Pensata

O papel da mídia na sociedade

Samuel Lima (*)


Para refletir, brevemente, sobre o assunto, vou utilizar o ainda inconcluso processo eleitoral. Em recente artigo, publicado no Observatório da Imprensa o jornalista Mauro Malin faz um enorme esforço de retórica para desqualificar todos quantos têm discutido publicamente, com alguma ênfase, o papel que a mídia brasileira joga nas eleições 2006, seus descaminhos, parcialidade, protagonismo, tentativas de manipulação.

Seu raciocínio parte de uma “premissa-embuste”: de que a mídia é “uma instância de poder não eleita”. Por isso, pode se comportar naturalmente como um “partido político”, à revelia da sociedade, acima do bem e do mal. Ora, é exatamente por ser um serviço público que a mídia deveria pautar seu comportamento por outros valores, para além do negócio: democracia, equilíbrio de enquadramento, honestidade e pluralidade de fontes.

Num rápido olhar é possível afirmar que a imprensa – como instituição – passou longe, muito longe disso. À exceção da revista CartaCapital, que declarou seu “voto” em Lula, a grande mídia impressa e eletrônica, em geral, fez uma opção de “produção de sentidos” de via única, sempre a alimentar a imagem de uma candidatura na corrida presidencial, no caso a do ex-governador Geraldo Alckmin.

Isto é fato. Os dados publicados pelo Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública sobre a cobertura das eleições 2006 atestam isso (http://doxa.iuperj.br). Especialmente após a divulgação do dossiê, o percentual de citações negativas de Lula bateu a casa dos 80% nos principais meios de comunicação impressa do país. Mera coincidência?

Independentemente das possíveis desventuras, equívocos e outras “lambanças” dos petistas, não lembro, desde as eleições de 1989, de ter presenciado algo similar. A utilização das fotos ilegalmente obtidas por uma fonte interessadíssima no jogo (como relatou o jornalista Luiz Carlos Azenha, em seu blog), na “boca” da eleição se revelou uma arma mortal na trama urdida pelo “dossiegate”: cobertura embalada pelo combate ao candidato-presidente, “vitaminada” pela sua ausência no debate da TV Globo e, no ato final, a divulgação das fotos repassadas por uma fonte “credenciada”.

Contaminação do conteúdo

É inegável que o conteúdo noticioso da imprensa esteve e está cada vez mais “contaminado” por sua escolha política. A revista Veja é um exemplo inconteste: há tempos vem achincalhando, inventando factóides, defendendo sozinha o “impeachment” de Lula, produzindo capas grosseiras – que não faria a outro presidente de origem social diferente.

Há um clima geral de linchamento de reputações, a partir de importantes espaços da mídia impressa e eletrônica do país. Colunistas políticos e econômicos tem atuado como linha de frente na tentativa desesperada de transformar suas opiniões privadas em “opinião pública” (do público).

O que mais chama a atenção é a falta de apuração, do esforço de reportagem, da prática do bom jornalismo, nos grandes veículos de comunicação. A mídia brasileira se apequenou e vive, em regra geral, das “migalhas” dos investigadores das CPIs, fontes oficiais sempre ligadas a esquemas e projetos de poder muito específicos.

Quando o jornalismo cede as tentações do poder de plantão ou de “autoridades públicas” movidas por extrema vaidade e/ou interesses mesquinhos é a sociedade que perde, sempre!

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(*) Jornalista, doutor em mídia e teoria do conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina. Docente e coordenador do curso de jornalismo do Instituto Bom Jesus/IELUSC, em Joinville (SC).

Comentários

Anônimo disse…
É só assistir a esse vídeo pra saber uma diferença do que a grande mídia poderia mostrar e não mostra.
Veja o homem que se diz mais preparado para governar o Brasil...

http://www.youtube.com/watch?v=vsRynm18_Eg
Anônimo disse…
É só assistir esse vídeo pra perceber uma diferença entre o que a mídia poderia divulgar e não faz.
Veja a postura do Alkimim, o homem que se diz mais preparado para governar o Brasil...
http://www.youtube.com/watch?v=vsRynm18_Eg
Anônimo disse…
Samuel, fico feliz de ver um texto seu aqui pelo Blog. Santarém precisa de mais participação de seus ilustres filhos como voce (e quase toda a família)nos debates locais. Volte sempre!
Parabéns pelo artigo.