Nua Pátria Amada

Olhar atento, Juvêncio de Arruda, publicitário, escreve sobre o desfile pátrio de hoje em Belém:

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O desfile do Dia da Raça está passando embaixo das minhas janelas. Há pelo menos quarenta anos não o assistia.

Muitas mudanças: balizas, evoluções das bandas, roupas despropositadamente quentes, um apresentador que não pára de falar.

O tema deste ano é a paz. Em todos os cartazes, o apelo pelo maior bem, que hoje ninguém tem. Principalmente uma jovem de pouco mais de vinte anos, morena, magra, com uma bandeirinha do Brasil nas mãos,andando calmamente pelo meio do desfile e das pessoas... completamente nua.

Assim como na fábula do rei, todos fingem que não veem.

Ela passa pelos policiais, pelos paramédicos do 192, pelos bombeiros... ela passa pela consciência de todo mundo.

Curiosa raça, essa nossa.

Comentários

Jota Ninos disse…
(Verso sobre prosa de Juvêncio)

Dia da Farsa

Que faz essa massa
que passa
sob a janela do poeta?

A meta é a paz
no cartaz
que apraz
quem Pátria faz
na bandeira que traz!

A moça faz graça
na praça
desliza a baliza
e pisa na língua do narrador...

... que não narra a dor
de outra moça (devassa?)
nua como uma flor
porém, vestida de dor

e que ninguém nota
pois sua nota destoa
do resto do show
sua bandeira furou...

É Dia da Farsa,
na praça!

O olhar do poeta
vê além da roupa
a nudez de quem tem roupa

Porque a filha da Pátria
não tem Pátria, não tem Raça,
e não dá bandeira

Deixemos a massa em paz....

...porque assim lhe apraz


Jota Ninos