Leíria direto da Índia II

O blog sugeriu e a radialista Leíria Rodrigues topou sem titubear.

Por todo o tempo que ela ficar na cidade de Bhopal (Índia), onde participa de um curso, narrará aos leitores as suas impressões deste país.

Eis o seu segundo relato:

Quem conhece a Índia como o lugar mais exótico do mundo está enganado… sim, vamos encontrar incensos, velas, cores, ritmos e mistérios, mas por detrás dos palácios e ruínas se esconde um povo mais que exótico.

Em Bhopal, distante cerca de 700 km da capital Nova Delli, conhecida pela tragédia que marcou a década de 80, quando uma indústria de pesticida violentamente, por descuido na segurança, deixou vazar um gás altamente letal, matando milhares de pessoas – o maior desastre químico do mundo – é o palco de um dos maiores seminários internacionais de lideranças que lutam pelo desenvolvimento sustentável do planeta.


Mesmo ainda vivendo os pesadelos daquela época, os indianos são conhecidos pela alegria e hospitalidade. Uma cultura fascinante, carregada de simbologias.


A maioria cultua o hinduísmo, muitos mulçumanos e poucos cristãos.

A vida em Bhopal segue com o curso dos lagos, que cercam quase toda a cidade, ainda sofrendo pelo alto poder de destruição causado pelo gás.


Imaginem a alimentação dos indianos, que não comem carne de vaca, por a considerarem sagrada. O peixe e a água são consumidos com receio pelos turistas.

Aqui o tempo corre… no Brasil é dia, quando aqui a noite cai. Quando o sol abre, castiga o solo e as peles que quase ninguém vê. As ruas agitam-se com as feiras, barracas e casas, que mais parecem prédios abandonados.


Não tem sinais de trânsito (o Levi não ia gostar nada nada!!! rs), nem mão direita ou esquerda, e o impressionante: ainda não vi nenhum acidente no trânsito. As buzinas se comunicam. Prudência? Ou muita solidariedade!

Os carros mais usados pela população são os "tuc tuc", uma espécie de carrinho com três rodinhas apenas, que carregam três pessoas e fazem o maior sucesso entre os turistas.


Eu mesma experimentei e achei o máximo! E a agitação das pessoas por entre as ruas, cheias de lambretas, vacas, carneiros…Sem contar que os "tuc tuc" são paramentados com flores, incensos, cores e música indiana.

No comércio, os homens dominam. Quase não se ver uma mulher, nem nas lojas de tecidos que invadem os becos e vielas.


O cheiro das especiarias – a pimenta – exala na brisa pouca.

As mulheres ainda se rendem aos preceitos da religião e das castas (os sistemas que dividem a populacão em situação de classe), mas engrossam as estatísticas nas academias e no mundo das letras.


Mesmo assim, as indianas se vestem com muita roupa, tecidos de seda, as mais ricas, escondendo o colo, as pernas e os ombros.

O sinal no centro da testa, de cor vermelha, marca aquelas que são casadas.

As criançaas brincam pelas ruas com os carneiros como se fossem brinquedos. Ainda não vi praças ou qualquer diversão para elas. Muitas escolas e campos abertos. Mas o sol que queima logo cedo talvez as espantem.


Futebol não é costume, mas falei um dia desses com algumas crianças o nome do Ronaldinho…elas riram e falaram “Brazile”. Xuxa… ainda bem que nao conhecem!

Nos rostos cansados dos idosos marcados pelo fatídico dia 3 de dezembro de 1984, um sorriso de paz e esperança. São alegres e ficam muito felizes quando reparam que tem gente estranha na área. Adoram chamar a atenção…pedindo para serem fotogrados.


No mais, o seminário corre discutindo como as lideranças podem lutar por melhores dias e condições dignas para o planeta terra e sua gente.


Continuamos visitando lugares afetados pelo desastre, mas também visitamos lugares lindos, como o Parque Nacional dos Tigres, museus, mosteiros e palácios.


A Índia…esconde muito mais que mistérios…beleza e uma gente que luta e acredita que o poder estar nas pessoas e não nos que elas podem ter.


Bhopal, 23 de fevereiro de 2006

Comentários

Cléa Rathbun disse…
Estou encantada com este relato. Fecho os olhos e imagino passear com os teus olhos pela Índia. Sei que é para muito além do que vai a minha imaginaçao, enriquecida por gravuras e textos já lidos e filmes já assistidos e agora mais este texto, tecido com sensibilidade e regado com o argumento imbatível da experiência. Mais do que saber que uma flor é cheirosa é, sem dúvida, sentir o seu perfume. A Índia é um dos países que exercem sobre mim um fascínio quase palpável. O povo me evoca simpatia e compaixão também. Ah, como eu queria estar aí... Abraços, e parabéns pelo texto.