turista.
Anônimo disse…
Não há muito o que comentar sobre o artigo do Dr. Dutra. Bem que o Jeso poderia tê-lo como articulista regular do blog, tanto ele como o Dr. Samuel Pantoja (sem nepotismo, mesmo sendo um admirador dos Lima/Dutra) dois grandes exemplos de jornalistas santarenos.

Como mísero complemento, acho que a necessidade de termos uma postura pública de repensar os ambientes urbanos das cidades amazônicas não deve ser com objetivos turísticos e sim, para proporcionar bem estar para os habitantes das cidades.
Turismo é consequência.

Uma cidade que é agradável (limpa, segura, com vias trafegáveis e sinalizadas, saneada e com alternativas de entretenimento) para os próprios habientates e que além disso tem atrações naturais únicas como as que temos aqui, só tem motivos para atrair muitos turistas e oportunidades.
Anônimo disse…
O Jornalista é lúcido em suas colocações, aliás, sua competência é por todos conhecida.Belezas naturais são produtos indispensáveis ao turismo. Agora, urge que o povo seja mìnimamente educado e não faça de lagos e rios lixeiras.Há alguns anos, quando Forbes esteve em Santarém, queixavam-se de que a região não tinha indústria para fomentar seu desenvolvimento. O mesmo respondeu: a maior indústria vocês possuem, as belezas naturais! Eduquemos nossas crianças para que futuramente a nosssa indústria ecloda.
Anônimo disse…
O Jornalista é lúcido em suas colocações, aliás, sua competência é por todos conhecida.Belezas naturais são produtos indispensáveis ao turismo. Agora, urge que o povo seja mìnimamente educado e não faça de lagos e rios lixeiras.Há alguns anos, quando Forbes esteve em Santarém, queixavam-se de que a região não tinha indústria para fomentar seu desenvolvimento. O mesmo respondeu: a maior indústria vocês possuem, as belezas naturais! Eduquemos nossas crianças para que futuramente a nosssa indústria ecloda.
Anônimo disse…
Nossa mãe, esse foi o comentari mais obvio do Dutra e claro ele nao ta reinventando a roda. Amazonia é bidiversidade e é isso que tem que ser oferecido e protegido, e que tem sido negligenciado, ao contrario da estupida ideia de vender "O caribe Brasileiro". E ainda, a cidade tem que ser preparada pra quem nela vive, se assim for feito os turistas vao adora-la.
Anônimo disse…
Caro Jeso e leitores de seu prestigiado blog.

O Professor Manuel Dutra, como jornalista, há muito acompanha de perto os problemas amazônicos e, portanto, detém autoridade suficiente para opinar sobre a maioria deles. Todavia, é equivocada sua análise sobre a idéia da Prefeitura de Santarém de construir pontos turístícos semelhantes aos que existem em Belém, mormente quando assevera que "uma política de fomento ao turismo não se faz dessa maneira, com criação de 'points' extremamente caros e sofisticados, cheios de serelefes que encantam as elites locais e não atraem turistas." Engana-se o Professor:

Graças a atrações como a estação das docas, complexo feliz lusitânia,dentre outras obras realizadas em Belém nos últimos vinte anos, esta cidade figura entre os dez destinos mais recomendados por publicações especializadas em turismo.

Quando afirma que Manaus recebe mais turistas que Belém, tem razão. Todavia, o fato é que isso ocorre em razão daquela cidade contar com um trabalho de divulgação no exterior e no Centro-Sul do Brasil (que o Pará não tem) e, para além disso,conta com uma estrutura hoteleira bem melhor.

Santarém, além da precária estrutura hoteleira, em particular, ressente-se profundamente de pontos de visitação que proporcionem bem estar ao visitante, já que, como toda cidade amazônica, o calor fustiga quem é da região e, muito mais, quem vem de climas mais amenos.

Tome-se por exemplo o mercado municipal/modelo, que afora o heróico esforço dos comerciantes cearenses(que devem ter participação garantida nas novas atividades), há muito deixou de servir à finalidade para o qual foi construído. Seria o caso então de ser restaurado, adaptado e climatizado nos moldes da estação da docas de Belém, transformando-se, com todo conforto, em centro gastronômico, cultural e em uma espécie de galeria com dezenas lojas para vender, do artesanato ao vestuário em geral. Diga-se passagem que, em Santiago do Chile, o mercado no centro da cidade é a grande atração turística, e, na Argentina, um lugar chamado "puerto madero" (que para mim é uma estação das docas piorada), atrai todos os que visitam Buenos Aires.

É claro que não virão turistas do exterior, somente para ver a atração referida, e nem os queremos, já que os poucos estrangeiros que desembarcam em Santarém, se demoram quatro horas, batem algumas fotos e seguem em seus luxuosos navios, pouco contribuindo para a economia local.

O pefil do turista que Santarém precisa é aquele que vem de perto. Nessa linha, somente Manaus e Belém, somam quatro milhões de potenciais turistas, que virão e voltarão muitas outras vezes. Mas, para tanto, precisam de conforto.

Se concretizada com seriedade a idéia da Prefeitura pode ser muto boa.


Subscrevo-me. Kátia da Silva Portela - Santarena, estudante de Direito em Brasília-DF.
Anônimo disse…
Acredito que para sermos uma cidade modelo para o turismo, precisamos de infra-estrutura. Temos que perceber que o turista não é apenas aquele que vem do exterior, turista é todo aquele que vem a nossa cidade com fins de passeio e a trabalho, e ai se enquadram muitas pessoas que moram ate mesmo em cidades proxima a Santarém.