O ecochato


Jubal Cabral Filho (*)

E o que é um ecochato?

Entendo que o ecochato como aquela pessoa que vive falando, sem parar, em defesa do meio ambiente em todas as situações: no ar, na água e no solo, independente de estar ou não com a razão. Sempre vai estar dando uma opinião conservadora sobre o assunto. E às vezes atrapalha e comete um desserviço ao meio ambiente. Eu penso que o ecochato é um amador oportunista.

Na verdade, estes “nerd” são apenas pessoas que percebem que não há separação entre o homem e o ambiente e que preservar a natureza é melhor para todos, inclusive para elas. São pessoas que buscam a harmonia entre a sua satisfação, a preservação do ambiente e o bem-estar social.

É claro que este elemento tem uma preocupação muito grande com o seu e o nosso bem-estar. Mas precisa exagerar?

Escolher as verduras que não contêm agrotóxicos, lavar as mãos e fechar a torneira enquanto as ensaboa, não lavar o carro todos os dias, selecionar o lixo separando o orgânico do reciclável e enviando para a coleta seletiva, e tantas outras ações simples e diárias, que colaboram para preservar o ambiente em que vivemos não é muita caretice?

Não, esta é a opção correta para todos nós. Agora, quando encontramos um chato que se preocupa com a poda de uma mangueira que está para acabar com a energia de milhares de outros ou com o curió do vizinho que está lhe perturbando, aí não dá para agüentar mais. E gritamos logo: “Vai te catar, ecochato!”.

Os verdadeiros problemas ambientais, àqueles referentes a queimadas, tráfico de lenha e carvão, desmatamento de mata ciliar, contaminação dos rios, pesca predatória e ruído infernal do trânsito pode esperar que, primeiramente, sejam resolvidas essas minúcias.

O Brasil tem leis e regulamentos aos borbotões sobre o meio ambiente. Determina o que fazer com o nosso quintal (o Pará) através de novas unidades de conservação, parques ambientais e florestas nacionais.

Todos acham ruim, porque vão tirando a “boquinha” com que se acostumaram há décadas: os madeireiros, os fazendeiros, os garimpeiros, os consultores e os políticos. Os madeireiros porque degradavam as terras ao redor para arrancar um “pé de pau”; os fazendeiros porque devastavam as florestas para colocar bois no pasto, os garimpeiros “desmontam” morros e áreas verdes para tirar os minérios do subsolo, os consultores deixam de prestar serviços e os políticos perdem votos porque não conhecem nada do assunto.

E todos perdem.

O manejo da área trabalhada por qualquer pessoa que utilize os recursos naturais deveria ser a prioridade. Inclusive para ensinar, na prática ao ecochato amador e oportunista, que um casal de periquitos em extinção não pode ser mais importante que a vida humana. Na verdade, acredito que a legislação é boa e é extremista.

Ou será que alguém acredita que se consegue preservar 80% da extensão da propriedade porque a lei o determina? Ou que os órgãos públicos realmente colaboram com o meio ambiente reciclando e reutilizando os recursos aproveitáveis? Ou que os analistas ambientais de todos os órgãos federais, estaduais e municipais serão os primeiros a não jogar lixo no chão, fechar a torneira e selecionar o lixo enquanto os outros não estiverem olhando?

E todos fecham um olho para dizer que a nossa legislação é a melhor do mundo em matéria de meio ambiente. E com o outro fingem não ver nada que lhes seja incomodo.

O professor Marc Dourojeanni mostra que “conservar, aproveitar razoavelmente os recursos naturais, deixar opções para o futuro, não será jamais o resultado do amadorismo e da espontaneidade. Isso requer pesquisa científica, desenvolvimento e teste de tecnologias, estudos sócio-econômicos sérios e a constatação de fatos, legislação baseada na ciência e nos avanços tecnológicos e, claro, na realidade nacional, regional ou local, ou seja, em soluções que são social e economicamente possíveis, ainda que nem sempre perfeitas e nem as mais avançadas do mundo, que ninguém interessa cumprir. Os conceitos de ecologia e meio ambiente obtiveram, sem dúvida, muita simpatia e apoio popular. Porém, teriam obtido muito mais apoio, mais duradouro e consistente, se fossem aplicados com mais sensatez e moderação, eliminando ou pelo menos limitando suas contradições e as aberrações”.

O trato com o meio ambiente é muito sério para termos amadores e oportunistas se imiscuindo e atrapalhando. Nós podemos deixar um local agradável para as futuras gerações, mas também podemos torná-lo extremamente insustentável.

Precisamos aprender mais e sempre passar para o próximo mais próximo a melhor forma de resolver a situação.

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* Santareno, é geólogo e consultor ambiental.

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